El Shaddai Ascension of the Metatron é um jogo lançado em 2011 para Xbox 360 e PS3 que me intrigou muito na época. Eu joguei um demo e gostei dele. Porém, na época tinha muitos jogos em gêneros que eu gostava, e eu comprava os games, então precisava priorizar. A geração terminou, e eu nunca cheguei a jogar. Em 2021, saiu um HD Remaster para Windows, com lançamento para consoles previsto para “breve”. Três anos depois, finalmente ele chega APENAS para Nintendo Switch. E esta é a versão da qual vou falar hoje.
REVIEW EL SHADDAI ASCENSION OF THE METATRON HD REMASTER
El Shaddai é um jogo de ação como simplesmente não existe mais em 2024. Com inspirações claras de God of War antigo e Devil May Cry, o game foca em andar por caminhos totalmente lineares e encher inimigos e chefes de porrada. Não há absolutamente nada de RPG nem de mundo aberto. A porradaria só dá respiro em partes de plataforma, muitas delas em 2D, com estéticas totalmente diferentes.
Na impossibilidade de competir com jogos de ação cheios da grana, como os que o influenciaram, El Shaddai apela para uma estética que hoje dá a ele cara de game indie. Ao mesmo tempo, por causa disso o visual não envelheceu nada. Os cenários são quase abstratos, com cores supersaturadas e detalhes pouco definidos. As coisas menos abstratas são os personagens, e mesmo estes são cartunescos e altamente estilizados.
É INCRÍVEL QUE RODE TÃO MAL
Isso talvez seja minha principal reclamação do jogo. Temos aqui um game de 2011 remasterizado e relançado para um console que em 2024 é atual (ainda que um tanto tecnologicamente defasado). Acho um tanto ofensivo que um jogo tão velho relançado em 2024, e com gráficos tão pouco detalhados, tenha um modo resolução e um modo performance. E mais ainda com o fato de que nenhum dos dois roda bem.
Como os gráficos são todos esfumaçados e cheios de efeitos de pós-produção, a resolução não é algo vital. Porém nem em seu modo performance ele roda liso. E mesmo no modo resolução, dá sinais de efeito de reconstrução. El Shaddai é até esteticamente bonito, especialmente pelo fato de que nenhum outro jogo parece com ele visualmente. Porém, é imperdoável que um jogo de 2011 ainda rode dessa forma em 2024, depois de remasterizado, especialmente.
O GAMEPLAY DE EL SHADDAI ASCENSION OF THE METATRON
Felizmente, o gameplay é mais legal do que parece. Há três armas, que são usadas pelos inimigos e podem ser roubadas deles sempre que ficam atortoados. Uma vez que você roube uma, fica preso nela até roubar outra. As armas têm um esquema pedra/papel/tesoura, com cada uma sendo mais apropriada contra outras.
Há apenas um botão para bater, mas este sistema de alternar a toda hora entre as armas coloca muito mais profundidade do que parece. E muitas vezes você rouba a arma não para ter vantagem contra os outros inimigos, mas simplesmente para deixar o algoz atual desarmado – e, portanto, em desvantagem. As armas também vão ficando sujas e perdendo eficácia conforme você as usa, então é necessário limpá-las, o que é basicamente uma versão do reload de um game de tiro adaptado para um hack and slash.
PULA PRA CÁ, PULA PRA LÁ
As partes de plataforma se alternam entre algumas que são totalmente 2D, que são praticamente inofensivas, e as que são full 3D. Estas são um tanto irritantes, porque o jogo simplesmente não dá nenhuma noção de profundidade. É extremamente comum você achar que está pulando no lugar certo e cair num buraco.
Tirando isso, felizmente o jogo não é metido a besta e difícil pra burro, nem na sua dificuldade normal. É um game de 2011, afinal de contas, quando os jogos eram feitos para serem terminados, antes de a From Software mudar a lógica da indústria.
Ele não é especialmente fácil, mas é possível ressuscitar ao morrer se você martelar os botões antes da tela ficar branca. A cada morte vai ficando mais difícil ressuscitar, mas isso possibilita que você se recupere no meio da batalha com facilidade pelo menos três ou quatro vezes. A contrapartida é que, provavelmente por causa disso, as batalhas com os chefes são extremamente longas, e como El Shaddai não usa hud, você nunca sabe quanto falta para vencer, ou mesmo se está fazendo progresso. Isso porque alguns chefes só tomam dano em momentos específicos.
HEADS-UP DISPLAY
El Shaddai não usa huds, o que o torna um tanto obtuso. Você pode deduzir quanto de vida o herói ou os inimigos ainda têm pela quantidade de armadura que estão usando. Para o protagonista, é bom, mas nem todo inimigo usa armadura. Coisas como o tradicional modo berzerk são mostrados com foguinho nas armas. Todas as informações que o jogador pode usar estão no jogo desta forma, e nem todas são muito claras. Mesmo terminando a campanha, eu sinceramente não consegui sacar contra quem é melhor usar cada arma, e não encontrei guias que me dessem esta resposta.
Eu gostaria de dizer que pelo foco em ser um jogo curto e linear, El Shaddai deixa God of War Ragnarok no chinelo. Mas não, isso não é verdade. God of War II deixa God of War Ragnarok no chinelo por este motivo. El Shaddai é mais focado do que games recentes, mas a performance fraca e a falta de clareza em informações torna o jogo inferior a seus contemporâneos.
Ainda assim, para quem sente falta de jogos de ação mais simples, sem RPG, sem loot, sem mundo aberto, jogar este relançamento é como ser transportado para uma época em que os videogames eram menos interessados em serem lojas de cosméticos, e mais interessados em serem videogames. Bons tempos.