Parece que as animações têm caído muito de qualidade depois de filmes como Up e Megamente, entre outros. O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida é dos mesmos criadores do divertidíssimo Meu Malvado Favorito, mas não consegue se sustentar durante a projeção inteira. Pior: ele ainda apela para o tema de consciência ambiental, que provavelmente não vai convencer ninguém.
Ted é um garoto de 12 anos que quer conquistar uma ruiva com sardas e misturá-la com bacon. O problema é que Audrey é muito eco friendly, e ela quer ter uma árvore de verdade plantada em seu quintal. Tarefa difícil, já que há muito tempo elas estão extintas na cidade. Para piorar, o milionário que vende ar puro para as pessoas (!) é praticamente dono de tudo no recinto e vai tentar impedir que Ted consiga a tal “trúfula”, o tipo de árvore que Audrey quer.
Essa sinopse aí em cima é apresentada em uns cinco minutos, sem nada de enrolação. Isso porque o filme conta a história de Once-Ler, o responsável por acabar com as trúfulas. A narrativa fica alternando entre os esforços mínimos de Ted para sair da cidade e os trechos da história de Once-Ler (o tal Lorax aparece nessas partes). O negócio é sinceramente muito chato, porque é óbvio desde o começo o que aconteceu com as árvores, e que Ted vai sempre conseguir chegar ao Once-Ler para ouvir mais uma parte de sua enfadonha história.
O Lorax força muito o maniqueísmo e qualquer pessoa que não seja uma criança sabe que as coisas não funcionam assim. Ele é baseado na obra do Dr. Seuss (Theodor Seuss Geisel), escritor estadunidense que criou O Grinch, Horton e o Mundo dos Quem! e O Gato da Cartola. O conto original de O Lorax é de 1972 e, se naquela época essa história já não convencia, hoje convence menos ainda.
Essa história é hipócrita porque não incentiva uma real discussão sobre o tema. O que ela cria é um conforto nos espectadores, porque qualquer um pode identificar o que é errado e torcer pelos personagens principais, mas logo após a sessão ninguém vai lembrar ou praticar qualquer coisa que o longa tenha tentado apresentar (se é que tentou de verdade).
A pior coisa é o final do filme, mas conta-lo é um spoiler bem leve, então eu recomendo que o delfonauta selecione o espaço abaixo apenas se não se incomodar com isso:
O final é parecidíssimo com o de Wall-E. Aliás, é igual: os personagens principais precisam salvar a última plantinha de árvore e plantá-la. Ok, o conto original veio muito antes da animação da Pixar, mas eles poderiam fazer uma adaptação mais cuidadosa e pelo menos tornar o desfecho um pouco diferente. Ou melhor ainda: nem fazer este filme. =P
Não sobra muito para se divertir com O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida. São poucas piadas boas, os personagens principais simplesmente não cativam e a direção é muito chata. O filme é destinado às crianças, mas eu sinceramente não acho que uma discussão tão importante como problemas ambientais devam ser apresentados com um filme tão enlatado como este.
O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida não serve muito para entreter e ainda é carregado de uma ideologia/moral falsa, que definitivamente não desce bem. Se você quer assistir a um filme que trate desse tema com cuidado e tenha uma mensagem final otimista (mesmo que até um pouco boba), volte a Wall-E. Já se você prefere algo mais aprofundado e honesto, eu recomendo a Princesa Mononoke.
Curiosidades:
– Uma das alterações da obra para o filme é que no original o tal Once-Ler é um monstro. Eles trocaram por um ser humano para que as pessoas não achassem que a culpa é de uma outra coisa a não ser elas. Boa ideia, mas não adiantou muita coisa.
– Quando Once-Ler fica rico, ele usa uma roupa e constrói uma fábrica parecida com as mostradas em A Fantástica Fábrica de Chocolate.
– A cabine foi feita em um sábado, com a entrada de crianças liberada. Ao final da sessão, havia uma pessoa vestida de Lorax e quem quisesse poderia tirar foto com ele e receber a cópia na hora. Achei isso deveras estranho, já que o maior interesse do filme é passar uma mensagem bonita e verdadeira de consciência ambiental, não servir de entretenimento descartável e jogar tudo fora oferecendo fotos com um bicho peludo laranja na saída da cabine. =P