O primeiro Matrix é um clássico. Foi uma verdadeira (r)evolução para o cinema, desde a estética até os efeitos especiais, que chegaram a influenciar até mesmo grandes filmes, como Homem-Aranha, por exemplo (na cena que o sentido aranha se manifesta pela primeira vez, lembra?). Também foi responsável por acender discussões filosóficas do tipo: “o mundo onde vivemos é real?” Essa discussão, embora fascinante, já é antiga. Foi abordada em filmes como O Show de Truman e até mesmo pelos filósofos gregos, como a Alegoria da Caverna de Platão. Seu impacto foi tão grande que pode ser comparado a clássicos absolutos da história do cinema, como Star Wars, por exemplo.
Quatro anos depois, Matrix Reloaded chega aos cinemas. Algumas (poucas) pessoas gostaram. A maioria odiou. Eu, particularmente, ainda não me conformei com o fato de toda a estória do filme ser contada em uma única cena – o ininteligível diálogo com o arquiteto. Matrix Reloaded se deslumbra com sua própria estética e efeitos especiais, além da tal estrada construída especialmente para o filme e se esquece do principal – contar uma estória.
E onde Matrix Revolutions se encaixa qualitativamente falando? Sem nenhuma sombra de dúvida, anos-luz atrás de Matrix. O filme está mais próximo do Reloaded que do capítulo original, porém, ao contrário da segunda parte, Revolutions se deixa assistir sem maiores traumas e, se você esquecer que é continuação de um clássico do cinema, pode até se divertir bastante com o filme.
Revolutions começa um segundo depois do final de Reloaded e do jogo Enter The Matrix, além de ter várias citações ao desenho Animatrix. Neo está inconsciente e a nave Logos perdida em algum lugar do mundo real. Nenhuma retrospectiva ou auxílio ao telespectador é oferecido e isso faz falta, já que grande parte do público não jogou Enter The Matrix, nem assistiu Animatrix.
Neo está, na verdade, preso entre o mundo real e a matrix. O local é dominado por Trainman que, por sua vez, responde para o Merovingian. E lá vão nossos heróis Morpheus, Trinity e Seraph entrar em “negociações agressivas” com o dito cujo. Persephone (Monica Belucci), ao contrário do que parece à primeira vista, não aparece nessa cena apenas para mostrar seus voluptuosos seios. Pretendo escrever sobre essa e outras interpretações sobre o filme em um futuro-não-muito-distante, então fiquem ligados.
Paralelo a isso, as máquinas estão cavando em direção a Zion com o intuito de destruir impiedosamente todos os humanos que lá vivem. E é justamente este o maior pecado de Revolutions. Assim como a tal estrada construída para Reloaded, aqui os criadores ficaram tão deslumbrados com o quanto esta cena custou (mais do que a soma dos gastos dos dois filmes anteriores inteiros, dizem) que a estenderam por uns quarenta minutos (se não foi tanto, pelo menos pareceu) algo que poderia durar apenas uns cinco. A cena é excessivamente violenta e desnecessariamente prolongada, pois não conta com nenhum dos personagens principais e nada acrescenta à estória.
Isso é basicamente tudo que posso contar sem estragar nenhuma surpresa, mas tenha a certeza de que Matrix Revolutions ainda vai gerar muitas discussões. A questão que permanece, no entanto, é: seriam essas discussões reais ou apenas ilusões plantadas em nossas cabeças pelos irmãos Wachowski?