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Esse é, provavelmente, um dos filmes mais esperados do ano por pessoas como a gente (ou seja, pessoas legais). E pudera, Os Simpsons é uma verdadeira febre no Brasil, mesmo que infelizmente a maior parte do nosso povo (até mesmo muitos que gostam do desenho) não tenha inteligência para entender a profundidade do seu humor. Contudo, admito que, dos desenhos adultos de Humor Nonsense Crítico, Simpsons é o que eu menos gosto. Acho South Park muito mais ideológico (e com muito mais coragem de dizer o que as pessoas não querem ouvir, o que é essencial no gênero), Família da Pesada muito mais engraçado e assim por diante. Até de Futurama eu gosto mais do que de Simpsons. Isso, claro, não significa que eu não goste da criação máxima de Matt Groening ou que não reconheça sua importância – afinal, se não fosse por ele, nenhum dos outros desenhos que eu tanto gosto existiriam hoje, mas isso não muda o fato que, para mim, os influenciados superaram o influenciador, mesmo que o Cyrino, o Guilherme e o Bruno com certeza discordem de mim nesse aspecto, já que os três adoram Simpsons.
Mas chega de introdução (e o parágrafo de cima deve ser um dos maiores que eu já escrevi nesse site) – no segundo parágrafo é lei falarmos a sinopse, então vamo que vamo: Springfield está ficando muito poluída e isso deixa Lisa preocupada (e só ela). Só que chega um momento que algo precisa ser feito e finalmente a garota consegue manipular toda a cidade para ver as coisas do seu modo (Hell, yeah!). Toda? Não, afinal, um dos cidadãos da cidade é um indivíduo de inteligência limitada, chamado… Homer. E vamos parar por aqui.
O começo do filme é simplesmente maravilhoso. Sem muita preocupação com história, é praticamente uma metralhadora de piadas, que já começam no logotipo da Fox. Sem exagero, esse início é de chorar de rir, sem parar, quase tão engraçado e nonstop quanto este aqui, que é, sem dúvida, uma das melhores comédias que existem. Só que chega uma hora que a vontade de contar uma história se torna maior do que a de fazer rir (o que acontece mais ou menos na hora que a família sai de Springfield). O problema é que é uma história clichezenta e sem graça, o típico “desenho de cinema”, inclusive com a partezinha triste lá do meio para o final. Depois disso, ele continua sendo engraçado, mas fica parecendo um episódio da série de TV, só que com uma história pior e mais previsível.
É fato que grandes filmes de comédia podem ser fenomenais sem ter necessariamente uma boa história: vide Corra Que a Polícia Vem Aí ou até mesmo o supracitado Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, que quase nem tem história. Afinal, a gente assiste comédia para rir (e, no caso do Humor Nonsense Crítico, para pensar), mas para isso não precisa de uma história. Se tiver, claro, tanto melhor, mas é melhor ser focado nas piadas do que contar uma história ruim e sem graça – e esse é o motivo pelo qual esta resenha não está ilustrada com o Selo Delfiano Supremo.
Matt Groening e seus amigos manjam muito de humor. Isso está claro. E esse fato faz com que eu estranhe ainda mais o fato de terem optado por uma historinha tão clichê. Afinal, é impossível fazer humor sem surpresas e se você sabe tudo que vai acontecer na próxima cena, não há surpresas e, portanto, não há risadas.
Não me interprete mal, mesmo na parte onde a comédia dá espaço para a história, ainda existe muita coisa divertida. O humor do desenho continua afiado como nunca e dá alfinetadas para todos os lados, inclusive na própria Fox ou mesmo em você, o espectador. Mas não dá para negar que o que falaram sobre o filme parece um tanto exagerado. As críticas sociais são muito sutis e você só as percebe se realmente estiver procurando por elas. É seguro dizer que South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes tem mais críticas e ideologia na música de abertura do que Os Simpsons – O Filme tem na projeção inteira.
Aliás, é muito difícil para mim não comparar este longa com o de South Park. Tirando o fato de que Trey Parker e Matt Stone foram obviamente influenciados pela família amarela, o estilo de humor de ambos é bem parecido (apesar de South Park ser mais grosseiro, às vezes até demais). Só que Parker e Stone aproveitaram a possibilidade de lançar um longa para fazer e falar coisas que nunca poderiam fazer na TV. Afinal, se a série de fato não é adequada para crianças, o filme REALMENTE não deve ser visto por elas, pelo menos até que elas tenham idade para entender que tudo aquilo não é gratuito, mas tem uma mensagem muito forte por trás. Já Groening não aproveitou a chance do mesmo jeito. Não se trata de um longa infantil (assim como a série também não é), mas eu diria que uma boa oportunidade foi perdida pela falta de coragem em ousar mais. Ousadia, aliás, que sobrava quando a série começou a ser exibida. É uma pena, mas também no cinema o influenciado (South Park) superou, e muito, o influenciador (Os Simpsons).
Curiosidades:
– Uma tradução literal de The Simpsons Movie seria “O Filme dos Simpsons”. Uma bela piada metalingüística, pois é assim que as pessoas vão chamá-lo de qualquer jeito. É uma pena que a Fox brasileira não sacou a piada e não traduziu o título apropriadamente, preferindo usar o clichê e estúpido Os Simpsons – O Filme (sem falar que ninguém vai chamar o longa assim).
– Na véspera dessa cabine, o Cyrino estava me falando quão ruim ele achava a nova voz do Homer e que não assistiria a esse longa a não ser que tivessem cópias legendadas. Sinceramente, eu vi pouquíssima diferença, mas se você compartilha da opinião do nosso amigo, boa sorte. Sim, existem cópias legendadas, mas pelo que o pessoal da Fox falou são pouquíssimas, “umas 15”, segundo as palavras deles.
– Como já é costume em filmes baseados em séries, temos aqui pelo menos uma pontinha de quase todos os personagens da série, desde os mais importantes, como o Flanders, até os mais secundários, como o carinha da Duff. Para falar a verdade, o único do qual senti falta é justamente um dos mais divertidos: o Disco Stu.
– Não saia quando os créditos começarem e você vai ouvir as primeiras palavras da Maggie.
– Se você quiser ver isso, não seja um imbecil: fique sentado. Eu nunca vou entender os brasileiros e sua inexplicável pressa por levantar logo da cadeira como se o início dos créditos fosse a largada para uma corrida ou como se estivessem tendo o bumbum devorado por formigas. O pior é que esse pessoal levanta e, quando vê que o filme ainda não acabou, continua em pé, atrapalhando todos os cidadãos de bem que só levantam quando realmente pretendem sair.