O Curioso Caso de Benjamin Button

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O diretor David Fincher parece realmente ter abandonado o gênero que o consagrou. Depois daqueles três excelentes thrillers (Se7en, Clube da Luta e Quarto do Pânico), o cara fez um filme longo e chato, que nem parecia ter sido dirigido pelo mesmo cara das três tremendonas produções supracitadas. E no início de O Curioso Caso de Benjamin Button, eu cheguei a pensar que ele tinha perdido a mão. Mas vamos por partes.

O tal Benjamínio Botão do título é um sacripanta que nasceu velho. Porém, conforme os anos se passam, ele vai rejuvenescendo. Sem dúvida, um caso curioso, o título não é mentiroso. O filme, por outro lado, não traz novidades, nem curiosidades de nota. Na verdade, ele lembra bastante três produções anteriores.

A primeira a vir à cabeça é Titanic. Isso porque toda a história é contada por uma velhinha, que está a lembrar do grande amor da sua vida. A segunda é Perfume, graças ao tom de fábula com o qual tudo é narrado. Felizmente, em nenhum momento ele atinge o tom grosseiro deste.

Por fim, a principal influência vem do tremendão Forrest Gump. Aqui acompanhamos toda a vida de Benjamin Button, do nascimento até a morte. E ela se assemelha em muitos pontos com a do nosso amigo Floresta Engasgada. Por exemplo, logo na infância (no caso dele, velhice), ele conhece seu grande amor, com quem vai gerar pimpolhos um dia e que vai aparecer e sumir várias vezes ao longo do filme. Além disso, ele cruza com vários personagens interessantes, vários deles inclusive parecem ter saído diretamente do longa de Robert Zemeckis. Por exemplo, os Camarões Bubba viram a Botões Button. O tenente Dan vira o capitão Mike e assim por diante. No final das contas, o fato de o cara nascer velho torna-se secundário, pois não é esse o principal mote da trama.

Benjamin Button conta com bastante humor, mas assim como o Forrest Gump, ou mesmo a vida, o foco é mesmo no drama. Afinal, a vida de ninguém é uma comédia.

Agora que o miguxo delfonauta já está familiarizado com o longa de hoje, permita-me explicar porque acreditava que nosso herói David Fincher havia perdido a mão. E isso, na verdade, é bem simples. Na maior parte do tempo, a história de Benjamin Button é lenta e chata. Tudo demora muito para acontecer e, convenhamos, não são necessárias quase três horas para contar a vida do fulano.

Porém sejamos justos, a culpa dessa chatice não é do diretor, mas do roteirista Eric Roth. A direção, na verdade, é muito boa. E as atuações também merecem destaque, embora deva dizer que Brad Pitt atuou melhor quando estava velhinho do que quando se tornou um adulto enxuto – e sem maquiagem. O problema é o fato de que a gente acaba, mesmo que não queira, exigindo do diretor sempre obras parecidas. E este não é um suspense, mas um oscarizável. E eu tenho certa alergia a oscarizáveis.

Só que a coisa muda de figura. No último ato, o filme cresce como se fosse uma espada banhada no sangue do Vento Preto. É aí que começa a rolar um sentimento mais real. O longa se torna mais romântico e mais sensível, deixando de lado os sentimentos pasteurizados que o permeavam até então. E acabou por me emocionar. Tudo isso culmina num final extremamente lindo, provavelmente o mais belo e tocante do cinema desde o “iniciando ciclo da vida” de O Guia do Mochileiro das Galáxias. Admito, eu chorei. E daí engoli as lágrimas e fiz cara de macho para poder sair do cinema sem ficar com fama de mariquinha (um esforço em vão, considerando que acabei de contar isso para todo mundo que ler este texto).

Essa meia hora final fez O Curioso Caso de Benjamin Button passar da água para o hidromel (ei, eu não gosto de vinho) e mais do que dobrou a nota que estava destinado a levar (provavelmente ficaria na casa do 1,5 ou dois Alfredos). O problema é aguentar (me dói no coração escrever isso sem trema) duas horas para a parte boa finalmente chegar. Se você não se importa de esperar ou simpatiza com Oscarizáveis, assista. Se seus gostos cinematográficos são parecidos com o meu, assista também, mas espere passar na televisão.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
o-curioso-caso-de-benjamin-buttonPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Drama<br> Duração: 159 minutos<br> Roteiro: Eric Roth<br> Elenco: Brad Pitt, Cate Blanchett, Jason Flemyng e Tilda Swinton.<br> Diretor: David Fincher<br> Distribuidor: Warner<br>