Olha só que legal: esse é o meu primeiro texto no DELFOS e você já tem um bom motivo pra não gostar de mim. Eu estou me propondo a escrever vários parágrafos com o único objetivo de “falar mal” do console que 9,8 entre 10 (isso significa que eu sou 0,2?) jogadores de videogame no Brasil estão esperando com a respiração presa, as mãos em concha e um olhar brilhante e sonhador (provavelmente imaginando o quão perfeito o Van Nistelrooy – ou seja lá como se escreve o nome desse cara – vai estar perfeito no Winning Eleven do PS3).
Vamos supor que existam três grupos de fãs da Sony, e que estes sejam os seguintes:
A) os que vão simplesmente dizer “meh” e visitar outra página;
B) os que vão querer ler até o fim só pra depois mostrar pros amigos virtuais nos fórums da vida e dizer “como esse cara é um babaca”;
C) os que não perdem uma boa discussão saudável com argumentos razoáveis e racionais.
Se você ainda está lendo isso, eu posso concluir que você pertence ao B ou ao C. Caso pertença ao grupo B, seja bem-vindo. Caso pertença ao Grupo C, seja bem-vindo também.
Então vamos direto ao ponto: o PS3 é (será) um bom videogame. Não, um ótimo videogame. Mas não esperem por um sucesso semelhante ao do seu predecessor, esse pretinho que muito provavelmente está aí perto da sua TV. Na verdade, nem espere que ele seja o líder dessa próxima geração, assim como o PS2 o foi. Sim, amiguinho delfonauta, se esse humilde digitador de pensamentos estiver minimamente certo (e logo ele dará argumentos para provar o seu ponto de vista), os US$600,00 mais importação, mais impostos, mais risco de contrabando que você (quem sabe) gastará com o seu PS3 daqui a algumas semanas não valerão US$2000,00 (pois é, esses acréscimos são caros). Não valerão nem mesmo os US$600,00 caso você tenha alguém que possa trazer para você direto dos States ou do Japão.
Para começar, o argumento mais clássico: Blu-Ray. Alguém me explica que diabos a Sony tem na cabeça para lançar um videogame que se baseia completamente no sucesso de uma mídia que ainda nem foi devidamente apresentada ao público? Se o Blu-Ray falhar (e as chances disso acontecer não são pequenas), o PS3 vai ter, com muita sorte, o mesmo “sucesso” que o PSP (que também adotou uma mídia nova, o UMD) vem experimentando. Quem tem, gosta, e ele até agrada a um certo perfil de jogador, mas as massas estão rindo à toa com um Nintendo DS de cada cor.
Você, do grupo C, pode até argumentar (já que o grupo B provavelmente só vai xingar), dizendo que quando o PS2 foi lançado, o DVD também era uma incógnita. Mas os tempos são outros, meu camaradinha. O DVD era o sucessor do CD, e havia muitas coisas que o CD não podia fazer. O DVD era um salto necessário, se quiséssemos ter coisas básicas como cenários mais interativos, que constituem um fator importantíssimo da jogabilidade (e, por conseqüência, da diversão). O que faremos com o espaço extra que o Blu-Ray vai nos dar? Sim, algumas empresas farão coisas extraordinárias, que deixarão todos nós babando, mas a maioria vai enfiar algumas animações em alta definição entre as fases, um making of de vários minutos e voilá. Os jogos em si, que são o que importa, vão continuar com os mesmos defeitos que tanto nos incomodaram nesta geração.
E por falar em empresas, vocês ficaram sabendo do que a Square-Enix falou há algum tempo atrás? Ela disse que ia dar suporte ao PS3, “mas não muito”. Porque eles estão interessados no sucesso do PS3, mas não em que ele se torne O tremendão (tem que usar essa palavra para ser admitido no DELFOS, né?) dessa próxima geração, assim como o PS2 foi. Só pra lembrar, a Square-Enix é dona simplesmente das séries Final Fantasy e Kingdom Hearts, dois dos maiores blockbusters da Sony.
E a julgar pela linha de lançamento do Wii e dos jogos que já saíram ou estão em produção para o Xbox 360, outras megacorporações dos games como a EA (maior desenvolvedora do mundo) e Ubisoft (correndo atrás da EA) pensam da mesma forma. O PS2 foi o mais popular da sua geração porque era onde a maioria dos grandes games estavam. Mas não espere por este mesmo trunfo no PS3. A não ser que você pense que os únicos “grandes games” sejam Metal Gear Solid e Gran Turismo.
E a concorrência, hein? Xbox e GameCube não viram nem a poeira do PS2 na geração passada (atual), e isso tem um motivo: a Microsoft e a Nintendo tomaram um monte de decisões erradas. O Xbox era um videogame estreante de uma empresa estreante (pelo menos nessa área), mas que tinha o equivalente à fortuna de cinco Tios Patinhas para investir. Na minha opinião, o Xbox não foi nada além de um “vamos ver no que dá”. Um videogame lançado como um teste, só para que os aliens da Microsoft pudessem anotar tudo que pudesse ser melhorado e implementar em um próximo console, dessa vez pra valer. E esse “console pra valer” é o Xbox 360. O primeiro Xbox era grande, MUITO grande, e isso era ruim. O 360 é grande, mas é bonito, MUITO bonito, e isso é bom. E mesmo assim, é menor que o primeiro Xbox. E o controle do primeiro era grande e desengonçado, e mesmo quando lançaram um modelo menor, continuava devendo em relação aos outros controles. O controle do 360 é espetacular. Bonito, confortável, com botões suficientes, mas não demais. Uma delícia. Você já jogou num controle de Xbox 360? É outra história, delfonauta.
Vale lembrar que o Sixaxis (bonito esse nome, hein? Paguei o maior pau), o controle do PS3, está parado no tempo desde 1998, quando a Nintendo lançou o Nintendo 64, com alavanca analógica, e a Sony lançou o Dual Shock só para entrar na onda. Na verdade, ele retrocedeu, se contarmos que ele perdeu a função vibratória que utiliza desde então. “Ah, tio, mas tu se esqueceu que vai ter sensor de movimento!”. Vai, filhote. Usando a mesma tecnologia que o game Kirby Tilt n’ Tumble, do GameBoy Color, lançado em 23 de agosto de 2000, usava. Pode pesquisar.
Voltando a falar da concorrência, eu ainda não falei do Wii. Com o GameCube, a Nintendo parecia que ainda estava sofrendo da incredulidade que tomou conta da empresa desde que o primeiro PlayStation chutou a bunda do Nintendo 64. Algo do tipo “Como assim? Nós somos a Nintendo! A Nintendo, mano! A empresa que reergueu os videogames do buraco com o NES! A gente não pode estar perdendo pra esses novatos!”.
A Big N ainda acreditava que somente a tradição do nome e as suas franquias exclusivas (Mario, Zelda, Pokémon, etc) seriam suficientes pra liderar. Que logo as pessoas iriam enjoar do PS e iriam voltar, contentes, para a empresa que ensinou todo mundo a jogar, com Super Mario 3. Paralelamente a isso, a empresa tinha o GameBoy, que sempre foi fonte de sustento inegável e única razão para a Nintendo não ter ido à falência com os fracassos do Nintendo 64 e GameCube. Mas se antes a Big N tinha um sólido e lucrativo portátil, agora, com o Nintendo DS, ela tem um fenômeno. Cultural e de vendas. Não é exagero nenhum afirmar que a Nintendo está nadando em verdinhas unicamente por causa do sucesso absurdo do Nintendo DS. E o que se faz com muito dinheiro? Investe-se PESADO no que ainda não está vingando. No caso, um console de mesa. No caso, o Wii. No caso, o videogame que vai provavelmente desbancar o PS3.
E o dinheiro investido no Wii não é, nem de longe, a única razão para acreditar no sucesso dele. Na verdade, é a menor delas. A verdadeira razão para acreditar no Wii é que ele representa uma total e completa mudança de mentalidade da Nintendo. O Wii não é a quinta geração de videogames da Nintendo. Ele é o primeiro videogame da geração “pós-Wii” da Nintendo. É um divisor de águas. A Nintendo finalmente reconheceu que depende – e muito – das outras desenvolvedoras, que não vai conseguir sobreviver apenas com games fofos e felizes feitos por ela própria (por mais que estes sejam jogos estupendos). Diabos, o presidente da Nintendo of America até revelou há algum tempo que estava conversando com a Take-Two para trazer os seus jogos para o Wii! Estamos falando da empresa que deu ao mundo o GTA, o primeiro game que vem à mente quando se pensa em jogos violentos (e populares). Isso sem contar Sadness, um título em desenvolvimento exclusivo para o Wii, que vai contar uma história de terror e sobrevivência, totalmente em preto-e-branco e ambientado na Europa antiga. Se games como esses não demonstram uma mudança radical na mentalidade da empresa mais quadrada da indústria dos games, eu não sei o que mais pode significar. Definitivamente, o Wii é um adversário de muito peso, e a Sony vai ter que rebolar para conseguir manter o seu trono.
E um pouquinho de matemática, para terminar:
PlayStation 3 = U$599,00
Xbox 360 = U$399,00
Wii = U$250,00
Você prefere apenas um PS3 ou, por mais 50 doletas, um Xbox 360 E um Wii? Eu prefiro dois a um.
Concluindo e resumindo, eu não acho o PS3 um videogame ruim. Não totalmente. Não gostaria que ele fosse o Dreamcast da Sony, provocando a sua falência ou coisa que o valha. Acho que ele é necessário para o crescimento da indústria, agrada muitos jogadores e atende a um determinado perfil. Mas eu realmente acho que ele vai fracassar. E esse dito fracasso pode ser esperado por duas simples razões: primeiro, ele não é um videogame tão bom, tão seguro de si, tão inspirado e tão adequado aos tempos dele quanto os seus predecessores eram. Depois, os seus concorrentes estão exponencialmente melhores, mais seguros de si, mais inspirados e mais adequados aos seus tempos do que estiveram antes. Com uma concorrência mais acirrada e um videogame não adequado, esse circo vai pegar fogo. E eu estarei assistindo da primeira fila. E jogando Wii, é claro.