O Último Exorcismo Parte II

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Quando O Último Exorcismo estava para sair, parecia que ia ser só mais um filme genérico que tentava juntar o tema clássico de possessão demoníaca com a tendência de found footage/simulação de documentário. Surpreendentemente, o filme tinha uma história bastante interessante, personagens carismáticos e um plot twist de dar inveja ao Shyamalan.

Uma sequência parecia improvável, mas aqui está ela, dessa vez descartando o formato de documentário e com a seguinte sinopse: depois de sobreviver aos terríveis eventos do primeiro filme, a jovem Nell é encontrada por um casal e mandada para uma espécie de orfanato para garotas em Nova Orleans para começar uma vida nova. E ela vai indo bem, arranja um emprego, faz amizades e consegue até um interesse amoroso. Mas logo percebe que a presença maligna que a possuiu ainda não a deixou completamente e tem novos planos para ela.

Isso já tinha me decepcionado um pouco desde o primeiro trailer. O original deixou tantas perguntas para responder, e tantos caminhos que poderiam ser seguidos – o irmão da Nell não é nem citado aqui! –, que simplesmente deixar tudo isso para trás já pareceu uma má escolha. Mas até aí tudo bem, dar um novo rumo à história poderia ser legal também. Infelizmente não é o caso.

A primeira parte do filme é levada num ritmo bem lento, e é compreensível, afinal, a intenção é mostrar que ela está conseguindo levar uma vida tranquila. E então essa normalidade começa a ser invadida por pequenos episódios estranhos e sinais sutis de que algo ruim vai acontecer. E eles trazem de volta a dúvida sobre o problema da moça ser realmente sobrenatural ou apenas psicológico, o que eu achei desnecessário e contraditório quanto ao final do primeiro filme.

Independente do que você escolher acreditar, essas aparições até conseguem criar um suspense. Apesar de serem basicamente sustos do tipo “bu”, providos quase sempre pela trilha sonora, dá para ficar entretido, graças à impressão de que elas vão ficar cada vez mais freqüentes e mais graves até culminarem no momento em que as coisas saem de controle. Mas também não é o caso. O ritmo continua igualmente lento até bem perto do final, e quando finalmente chega ao ápice, ele não entrega. Simplesmente não acontece nada tão tenso quanto se espera, e se acontece, é fora de cena, o que é ainda mais frustrante.

MAS PODERIA TER SIDO AINDA PIOR

Para ser justa, o filme tem seus predicados. A direção, em especial, me agradou bastante. Coisas sutis como vultos, sombras e reflexos são usados com estilo, e também tem muito daqueles planos de câmera que são amplos e aproveitam bem os cenários, mas que ao mesmo tempo te mostram exatamente para onde você tem de olhar.

A Ashley Bell foi mais um ponto positivo. Os outros membros do elenco também estão bem, mas como ela é a única personagem que recebe um mínimo de desenvolvimento, acaba carregando tudo sozinha mesmo. Ela não teve de fazer tantas daquelas contorções bizarras dessa vez, mas se saiu igualmente bem numa atuação mais dramática. Aqui a Nell tinha de parecer mais assustada do que assustadora, e ela dominou tão bem esse contraste que é impossível não pensar que ela seria uma escolha excelente para a nova Carrie cinematográfica.

Se não fosse por esses detalhes, o filme seria uma experiência bem pior, mas também é triste perceber que todo esse capricho foi desperdiçado contando uma história tão tragicamente fraca. Se tivessem feito um filme só, com a qualidade técnica deste, aliada à história intrigante e à profundidade dos personagens do primeiro, teria sido um senhor filme de exorcismo. Mas no fim, o que conseguimos foi um filme bom, com alguns defeitinhos, e um ruim, com algumas poucas qualidades.

O ÚLTIMO DOS ÚLTIMOS EXORCISMOS?

O final é que foi a cereja estragada deste bolo sem graça. A última cena do primeiro foi impressionante, surpreendente e controversa, daquelas que gera debates legais na saída do cinema, enquanto a daqui foi tão fraca e rasa quanto tudo o que levou a ela. Foi quase engraçado, de tão ruim.

E o pior: ainda deixou o futuro em aberto. Com o perdão do SPOILER: deu-se a entender que esse foi de fato o último exorcismo porque tentar de novo não adiantaria, já que agora a possessão foi de livre e espontânea vontade Fim do spoiler.

No entanto, a possibilidade da franquia continuar também está lá, e provavelmente vai ser decidida pela bilheteria deste aqui. Sendo assim, faça sua parte para acabar logo com isso e deixe para assistir O Último Exorcismo Parte II em DVD. Se estiver com vontade de ver um filme de terror, veja Evil Dead de novo. Será um melhor uso do seu dinheiro.

CURIOSIDADES

– Colegas fãs de Prison Break: lembram do Charles Westmoreland? Ele aparece aqui, como o senhor que é dono da casa onde a Nell fica hospedada.

– A sequência confirmou o que vimos no primeiro filme: Nell é mesmo uma grande fã de botas Doctor Martens. E eu concordo, elas são mesmo muito legais.

– Eu mantenho a esperança de que alguém ainda vai fazer um filme onde o possuído é um cara grandão e ameaçador e não uma criança ou uma mocinha frágil. Faria mais sentido.

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Nota
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Joanna Lis
Delfonauta desde pré-adolescente, se tornou delfiana oficialmente em 2012. Não consegue gostar de nada casualmente e estuda Letras só para adquirir base teórica para fazer melhor o que sempre fez por hobby: analisar obsessivamente e escrever longas dissertações sobre Cultura Pop.
o-ultimo-exorcismo-parte-iiPaís: EUA<br> Ano: 2013<br> Gênero: Terror<br> Duração: 88 minutos<br> Roteiro: Damien Chazelle, Ed Gass-Donnelly<br> Elenco: Ashley Bell, Muse Watson, Julia Garner, Spencer Treat Clark e Louis Herthum<br> Diretor: Ed Gass-Donnelly<br> Distribuidor: Playarte Pictures<br>