Obrigado por Fumar

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Em alguns momentos, tenho a impressão de que eu permito que os delfonautas me conheçam melhor do que as pessoas que convivem pessoalmente comigo todos os dias. Também pudera. Qualquer um que investiu tempo suficiente lendo este longo texto vai ficar sabendo bastante coisa da minha vida pessoal. Isso, aliado à linha opinativa do site e à minha coluna acaba possibilitando que um delfonauta dedicado me conheça melhor do que alguns amigos não-delfonautas (malditos sejam!). E uma coisa que qualquer pessoa que já tenha nos visitado mais de uma vez deve ter percebido é que eu definitivamente não aceito as convenções sociais até que tenha chance de refletir sobre elas. Na verdade, tornar estas reflexões públicas e causar esse desconforto no público é mais ou menos o objetivo da Pensamentos Delfianos e, por que não, até mesmo do DELFOS. Justamente por causa desse traço da minha personalidade, adoro histórias que têm em seu protagonista um personagem que seria normalmente considerado um vilão. É o caso de Obrigado por Fumar.

Neste filme, acompanhamos Nick Naylor (Aaron Eckhart), um lobista da indústria de cigarros, cujo trabalho envolve justamente apresentar argumentos “do contra”, pois em uma sociedade cada vez mais puritana como a estadunidense, o cigarro adquiriu um papel de assassino, assim como todos os que trabalham para essa indústria. E olha, o cara tem uns argumentos tremendões. Cito a cena que abre o filme, onde Nick se vê em um programa de TV para debater com um pessoal anti-cigarro e um moleque com câncer. Obviamente, ele é apresentado como o vilão da história. Mas ele reverte essa situação dizendo que não quer que o moleque morra, pois ele perderia um cliente. Já o pessoal “do bem”, diz ele, é outra história, pois se o carinha “apresuntar”, eles terão uma vítima, um mártir, para lutar contra a indústria de cigarros. Legal, não?

E é por aí. Durante toda a projeção, Nick é tratado como o vilão por todos, mas sempre consegue se sair bem graças a argumentos inteligentes e, por essa inversão de papéis, o filme acaba sendo deveras engraçado. Digo que não ria tanto em um filme há um bom tempo, mas é claro que as risadas não são aquelas gargalhadas gostosas que você dá ao assistir a um Em Busca do Cálice Sagrado. Está mais para aquelas risadas meio incomodadas, do tipo “acho que vou repensar meus valores” e, na minha opinião, isso é sempre ótimo. Até porque eu mesmo não fumo e odeio ter fumaça de cigarro perto de mim. Por isso é sempre bom ver os argumentos da outra parte, mas acredito que muita gente pode se sentir incomodada com esse tema.

Uma pena que o título acabe sofrendo na tradução, mas pelo menos dessa vez não foi tanto por incompetência dos tradutores (ou de repente até foi), mas por uma diferença na nossa cultura. Pois se aqui os avisos normalmente dizem “Proibido Fumar”, lá nos EUA costumam dizer “Thank you for not smoking” (Obrigado por não fumar). Talvez seria mais interessante se tivessem adaptado para algo como “Permitido Fumar”, mas fazer o que se não pensaram nisso, né? De qualquer forma, é um filme legal, engraçado e que faz pensar. Só poderia ser melhor se tivesse ruivas com bacon ou pessoas brandindo sabres de luz para lá e para cá. De qualquer jeito, assista. Eu recomendo.

Curiosidade: J.K. Simmons, o J. Jonah Jameson está neste filme fazendo praticamente o mesmo papel que fez no longa do amigão da vizinhança. E posso dizer que o cara nasceu para isso. 😉

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
obrigado-por-fumarPaís: EUA<br> Ano: 2006<br> Gênero: Comédia<br> Roteiro: Jason Reitman<br> Diretor: Jason Reitman<br> Distribuidor: Fox<br>