Olga

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Finalmente o cinema nacional parece estar perdendo aquela síndrome nordeste/favela que assolava 9 entre 10 filmes lançados desde o ressurgimento da sétima arte tupiniquim. E com isso, finalmente surgem filmes pelos quais eu me interesso, como por exemplo, este Olga, baseado no livro homônimo de Fernando Morais.

Para quem não conhece, vamos às apresentações: Olga foi o grande amor da vida de Luís Carlos Prestes, notório líder comunista de nossas terras. Porém, não só como mulher Olga se destacou, pois era extremamente idealista e deixou sua família burguesa para se dedicar ao sonho de um mundo melhor.

Contudo, Olga não tem na violência ou nas revoluções a sua principal característica, mas no relacionamento e no grande amor sentido pelo casal de protagonistas. Optando por esse sentido, Olga me lembrou um Titanic brasileiro. E como é brasileiro, tem muito menos romance e muito mais sexo.

Brincadeiras à parte, Olga lembra Titanic na sua proposta, pois tem como ponto de partida um cenário histórico amplamente conhecido, mas foca um relacionamento que se desenvolveu na época. A diferença é que aqui os personagens são verídicos e o filme é muito menos meloso.

Uma curiosidade que não pode deixar de ser citada é o fato de que o filme tem patrocínio da Globo Filmes. Ora, sou só eu que acho estranho a Globo, uma das maiores representantes do capitalismo brasileiro e uma das principais aliadas da ditadura combatida pelo casal Prestes e seus asseclas patrocinar um filme onde os comunistas são os heróis? Tudo bem que os vilões mostrados no filme são os nazistas e não a ditadura brasileira, mas mesmo assim, isso me causa um grande estranhamento.

Voltando ao filme, o destaque positivo vai para a tremenda qualidade de imagem e som do filme. Enfim, um filme nacional com qualidade técnica profissional, pois admito que, depois de assistir a Deus é Brasileiro, fiquei realmente meio cabreiro com filmes nacionais neste quesito.

O destaque negativo vai, infelizmente para as atuações. Não sei se esse é o “estilo brasileiro de atuar” ou se todo filme nacional tem atores ruins, mas algo realmente me incomoda em todo filme nacional que eu vejo. Eu realmente tenho a impressão de que o texto é decorado (e é mesmo, é claro, mas o público não pode perceber isso) e de que os atores estão se esforçando muito para manter certas posturas de corpo e tal. Resumindo, falta naturalidade. Como exemplo posso citar as (poucas) cenas com Fernanda Montenegro, essa sim uma atriz de verdade, onde sua atuação se destaca a ponto de gerar ainda mais estranheza quando a comparamos com todos os outros atores. Infelizmente, sua participação é muito pequena no filme.

Mas tirando esse aspecto tão comum nos filmes de nosso país e que, por causa disso mesmo, eu realmente tentei relevar, Olga é demais. Com certeza o melhor filme nacional que eu já assisti (e não, ainda não assisti Cidade de Deus) e não faz feio mesmo se comparado com bons filmes gringos, como Eu, Robô.

Mais que uma história de amor homem/mulher, Olga é uma história de amor de um grupo de pessoas por uma ideologia, um sonho de ver um mundo mais justo. Utopia? Pode ser, mas eu também prefiro acreditar que isso é possível. Você não?

Leia também a entrevista coletiva com a equipe de Olga.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).