Eu adoro filmes que se passam em futuros pós-apocalípticos. Desde que eu era um tenro e pequeno nerd nos anos 80 (lembra deles?) e assisti pela primeira vez Mad Max, foi amor à primeira vista com esse subgênero. Tanto que sonho com o dia em que esse cenário se concretize. Sei que eu não duraria nem cinco segundos num mundo desses, mas ainda assim seriam cinco segundos bem legais.
Portanto, dada essa minha paixão, estava bem ansioso para assistir a esse O Livro de Eli, visto que ele se passa justamente num mundo arrasado por uma hecatombe, explicada ao longo da projeção, que transformou tudo em deserto e deixou o sol bem mais nocivo, o que faz com que todo mundo tenha de sair de casa de Ray Ban.
É nessa terra devastada que vaga Eli (Denzel Washington), um andarilho que quer ir para o oeste sabe-se lá por quê. Um belo e ensolarado (sacou?) dia, ele conhece Carnegie (Gary Oldman, o Comissário Gordon), líder de uma pequena cidade, que deseja o livro que Eli carrega e possivelmente é a única cópia remanescente.
Carnegie o quer para controlar mais facilmente a população e ampliar seus domínios. Eli o protege por fé, e se você tem dois neurônios funcionando já sabe que livro é esse. E o filme também não faz nenhuma questão de esconder o fato. A partir daí, Eli vai mostrar aos capangas de Carnegie com quantas páginas se escreve um livro, andar um pouco mais por paisagens desoladas e ainda arranjar tempo para fazer amizade com a Jackie do That ‘70s Show.
O filme começa muito bem, apoiado na direção estilosa dos irmãos Hughes (que você deve se lembrar, assassinaram a adaptação de Do Inferno, um dos melhores trabalhos de Alan Moore) e em cenas de ação violentas onde vários caboclos perdem as cabeças. A primeira cena de luta, onde só se vê as silhuetas, é bem legal, só para dar um exemplo.
Mas aí o roteiro estraga tudo com seus enormes buracos, especialmente na motivação de Carnegie para querer o maldito livro. Pense comigo: se ele sabe o que é o livro e quais os efeitos que ele causa, não seria muito mais fácil ele escrever o negócio de memória? Ou ainda reescrever como lhe der na telha para o texto melhor servir aos seus propósitos? Afinal, ninguém se lembra mais do conteúdo, ele pode escrever qualquer porcaria e ninguém vai contestá-lo.
O único motivo é mesmo possibilitar a perseguição de seu bando ao herói, para gerar mais cenas de ação truculentas, isso sim o ponto alto do filme, junto com a fotografia ora acinzentada, ora árida.
Esse é o tipo de película que não pede apenas para você desligar o cérebro, pede para você retirá-lo, enfiá-lo numa caixa e despachá-lo para o outro lado do mundo. Aí não há boa vontade que resista. O cúmulo desse roteiro horroroso chega no artifício do final surpresa. É uma revelação tão forçada e sem noção que você vai ficar com vontade de dar um tapa na testa, soltar um sonoro “hell no”, levantar e sair indignado para tentar recuperar seu dinheiro.
Graças a esse final esdrúxulo e aos buracos que permeiam o texto, o filme perdeu vários alfredinhos, mas ainda assim saiu no lucro, pois quando o pau come, ou ninguém fala da porcaria do livro, ele é bem legal.
Sendo assim, se você é como eu e gosta de tramas em terras devastadas, até vale uma assistida desde que não tenha grandes expectativas. Se não é o seu caso, compensa mais esperar sair em vídeo ou passar na tevê.