Percy Jackson e o Ladrão de Raios

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Tinha expectativas mistas para esse filme. Esses seriam os argumentos do diabinho no meu ombro direito que queria me convencer a assisti-lo: mitologia grega, Chris Columbus é um sujeito legal e fez os dois melhores Harry Potters e Esqueceram de Mim.

Porém, no meu ombro esquerdo, estava o outro diabinho, aquele que eu normalmente uso como consciência. Ele tem cabelo comprido, usa jaqueta de couro, tem uma cicatriz no olho e está sempre carregando um bode morto e uma guitarra, ainda que nunca o tenha visto tocando (a guitarra, não o bode). E isso era o que ele dizia: CÓPIA DE HARRY POTTER! CÓPIA DE HARRY POTTER! CÓPIA DE HARRY POTTER! CÓPIA DE HARRY POTTER! CÓPIA DE HARRY POTTER! CÓPIA DE HARRY POTTER, CARALHO!

E sim, ele falava em letras maiúsculas. Não, ele não escrevia em letras maiúsculas, afinal, minha consciência não se comunica comigo por MSN. Ele estava realmente falando em letras maiúsculas. Para você ver como o negócio era sério.

Pois chegou a hora de conferir quem tinha razão. Coloquei minha melhor cara de mau, amarrei as correntes da danação na minha cintura, peguei a águia que costuma comer meu fígado durante as cabines (só assim eu conseguiria fazer resenhas tão mal humoradas) e dirigi-me para Hades, quer dizer, para o cinema. Você sabe, aonde as ideias boas vão para morrer.

Quinto parágrafo e ainda não falei da sinopse, então é melhor eu começar ou o fã-clube do Steve Screenwriter vai me expulsar da turma. Percy Jackson é um sujeito com uma vida familiar difícil. Porém, a vida dele está para mudar, quando ele descobre que é produto de um relacionamento amoroso/sexual/recreativo/futebolístico (gosto de pensar que ela chutava as bolas dele) de Poseidon com a mulher que tirou a virgindade do Virgem de 40 Anos.

Para os antenados em mitologia, isso faz de Percival Filho-do-Jack (não era de Poseidon?) um semi-deus. O chato é que ele só vai descobrir isso quando Zeus o acusar de ter roubado os raios. E se ele não devolver a muamba até o solstício, o bicho vai pegar. Agora ele vai ter que provar sua inocência e, de quebra, devolver os raios para o deus-mór do Olimpo antes que o sujeito comece a chorar. Considerando que estamos em um mundo onde existem milhares de semideuses andando pela Terra, não dá para entender porque Zeus foi cismar logo com o Percy. E o filme também não se preocupa em explicar, em um de seus muitos furos de roteiro.

Ah, e ele tem dois companheiros. Seu melhor amigo apatetado e a moça CDF. Também não posso esquecer do colega mais velho que fornece todos os apetrechos mágicos ou do professor que ele precisa constantemente desobedecer para cumprir sua missão. Lembrou alguém? É, eu também não. Não sei do que diabos minha consciência tanto reclama.

Falando sério agora (como se eu fosse capaz de fazer isso), está na cara que Rick Riordan, o autor do livro no qual este filme foi baseado tinha a missão de escrever um novo Harry Potter. E ok, todo mundo sabe que Harry Potter nada mais é do que a saga do herói no mundo da bruxaria pop. Ou seja, criatividade também não é o forte da J.K. Rowling. Mas ela pelo menos se preocupou em criar seus próprios personagens, ainda que arquetípicos. Já Rick Riordan chupinhou o Haroldo Cerâmica na maior cara de pau e conseguiu um best-seller. Isto não é apenas a saga do herói no mundo da mitologia grega. É, sim, Harry Potter e a Mitologia Grega, o oitavo livro perdido. O que temos aqui são os mesmos personagens e praticamente a mesma narrativa da Jotacá. A vida é realmente injusta por um troço desses ter virado best-seller.

Mas o cara tem algumas boas ideias. Trazer o riquíssimo mundo da mitologia grega para o mundo atual até poderia render boas histórias. E algumas das modificações, como os deuses modernizados (tipo Hades com visual roqueiro) ficaram legais. Porém, algumas coisas como colocar o Olimpo no Empire State dão tanta vergonha alheia quanto as histórias antigas do Capitão América.

O mundo do filme até é legal e mitologia grega nunca é demais. Porém, a sem vergonhice da história e dos personagens não pode ser ignorada. Em nenhum momento, Percy Jackson e o Ladrão de Raios deixa o espectador entediado, mas também nunca chega a empolgar. Talvez crianças que nunca tenham visto Harry Potter possam tirar algo de bom daqui. E, se já viram, pelo menos podem se divertir um pouco com os plágios descarados.

Curiosidades:

– Alguém mais concorda que o Chris Columbus dirigir isso é praticamente um auto-plágio?

– Olha que curioso. O ator que faz o filho de Hermes tem um nome mitológico na vida real: Jake Abel. Pena que a mitologia do nome do cara é outra.

– Se você gosta de mitologia, não deixe de ler nosso Top 5: Deuses True, uma lista tão séria quanto as letras do Manowar. Afinal, com mitologia e com Heavy Metal não se brinca.

– O primeiro a dizer nos comentários de onde são as frases “To Telos Arheezee! To Telos Arheezee Torah!” que estão no destaque deste texto ganha um high five imaginário do Evil Monkey.

– O Evil Monkey não autorizou a realização da promoção acima e, portanto, a entrega do prêmio para o vencedor não é garantida.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
percy-jackson-e-o-ladrao-de-raiosPaís: EUA<br> Ano: 2010<br> Gênero: Fantasia/Aventura<br> Roteiro: Craig Titley<br> Elenco: Logan Lerman, Brandon T. Jackson, Alexandra Daddario, Sean Bean, Pierce Brosnan, Steve Coogan, Rosario Dawson, Catherine Keener, Kevin McKidd, Joe Pantoliano, Uma Thurman e Jake Abel.<br> Diretor: Chris Columbus<br> Distribuidor: Fox<br>