Em tempos de mundo globalizado, as características que definem uma identidade nacional ficam cada vez mais elásticas. Sobretudo na França, um dos principais centros migratórios da Europa. É essa maior diversidade de culturas convivendo juntas o tema de Que Mal Eu Fiz a Deus?.
Claude (Christian Clavier, o Asterix dos dois primeiros filmes do irredutível gaulês) e Marie são um casal francês conservador e católico. No entanto, sua visão idealizada de família perfeita começa a ruir quando, de suas quatro filhas, uma se casa com um judeu, uma com um muçulmano e outra com um chinês.
Não bastasse os inúmeros choques e gafes culturais, as discussões geradas por noções pré-concebidas e estereótipos dessas culturas, que tornam a convivência entre todos eles pra lá de complicada, tudo fica ainda mais difícil quando a quarta filha, a última esperança dos pais, anuncia seu noivado com um negro de origem marfinense.
Apesar do tema espinhoso, essa comédia consegue passear com desenvoltura por esses tópicos e deixar tudo bem engraçado e leve, apresentando também o ponto de vista de cada personagem. E os diálogos e as discussões, cheios de provocações e espetadas, são bem legais.
Também diverte mostrar o quanto, apesar das diferenças, todos são parecidos, até em seus preconceitos. É o caso do patriarca da família do noivo marfinense, que não aprova a futura nora por ela ser branca e não ser africana. Esse cara gera algumas das cenas mais engraçadas do filme, especialmente quando interage com Claude.
Embora seja engraçada e bem divertida, também é aquele tipo de comédia sem grandes conflitos, mesmo com um tema espinhudo desses, onde tudo acaba se resolvendo com um diálogo, rumando para o típico final hiperultramegafeliz onde todo mundo se entende e vira amiguinho.
Tudo bem, pode até ser a intenção do filme tratar tudo de forma leve e inofensiva, mas sem dúvida poderia render muito mais se feito de forma mais ácida e crítica. Tinha potencial para ser melhor do que o produto entregue, ainda que tal produto final tenha, de fato, resultado em algo bom.
Este aqui é mais um daqueles filmes que assisti sem saber nada a respeito e acabei tendo uma agradável surpresa e me divertido a contento com ele. Se você gosta de comédias ao estilo “um estranho no ninho”, então certamente vale a pena pegar uma sessão desta.