O Ritual

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O delfonauta dedicado sabe que o terror está entre meus gêneros preferidos, ao mesmo tempo em que sabe que dificilmente uma história paranormal me agrada. Para falar a verdade, o único terror paranormal que me fez usar fraldinhas do Mickey Mouse por algumas semanas foi O Exorcismo de Emily Rose. Pois é, nem O Exorcista me botou medo. Não adianta, nenhum fantasma ou demônio nunca vai me assustar tanto quanto uma pessoa viva.

O filme de hoje, O Ritual, não é um terror, mas tem suas semelhanças com os dois supracitados. Aqui conhecemos Michael Kovak, um jovem que está estudando para ser padre, mas que não sente o chamado de Javé. Ele pensa em desistir, mas um coordenador do curso acaba convencendo nosso amigo a passar dois meses em Roma e fazer um curso para exorcistas. Assim, ele vai ter contato com algumas pessoas possuídas, e agora cabe a ele – e a nós – decidir se elas precisam realmente de um exorcista ou apenas de um psiquiatra.

A sinopse em si muito me agrada, pois adoro discussões místico/religiosas/filosóficas. E o filme leva muito bem essa proposta, apesar de eventualmente acabar decidindo qual dos lados está certo.

Tecnicamente, é um primor. Com uma direção simples e eficiente e uma belíssima trilha sonora, daquelas que faz você sentir exatamente o que deveria estar sentindo em cada segundo da projeção. Merece destaque também a performance da atriz Marta Gastini, a primeira possuída com quem Michael entra em contato. Ela consegue, apenas com sua linguagem corporal, parecer muito mais satânica e assustadora do que Linda Blair e toda sua maquiagem, animatrônicos e sopa de ervilha no clássico O Exorcista.

Além de tudo isso, temos aqui um filme genuinamente engraçado, embora não seja, de forma alguma, uma comédia. Acredite, você vai rir alto em pelo menos três ou quatro cenas e sabe como é, rir é sempre um bom remédio. =)

Só que tem um problema, e é um problema considerável. 112 minutos simplesmente não é o suficiente para você passar essa história com a profundidade que merece. Durante toda a projeção, eu ficava pensando como esse filme seria do grande piupiu caso fosse transformado em (ou fosse originalmente) uma série de televisão. E quando você está no cinema, vendo um bom filme, e deseja estar em casa assistindo àquela mesma história na televisão, você há de concordar que algo está errado.

Não é que não seja possível contar uma boa história em duas horas. Ora, é possível contar uma boa história em três quadrinhos! Mas alguns temas exigem algo mais aprofundado, e é o caso de O Ritual. Eu pegaria esse mesmo ponto de partida e consigo imaginá-lo expandido sem perder o fôlego por pelo menos umas dez temporadas. A quantidade de diálogos e pontos de vista a serem expostos (e intercalados com os obrigatórios exorcismos, claro) são simplesmente infindáveis.

Assim, quando o filme começa a caminhar para seu clímax, tudo parece corrido. O mentor de Michael, o padre Lucas (Anthony Hopkins), anteriormente explica que a possessão é um processo lento, que pode demorar muito tempo até ser perceptível, mas a última possessão acontece em questão de minutos, deixando o possuído inclusive em um estado pior do que a primeira menina (possuída há meses) estava.

Em uma série de TV, esse clímax do filme possivelmente seria o final da primeira temporada e, dessa forma, seria bem mais forte, pois estaríamos acompanhando aqueles personagens há muitas horas. Da mesma forma, os sinais da possessão poderiam ser indo liberados lentamente durante semanas. As possibilidades são infinitas, e isso me deixa triste por O Ritual ser um filme, não uma telessérie.

Mas analisando pelo que ele é – um filme – possivelmente temos aqui o melhor que seria possível fazer contando essa história em duas horas. O problema é que essa era uma história que poderia durar dezenas de horas. E a simples proposta de um padre relutante estudante de exorcismo poderia durar centenas de horas. Assim, assista no cinema, e tente expandir a história na sua mente – ou nos comentários aí embaixo – como eu acabei fazendo nesta resenha. De uma forma ou de outra, vale o ingresso.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-ritualPaís: EUA<br> Ano: 2011<br> Duração: 112 minutos<br> Elenco: Colin O'Donoghue, Anthony Hopkins, Alice Braga, Rutger Hauer e Toby Jones.<br> Diretor: Mikael Håfström<br> Distribuidor: Warner<br>