Assim como Crianças Invisíveis, este é um daqueles projetos internacionais, que reúne vários diretores com o objetivo de fazê-los contar histórias com temas semelhantes. Dessa vez, a linha que os une é a cidade de Paris e o tema, o amor.
Agora dá uma olhada na ficha técnica aí do lado e tenta pensar em outro filme com elenco equivalente. Isso sem falar nos diretores, que reúnes desde o criador do Freddy Krueger, Wes Craven, até o diretor de Harry Potter, Alfonso Cuaron, entre muitos outros nomes famosos e respeitados do cinema mundial. Fala sério, não interessa o seu gosto cinematográfico, provavelmente tem pelo menos um diretor e alguns atores aqui dos quais você realmente deve gostar. Contudo, como todo filme do estilo, que conta várias histórias, a palavra-chave é irregularidade. Algumas histórias são lindas, outras são engraçadas. Infelizmente, algumas são simplesmente maçantes.
Nem todas, no entanto, são histórias de romance tradicional, do tipo menino conhece menina, menino perde menina, menino recupera menina. Temos aqui desde inícios de grandes amores, até casais passando por dificuldades e até mesmo alguns que já se separaram há anos. Essa variedade é legal, pois provavelmente você vai se identificar com pelo menos um deles. Aliás, a variedade é tamanha que tem até espaço para uma história mais fantástica, que conta até com vampiros e com o Elias Madeira (Elijah Wood). Essa história, inclusive, não é apenas a mais fora do comum na parte de roteiro, mas também no visual estilizado, que lembra bastante Sin City.
Também merece destaque o conto dos mímicos, roteirizado e dirigido por Sylvain Chomet, que aborda um tema difícil (o preconceito) de uma forma bem fofa e infantil (afinal, ela é narrada pelos olhos de uma criança). Também gostei bastante do de Wes Craven que, veja só, é bem melhor do que seus últimos longas e não tem nada a ver, estilisticamente, com os trabalhos que o deixaram famoso. Aqui, Craven simplesmente nos mostra como o senso de humor é importante para que um relacionamento sofra menos com o desgaste do tempo. E se dá muito bem nisso. Por fim, a participação dos irmãos Coen também é muito boa, abrindo um pouco mão do amor em nome de uma boa comédia física, inclusive flertando com o nonsense – e contando com participação do Steve Buscemi.
Por outro lado, o grande destaque negativo vai para o brasileiro Walter Salles, que conta uma historinha genérica sobre diferenças sociais. É incrível como nossos cineastas parecem não querer falar de outra coisa e encaixam isso até mesmo quando nada tem a ver com o tema proposto. Sem falar que há um tempo, li um texto acadêmico cujo autor não me lembro, mas que dizia que apenas os ricos se interessam em estudar os pobres ou mesmo falar deles, o que, de certa forma é verdade, vide o que o herdeiro do Império Unibanco fez aqui.
Além da história de Walter, outras também trazem bons momentos de tédio. O principal problema de Paris, Te Amo é o excesso de contos. São dezoito histórias e isso, mesmo não o deixando assim tão longo, o torna um tanto cansativo. Aliás, o fato de não ser longo até prejudica um pouco, visto que todas as histórias são muito curtas. Algumas não devem chegar nem a cinco minutos. Isso faz com falte algum desenvolvimento nos personagens, principalmente quando o romance dá o tom do conto.
Durante a sessão, tive sentimentos alternados. Em alguns momentos, ficava emocionado, em outros, ria bastante ou ficava triste. Infelizmente, em vários, fiquei bem entediado. Não é um filme desprovido de problemas, mas, como em quase todo conjunto de contos, sempre tem algumas histórias que se destacam na qualidade e que acabam fazendo o preço valer a pena. O chato é que podemos encarar isso também olhando o copo meio vazio: as histórias com menos qualidade prejudicam o que, de outra forma, poderia ser um ótimo filme.