Para os desavisados, Pele de Asno está longe de ser um filme atual. Na verdade ele é de 1970 e, como sua cópia foi restaurada, esta película do diretor francês Jacques Demy está de volta aos cinemas brasileiros.
Trata-se de uma adaptação de um conto de fadas sobre uma princesa que foge de seu reino para não ser obrigada a casar-se com seu próprio pai (o rei) e se disfarça de uma menina pobre, vestindo apenas uma “pele de asno” (daí o título). Como toda fábula, o restante do enredo é bem conhecido: um dia, um belo príncipe visita a pequena vila perto da qual mora a mocinha, chamada de “Pele de Asno” por causa de seu traje único. O rapaz passeia pelo local, encontra a casa da moça no meio da floresta, a vê através da janela e se apaixona por ela (obviamente, enquanto estava em casa, Pele de Asno se arrumava e voltava a ser a princesa, caso contrário, duvido muito que o príncipe se apaixonasse). A moça também se apaixona pelo príncipe e, em pouco tempo, eles já se encaminham ao “felizes para sempre” típico do gênero.
De fato, é um filme que, apesar de antigo, consegue recriar perfeitamente (e sem a ajuda dos efeitos especiais) o mundo mágico de uma fábula como essa. Isso faz com que ele seja muito bonito mesmo, com direito a cavalos azuis, soldados de pele vermelha e outras boas técnicas do uso da cor nos vários elementos do figurino e da cenografia. Mas fora isso, não há nada de novo, principalmente no roteiro, que segue morno do início ao fim.
Outra coisa que atrapalha (e que serve de aviso ao Cyrino, apesar de eu já saber que ele jamais pagaria para ver um filme desses) é o fato de, em vários momentos do filme, os personagens começarem a cantar sem motivo algum e, vez ou outra, fazerem coreografias abobalhadas. Isso mesmo que você leu. Além de uma fábula monótona e infantil ao extremo, ainda é um musical. Ao contrário do Cyrino, não tenho nada contra musicais e até costumo gostar bastante, desde que as canções sejam suportáveis, mas não é o que acontece aqui.
Seguindo a mesma linha de seu musical anterior, chamado Os Guarda-Chuvas do Amor, Jacques Demy não criou canções para os personagens de seu filme, o que seria mais legal, pois daria a impressão de que, de repente, eles ficaram com vontade de cantar e dançar (que é o que acontece na maioria dos musicais) . Na verdade, os atores simplesmente falam seus diálogos cantarolando! Isso mesmo! Eles fazem uma determinada entonação e “cantam” os seus textos, dando a impressão de que são completamente estúpidos!
Enquanto a beleza do filme faz ficar até o final, as feições estúpidas dos atores em suas falas cantadas é tão irritante que te leva a torcer para tudo acabar logo, afinal a história é mais do que previsível. Pele de Asno é um filme que eu não recomendo, porque acho que nós já somos obrigados a lidar com pessoas idiotas todos os dias e o escuro do cinema é justamente o lugar para tentarmos esquecer delas, não para ficarmos aborrecidos ao vê-las na telona. Se você quer ver um filme musical, alugue algum clássico do gênero, na linha de Cantando na Chuva e fique em casa. Mesmo um filme que você já viu trezentas vezes vai parecer mais inesperado e menos monótono.