Bem, amigos… (ops, melhor não, já tem quem comece um assunto assim). O negócio é que vou expor algumas características da novelinha e deixar claro que não sou contra a mesma, mas a favor de um uso consciente dessa arm… ferramenta de mídia.
Está na cara que o público-alvo é infanto-juvenil, só que o tratamento é feito como se os jovens fossem estadunidenses. Por que não usar situações para conscientização de personalidades em desenvolvimento de um jeito menos leviano? Por exemplo, não é abordado, nem de leve, o perigo das drogas ou a banalização da violência e do crime em geral.
Defino leviano como: na mesma trama onde os jovens fazem propagandas de diversos produtos (o que influencia quem assiste e se identifica), também há quem pratique crimes e arme de jogar a culpa no rival. O problema é que quase nunca a coisa deixa claro que foi um crime cometido. Tratam como uma brincadeira que não pegou bem e, na minha humilde opinião, não destaca a verdadeira gravidade das situações. Já pensou num jovem que rouba e leva bronca como se tivesse respondido de forma mal-educada à professora?
Particularmente, sou fã dos anti-heróis e até dos vilões que se mostrem extremamente sarcásticos, cínicos e/ou arrogantes (vai entender), mas não é por pura implicância que fiz este texto. Até acho que dá para ser politicamente correto sem ser um bocó, mas não é o caso aqui. Os protagonistas (e a maioria esmagadora dos coadjuvantes) não têm mais profundidade do que uma folha lisa de papel almaço sobre uma mesa com tampo de mármore liso.
Já que se trata de uma emissora tão poderosa, tão assistida e com tamanho poder de formar opinião, acho eu que poderia fazê-lo de forma mais autêntica, sem tantos clichês e situações vexatórias de tão forçadas. Parece um O.C. que acontece na escolinha de Rebelde na Terra do Nunca (só isso para explicar tantos atores com mais de 20 anos. Penso no termo “adolescentes-prodígio de 23 anos” e começo a rir).
Cinco curiosidades sobre Malhação:
Na verdade, tudo lá faz brotar mais perguntas na minha cabeça do que pretensas sucessoras da Madonna no cenário pop-politicamente-incorreto. Mas vamos lá:
– Há quanto tempo não se vê alguém sequer mencionar a palavra academia na novelinha que se chama Malhação?
– Até alguns meses atrás – e por alguns anos – a música de abertura era uma do Charlie Brown Jr. E daí? Ocorre que é a mesma banda que, numa outra canção, canta: “Eu vejo na TV. O que eles falam sobre o jovem não é sério. O jovem no Brasil nunca é levado a sério”. Hipocrisia?
– Sempre é a mesma situação: adolescente pobre e adolescente rico se apaixonam, rola preconceito, armações e aventuras (iradas, alucinantes, do barulho, da pesada) e, no final, o vilão é pego e se redime (ou vai preso mesmo). Nunca esqueça da quantidade de personagens que se despedem das tramas indo para o exterior – com direito a finalzinho manjado do casal se reconciliando no último minuto antes do embarque de um dos dois (e, às vezes, até viajam juntos, dammit!).
– Personagens/atores negros são, em essência, serventes, inspetores, cozinheiras ou alívio cômico mesmo. Destaque mesmo só se a temática abordada na semana for o preconceito racial e social. Mais hipocrisia.
– Malhação é uma maravilha para quem quer aparecer para o mundo da atuação, com sua maioria de atores/modelos novatos ou para quem quer reaparecer, como é o caso de tantos atores/atrizes que ficam sumidos até darem as caras por lá.
Não precisa ter a complexidade de um Seinfeld, mas poderia ser menos americanóide, não?