Melyra – Catch Me If You Can

0

O Heavy Metal é um estilo totalmente dominado por estereótipos. Seja o Metal tradicional ou Thrash ou Power, já imaginamos uma banda formada por rapazes cabeludos vestidos de preto lançando mão de som pesado e técnico. É um estilo fechado. De vez em quando, surgem algumas bandas que ousam desafiar determinados paradigmas, a exemplo das bandas com vocais femininos.

Diante da pouca presença feminina no metal, a mídia especializada insiste em usar o termo Female Fronted Bands como um gênero específico. Entretanto, algumas vocalistas consagradas como Floor Jansen e Alissa White Gluz apontam a carga sexista do termo e argumentam que ele reduz e limita o papel das mulheres na cena e ainda supõe – de forma precipitada – que Nightwish, Arch Enemy, The Gathering, Within Temptation e Halestorm são a mesma coisa.

Mais raro ainda são bandas formadas inteiramente por mulheres. Fazendo um esforço (e sem consultar o Google), lembrei de três: The Iron Maidens, Judas Priestess e Nervosa. As duas primeiras são tributos a bandas icônicas e a terceira é um destaque do Thrash Metal brasileiro. O DELFOS me confiou a missão de adicionar uma quarta banda à lista, Melyra, com seu EP de estreia: Catch Me If You Can.

Formada por Fe Schenker (guitarra), Nena Accioly (baixo), Ana de Ferreira (bateria) e Mari Figueiredo (vocal), o Melyra é uma banda carioca que faz um som autoral pautado no Heavy Metal da década de 80 e “mostrando que metal está longe de ser só coisa de macho” (de acordo com o release).

O EP contém seis faixas e chama atenção pela qualidade técnica e consistência das composições dentro da proposta da banda. Todo aquele papo sobre não estereotipar bandas femininas como réplicas do Nightwish não perde a relevância considerando que o Melyra bebe em outras fontes: as melodias estão mais próximas do Iron Maiden e do Judas Priest.

A faixa de introdução é a instrumental Beyond Good and Evil (prelúdio bem ao estilo de The Ides of March, do Iron Maiden) e já emenda na excelente Nightmare #1 com destaque para a guitarra e para o inglês claro. Não me recordo de ter escutado alguma outra banda de metal com as letras tão fáceis de serem compreendidas e decoradas.

Silence, Catch Me If You Can e Trip to Hell, agradam principalmente pelo desempenho da vocalista Mari Figueiredo e lembram trabalhos do Judas Priest e da Doro Pesch, com riffs poderosos e refrões e backing vocals empolgantes típicos da década de 80. A balada Fly ficou um pouco fora de contexto levando em conta o peso das demais composições, mas se o objetivo era ter uma música de rádio, missão cumprida.

O EP surpreende e contraria a corrente de que inexistem boas bandas de metal na cena independente. As cariocas chegaram com o pé na porta e fiéis à sua proposta. Particularmente, fiquei um pouco triste por só ter conhecido o som delas agora. Enfim, antes tarde do que nunca. Agora é esperar por um álbum completo.