Normalmente, a graça de uma prequência é ver o passado de personagens conhecidos ou curtir as referências à obra original. Neste ponto, Prometheus não é uma prequência. Suas relações com a franquia Aliens são sutis na maior parte do tempo e o filme funciona como uma obra independente dos anteriores. Na verdade, eu diria que Prometheus é até melhor do que o Alien original.
Aqui conhecemos uma equipe de cientistas que viaja para explorar um planeta extremamente distante, onde eles acreditam que vivem/viveram os seres que criaram o ser humano. Eles apelidam esses seres de “engenheiros”. Interessante, não? E interessante é de fato a palavra-chave aqui. A primeira metade de Prometheus é uma das obras mais intrigantes e interessantes que eu já tive o prazer de assistir na tela grande.
ELO PERDIDO
Eu costumo dizer que ficção científica não é um gênero, mas uma ambientação. Assim, uma ficção científica pode ser terror (como o primeiro Alien), comédia (como O Guia do Mochileiro das Galáxias) ou qualquer outro gênero que o autor desejar.
Pois Prometheus quase calou minha boca. Isso porque essa primeira metade não pode ser descrita de qualquer outra forma que não “ficção científica em sua forma mais pura”. Nós acompanhamos os cientistas enquanto eles caminham pelo planeta, exploram seus mistérios e procuram resquícios da civilização dos “engenheiros”.
Sua narrativa é lenta, muitas vezes parando por minutos apenas para nos mostrar os belíssimos cenários, ao som de uma bela música e efeitos sonoros muito bem trabalhados. Este é um filme claramente pensado para ser apreciado em uma sala Imax 3D, então se tiver a possibilidade, pode comprar o ingresso sem medo.
A cada descoberta que a equipe faz, você vibra junto. A cada cenário desbravado, você fica tão surpreso e empolgado quanto eles. Eu não passava mais de cinco minutos sem pensar empolgado “cara, que legal!”.
O planeta, aliás, é um espetáculo à parte. Suficientemente parecido com a Terra para deixar o espectador maravilhado, mas diferente o suficiente para ser inquietante. Assistir a Prometheus é como fazer uma viagem, e quase tão bom quanto.
UNCANNY VALLEY
As atuações também são fantásticas, com destaque especial para o jovem Magneto, Michael Fassbender. Seu personagem aqui é um androide e, como é tradição na série, ele tem a aparência exata de um ser humano.
Apesar da ausência de maquiagem ou efeitos especiais, ele consegue apenas pela atuação se colocar exatamente no uncanny valley, sendo ao mesmo tempo familiar e assustador.
Todos os outros atores também estão bem, inclusive as atuações que não são feitas por pessoas. O único elo mais fraco é mesmo o bilionário velhinho interpretado por Guy Pearce. Acontece que a maquiagem dele está horrível. Ele não parece um ser humano velho, ele parece um monstro. Eu já convivi com um monte de pessoas bastante idosas e nenhuma delas ficou com a pele como a dele. É estranho que, em um filme com tamanho cuidado com o visual, foram descuidar em algo tão simples quanto isso. Podiam simplesmente ter pego um ator mais velho para o papel se os maquiadores não eram tinham as manhas de envelhecer o cara via maquiagem.
Outro ponto positivo do roteiro está em suas discussões filosóficas. Como é praxe em Hollywood, elas não são tão desenvolvidas quanto deveriam, mas simplesmente por existirem, mesmo que de forma moderada, já devem ser citadas como um aspecto positivo.
INSIRA AQUI UMA ONOMATOPEIA DE PEITO EXPLODINDO
Durante mais de uma hora de filme, eu não conseguia imaginar que pudesse acontecer algo que tirasse de Prometheus o Selo Delfiano Supremo que lhe era merecido. E daí entra o roteirista Damon Lindelof.
Se você não liga o nome à pessoa, Lindelof foi um dos principais responsáveis pela série Lost. E se você acompanhou a série até o fim e depois for assistir a Prometheus, vai sentir a presença do cara o tempo todo.
Isso porque ele é simplesmente um gênio para estabelecer um mundo, com suas regras e seus mistérios. Infelizmente, ele é deveras falho ao tentar desenvolver a história e ao responder perguntas que ele mesmo criou. Isso é o que empurra Prometheus para baixo.
Existem muitos, muitos mesmo, pontos de história que são citados, mas nunca desenvolvidos. E vários deles são realmente importantes. Ele sequer explica porque os cientistas acreditam que os “engenheiros” criaram a raça humana. Fica claro porque eles achavam que existiria vida neste planeta, mas em nenhum momento vemos o que criou essa crença de que os ETs foram nossos criadores. Eles poderiam ter apenas vindo à Terra no passado, mas a raça humana poderia já existir quando de sua visita.
Existem também outras perguntas levantadas que estão lá apenas para deixar uma brecha para a continuação. Essas são obviamente apenas ganchos, mas eu duvido muito que as perguntas que eu levantei acima sejam respondidas eventualmente.
QUANDO CRESCER, QUERO SER ASTRONAUTA
Prometheus tem uma primeira metade que responde por uma surpreendente trüeza sci fi e uma segunda metade que é uma ficção científica de terror, assim como o primeiro Alien. A primeira é melhor que a segunda. A segunda ainda é boa, mas é pela primeira hora inesquecível que você não pode perder este filme. E, se você morar em São Paulo ou Curitiba, não perca a chance de curti-lo em Imax 3D.
CURIOSIDADES:
– A franquia Aliens teve um diretor para cada filme e todos já eram ou ficaram bem famosos por outros filmes. O primeiro, claro, foi Ridley Scott. Depois vieram James Cameron e David Fincher. Finalmente, teve Jean-Pierre Jeunet, que de nome não é tão conhecido quanto seus antecessores, mas que ficou relativamente famoso ao dirigir o ensaio sobre a fofura O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
– Prometeu é o titã que, segundo a mitologia grega, criou o homem e o ensinou a fazer o fogo. Você deve se lembrar dele sofrendo sua punição por isso no God of War II. Isso tem tudo a ver com a história do filme, mas eu não vou contar mais para não estragar sua surpresa.