Um dia desses, estava escrevendo algumas notícias aqui para o DELFOS e me deparei com um assunto que sempre considerei banal e por isso não dei muita importância no momento. E sei que muita gente, inclusive delfonautas, consideram o assunto de extrema importância e fazem questão de usá-lo sempre que possível.
Quem aqui nunca rotulou uma banda? Teve uma época em minha vida que tentei realmente entender essa questão dos rótulos e quais os critérios que as pessoas usavam para classificar o som dos grupos. Juro que, até hoje, só tenho teorias sobre o assunto. È impossível classificar algo por definitivo. É pura perda de tempo, não leva a lugar nenhum e deixa tudo mais confuso.
Vou tentar focar nesse texto mais o aspecto musical. Acredito que é nesse campo que os rótulos são mais comuns e geram mais discussão, pois ninguém quer ver a sua banda preferida sendo chamada de emo ou de metal, quando na verdade ela é hard rock.
Começarei por um fato que sempre me faz dar boas risadas. A tal onda do universitário. Por que o forró é universitário? Por que o sertanejo é universitário? Eu sinceramente não faço ideia. Não é tudo a mesma coisa? Não é ruim do mesmo jeito?
O que diferencia o som do Alceu Valença do Falamansa? A única diferença que vejo é a levada da música. Um é mais acelerado, mais animado, e porque não, mais comercial que o outro. Mas não deixa de ser forró. São esses malditos subgêneros.
O mesmo acontece com o sertanejo. As famosas duplas de dois também são classificadas como universitárias. Jorge e Mateus e César Menotti e Fabiano são alguns exemplos dessa nova onda. E aqui é a mesma coisa do forró. O som é mais comercial, mais animado. Só isso. É sertanejo e pronto. Não tem que ter esse rótulo de universitário. Por acaso eles se conheceram na Universidade? Fazem shows nas Universidades pelo país afora?
E tem outro ponto que acredito que todos os delfonautas vão concordar. Com essa onda de sertanejo universitário, acabaram os nomes engraçados das duplas sertanejas. E nome engraçado era o que não faltava: Monetário e Financeiro, Patrão e Funcionário, Leal e Legal, Belo e Horizonte, Atleta e Treinador, Batima e Robson e Divisor e Consciente são os mais engraçados que encontrei (e eu juro que não inventei nenhum deles. Eles existem mesmo!). E nessa minha pesquisa por nomes engraçados, eu achei uma raridade. Um trio sertanejo! Alguém já tinha ouvido falar de algo assim? E o nome é tão engraçado quanto os das duplas: Cruzeiro, Tostão e Centavo. Fala sério! O sertanejo universitário acabou com a única graça do sertanejo de raiz.
Tem até rock universitário. Pois é, mais um rótulo bem engraçado. A única banda que eu tenho noticia que recebeu essa denominação foi o R.E.M. E pelo simples fato da banda ter feito sucesso primeiro nas rádios universitárias dos Estados Unidos. Só por isso. O que me leva à conclusão que você ganha rótulos também pelo lugar de onde veio ou nesse caso, onde fez sucesso.
E rock universitário me lembra nerd. Calma, não é de nós que eu estou falando. Existe também um subgênero do rock que alguns chamam de nerd rock. É basicamente uma banda, onde um ou todos os integrantes são declaradamente nerds. Um exemplo? Weezer. É de conhecimento de todos que gostam da banda que o vocalista, Rivers Cuomo, é nerd e formado em Harvard. Ele até já deu um tempo com a banda para concluir os seus estudos na universidade.
Se dermos importância para a personalidade dos integrantes na hora de rotular uma banda, podemos colocar o Ultrage a Rigor na categoria de nerd rock. Roger Moreira, guitarrista, vocalista e dono da banda, é conhecido também por ter um Q.I elevado, sendo inclusive membro da Mensa International, uma sociedade onde só são aceitas pessoas de Q.I. bem alto.
Algum delfonauta faz parte da Mensa? Deve ter alguém…
É um rótulo totalmente inútil. A banda é de rock e pronto.
E todos esses rótulos são passados para trás quando um outro rótulo é colocado sobre eles. Rock universitário e nerd rock podem ser considerados rock alternativo. Tanta briga por nada. O que não é Hard rock, heavy metal ou punk, quase sempre é classificado como alternativo. E esse com certeza é o rótulo que gera mais confusão e o que tem o maior número de bandas.
Quase todas as bandas já foram chamadas de alternativas algum dia. É a falta de criatividade em criar um rótulo novo. Então joga a banda como alternativa. Vou citar algumas bandas aqui e vejam se todas realmente fazem o mesmo tipo de som: Creed, Strokes, Foo Fighters, Collective Soul, Live, Garbage, 311, Muse, Sonic Youth e Tool. E ai? Todas podem se encaixar na mesma categoria?
Vou ter que dar uma pausa para ilustrar vocês o que eu quero dizer. Acessem esse link. Essa pessoa com certeza tem criatividade para classificar o som da banda dela desse jeito. Ah, sem contar o erro de português no anúncio. Mas isso é outra historia…
Voltando. Eu acho que cada banda tem uma sonoridade bem diferente uma da outra, mas todas são ou em algum momento foram consideradas alternativas. Não poderia ficar tudo sendo banda de rock? Mas não, tem que se criar um subgênero para cada banda, pois só assim podemos separar o Creed do Sonic Youth. Quem é fã de Sonic Youth não quer ficar na mesma categoria do Creed. Eita preconceito bobo esse viu…
E quer ver como essa história de rótulo deixa tudo mais confuso? Vou colocar mais bandas dentro do Alternativo. Limp Bizkit, Korn e Deftones. Concorda? Todas elas são bandas de New Metal. Ou melhor, Nu Metal. Ou seria Alterna Metal? Ou então Rap Core, Rap Metal… São todos rótulos para classificar as mesmas bandas. E olha que no meio de todos esses gêneros, tem o bendito do Alterna Metal, o que traduzindo para o português seria algo como Metal Alternativo. Lá vem o bendito do alternativo de novo…
Vamos pegar outro exemplo: o Grunge. Sempre curti todas as bandas chamadas de grunge no começo da década de 90 e acredito que muitos dos delfonautas também curtam pelo menos uma delas. Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, Pearl Jam, Screaming Trees, L7 e Mudhoney são alguns dos exemplos.
E aí o problema recomeça. O grunge é o meu maior problema. Até hoje, só considero três bandas como grunge: Mudhoney, L7 e o Nirvana. E calma que vou explicar.
Qual é a característica principal do grunge? Não, não são as camisas de flanela. Estava me referindo à parte musical do gênero. São as guitarras com um som mais “sujo”, distorcido, certo? Se formos seguir essa definição, somente o Mudhoney, L7 e o Nirvana são grunges. Mas todo mundo tem a mania de classificar todas as bandas de Seattle daquela época como grunge. Se o Guns n’Roses tivesse saído de Seattle naquela mesma época com certeza iriam ser tachados de banda grunge. Alguém discorda?
Even Flow, Alive, Jeremy e Black, todas do primeiro álbum do Pearl Jam são músicas grunges? Uma banda grunge faria uma música como Rooster e solos tremendões como o Alice in Chains? E o Soundgarden, que muitas vezes ficou bem próximo do Heavy Metal, flertando com o Hard rock e tem um álbum como Superunknown no currículo. É grunge?
O som do Screaming Trees nem chega perto de ter guitarras “sujas” e pode ser considerado grunge?
NÃO!
Rotular uma banda é até certo ponto aceitável. Temos que defini-la como hard rock, punk ou heavy metal para falar delas para um público que muitas vezes não a conhece. Eu mesmo vou continuar utilizando esses rótulos em minhas matérias aqui no DELFOS. Mas com certeza não esperem que eu classifique uma banda como “folk epic liric speed trash metal” como fez a garota do anúncio. Utilizarei termos básicos. E vou comparar uma banda com outra, falar que ela lembra tal grupo. É bem mais informativo do que colocar seis palavras para definir o som da banda.
Também não vou rotular bandas pelo lugar de onde vieram. Senão, todas as bandas de rock da Bahia seriam Axé. As bandas formadas na periferia, seriam de Rap. E as bandas do Rio seriam de funk.
E aqui eu não estou sendo preconceituoso. A Bahia ligada com o Axé, a periferia com o Rap e o Rio de Janeiro com Funk é o que a mídia passa para nós. É o mesmo que aconteceu com o grunge. Era de Seattle, era grunge.
Para que complicar se podemos simplificar?