Vamos começar a resenha com uma historinha: o Primal Fear é uma das bandas que mais têm textos no DELFOS. Quer exemplos? Então entra aqui. Por isso mesmo, quando tivemos uma chance de entrevistar a banda, agarramos com toda a força, determinados a fazer a melhor entrevista que a banda já deu para um veículo nacional. Nos certificamos que a entrevista seria com o Ralf e trabalhamos muito em fazer perguntas abrangendo toda sua carreira, do Tyran Pace ao Primal Fear e todas as bandas do meio, como o Judas ou o Gamma Ray.
Infelizmente, no dia que a banda se dispôs para atender aos veículos nacionais, depois que estávamos com horário marcado, ela foi cancelada. Tivemos a chance de pegar o baterista Randy Black, mas isso tornaria a nossa entrevista extremamente superficial. Adiamos para outro dia com o Ralf, mas mesmo assim o Randy nos ligou no dia agendado inicialmente, me pegando completamente de surpresa e, sem graça, expliquei a situação para o baterista que disse que não tinha problema nenhum.
No dia remarcado, Ralf furou de novo. Remarcamos. Novo furo. E assim por diante. Sério, cara, ele deve ter furado umas 5 vezes e em todas fomos avisados em cima da hora, quando já tínhamos perdido o dia do nosso “trabalho pagante” (como o DELFOS não gera lucro no momento, temos que ter um trabalho à parte).
No fim, perguntamos se não podia fazer por e-mail. Poderíamos, mas apenas se só fizéssemos perguntas deste último álbum, pois “a banda trabalhou muito nele e quer divulgá-lo”. Aí pergunto: será que eles não trabalharam nos outros álbuns também? Não acho que eles atingiram o atual patamar que ocupam no cenário metálico brincando. De qualquer forma, o Ralf só se disponibilizaria a fazer de forma escrita se fosse focada no último álbum. E na boa, se os fãs querem ler uma entrevista superficial, podem ficar com as dos outros veículos. O nosso diferencial é mesmo a profundidade, como você pode ver nas entrevistas do W.A.S.P e do Hammerfall.
O responsável pela Nuclear Blast no Brasil, sempre muito gente boa, ainda nos ofereceu mais um dia para a entrevista, mas a essa altura, já não tínhamos mais confiança que o Ralf iria ligar e não poderíamos perder mais um dia de trabalho e, conseqüentemente, de salário. Então fomos obrigados a declinar. É triste, meu amigo. Principalmente se você visse as perguntas que preparamos. Mais uma vez seria uma entrevista daquelas: “Tudo que você sempre quis saber sobre o Primal Fear e nenhum veículo nunca perguntou porque eles só falam do último álbum”, sabe?
Enfim, só queria dividir um pouco dos bastidores do jornalismo metálico com vocês. Um dia ainda devo escrever uma Pensamentos Delfianos tratando do assunto com mais histórias do tipo, mas até lá, você já tem aqui um teaser (essa resenha foi escrita há alguns meses e você já pode ler a coluna falando sobre esse assunto clicando aqui. A boa notícia é que vamos guardar as perguntas e, caso tenhamos uma nova oportunidade de entrevistar os caras, usaremos as mesmas, acrescentando, é claro, o que acontecer de interessante até lá.
Então vamos ao álbum. Já falei antes e continuo com a mesma opinião. Falta alguma coisa no Primal Fear mas não sei dizer o quê. Eles têm peso, têm melodia, tem ótimos trabalhos de guitarra, mas falta alguma coisa. Convenhamos, para ouvir ao vivo, são tão bons quanto a maior parte das bandas alemãs, mas para ouvir em casa, é aquela coisa: você ouve, curte, bate cabeça, troca por um CD do Gamma Ray e nunca mais ouve de novo a não ser para se preparar para o show.
E os caras vão meio naquela linha AC/DC/Ramones, ou seja, seus CDs são sempre parecidos, o que não é necessariamente ruim. Com isso, os fãs sabem o que esperar e nunca são decepcionados. Se você gosta de um álbum dos caras, você gosta de todos. Mas com isso também, eles não carregam apenas as qualidades de um trabalho para o outro, mas também os defeitos. Como esse analisado no parágrafo anterior.
E, no fim, alguma música se destaca? Sim, não posso mentir. All for One é provavelmente a melhor música que a banda já compôs. Seu refrão é daqueles que vão fazer miséria nos shows da banda, com uma melodia belíssima e guitarras cantantes (aliás, se tem uma coisa que eu realmente adoro no Heavy Metal são as guitarras cantantes). Tirando essa, tem outras músicas legais que vão no padrão Primal Fear de qualidade, o que pode ser um elogio ou uma crítica, dependendo de como você encara. Aí podemos citar Demons and Angels e Rollercoaster, que mesclam muito bem peso e melodia, além da pesadona e quase Thrash Carniwar, com um Ralf esganiçado como não víamos há um bom tempo. Também tem uma balada quase fofa, In Memory, que começa meio feia, mas no refrão se torna uma bela balada levada a voz e violão (não apenas, mas tendo isso como o principal) e com um lindo solo de guitarra (coisa que a banda sempre fez muito bem). O lançamento nacional ainda traz uma bônus chamada Higher Power.
Como nada é perfeito, tem também umas músicas horrendas. Curiosamente, é o caso da faixa-título, Seven Seals, bem diferente de tudo que a banda já fez. Como foi a primeira música do álbum que ouvi, achei até que seguiria essa linha, mas não se preocupe, a única diferente mesmo é essa. O resto é bem o Primal Fear que você já conhece.
Olha só, achei que essa resenha ia ficar mixuruca, mas até que ficou bem grande. No fim, minha dica é a seguinte: se você gosta dos outros discos do Primal Fear, pode mergulhar de cabeça nesse. Se não, não é esse que vai fazer você gostar. Agora é esperar que a banda faça uma turnê pelo Brasil e aí, sim, curtirmos o som deles no seu habitat natural. Felizmente, eles são bem mais profissionais no palco do que nas entrevistas.