Sand Land

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Todo mundo sabe que com o sucesso dos mangás e animes em terras brasileiras já há alguns anos, era apenas uma questão de tempo até que as obras “alternativas” e menos conhecidas dos grandes autores orientais desembarcassem por aqui. Assim, foi com extrema satisfação que acompanhei o anúncio da Editora Conrad sobre o lançamento do ótimo Sand Land de Akira Toriyama (criador de Dragon Ball).

Diferentemente do famoso Dragon Ball ou da série cult Dr. Slump, Sand Land faz parte de uma série de curtas histórias do autor onde toda uma saga é contada em apenas um mangá, sendo que cada roteiro tem seu próprio universo e núcleo de personagens sem se aprofundar muito em nenhum deles mas também dentro das características (e complexidade) que os gibis japoneses exigem.

Mesmo que o criador seja o mesmo, nenhum personagem famoso das outras séries aparece por aqui, nem mesmo em uma pontinha, o que pode desapontar os fãs xiitas, mas não impede que nos identifiquemos rapidamente com todo esse novo universo criado (que a bem da verdade, em determinados momentos, lembra a famosa série de RPG Dragon Quest, o que não é de se estranhar já que Toriyama faz parte da equipe criativa da série desde o Nintendinho).

Em Sand Land temos a história focada em um futuro apocalíptico não muito distante, bem ao estilo Mad Max, onde a ganância dos seres humanos falou mais alto após uma série de guerras inúteis e uma pequena garrafa de água é disputada a peso de ouro entre homens e demônios que vivem em meio a um deserto sem fim. O problema é que toda água potável restante está concentrada nas mãos do impiedoso rei do lugar, situação que não agrada nem ao mundo dos homens e nem ao reino do capeta (literalmente falando).

Mas toda essa situação pode mudar quando um homem busca alianças com os temidos demônios para enfrentar o exército real e partir atrás de uma misteriosa fonte de água mineral que jorra no meio do deserto podendo revelar segredos muito bem guardados.

Sem revelar nada de fundamental, essa é a premissa básica encontrada neste mangá que nos leva à jornada entre três companheiros atrás da tal fonte de água: Beelzebub (o esperto príncipe dos diabos), Thief (como o próprio nome diz, um ladrão e também mentor do príncipe) e Lao (o ser humano cheio de mistérios do passado, que busca as alianças com o submundo para tentar salvar o planeta).

Os traços são típicos de Toriyama, com personagens bem definidos e caricatos, diferente da linha mais realista que ele adotou em Dragon Ball Z e mais próximos do começo de carreira, quando ainda publicava suas histórias alternativas na famosa revista japonesa Shonen Jump no início dos anos 80.

Com certeza, pensando em uma estratégia de mercado, o maior público alvo deste mangá serão os fãs da saga de Goku & cia, mas já aviso que se você espera porrada e magias absurdas, essa história não é para o seu bico. Lógico que temos sim muita ação e algumas reviravoltas (nem tanto quanto se imagina), mas a verdade é que Sand Land é muito simples, até mesmo ingênuo, mas isso não tira seus méritos, pois é justamente na sutileza da narrativa e no final feliz absolutamente previsível que residem o seu maior charme. É um mangá para ler de uma vez só, de cabo a rabo, com um largo sorriso de orelha a orelha. Uma historinha bem digerível, que consegue agradar tanto a uma criança quanto a um adulto (as famosas piadas sexuais também aparecem aqui), sem menosprezar sua inteligência e passando uma mensagem muito legal de respeito às diferenças alheias e cuidados com nosso planetinha.

Para os mais conservadores, pode ser um pouco difícil encarar algumas falas de Lao, onde ele se surpreende com a benevolência do filho do cramunhão e dispara comentários do tipo “você tem uma alma melhor do que muitos seres humanos que conheço por aí”, mas quem já é velho de guerra dos trabalhos de Akira, sabe que ele adora brincar justamente com todos esses dogmas religiosos, basta se lembrar do adorável personagem Mr. Satan em Dragon Ball. Portanto, deixe os preconceitos de lado, porque é justamente esse o convite do autor quando cutuca as feridas ocidentais.

Sendo ou não fã de Dragon Ball ou algum outro trabalho de Akira Toriyama, dê uma chance a Sand Land e com certeza você irá se surpreender. Sem dúvida, uma das histórias mais sensíveis e inteligentes dos últimos anos nos quadrinhos japoneses.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
sand-landPaís: Japão<br> Ano: 2000 (Japão) / Abril de 2006 no Brasil<br> Autor: Akira Toriyama<br> Editora: Conrad<br>