Madagascar 2

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O primeiro Madagascar foi uma grande surpresa. Poucos provavelmente acreditavam que a Dreamworks fosse ter outra animação tão legal quanto Shrek. Para falar a verdade, acredito que o sucesso surpreendeu até a própria Dreamworks. O filme conseguiu colocar cinco personagens entre os mais queridos do cinema (os quatro pingüins psicóticos e Julien, o lêmure), além de ter também uma daquelas cenas clássicas das quais todo mundo se lembra em detalhes, até quem não assistiu (eu me remexo muito e tal).

Três anos depois, os gigantes de Nova Iorque voltam em uma nova aventura. Aliás, não só os gigantes, mas todo mundo que importa, como os lêmures Julien, Maurice e Mort (aquele pequenininho e irritantemente fofo), os pingüins psicóticos (é claro), os macacos “ingleses” e até aquela velhinha lutadora da cena do metrô. Ao tentar escapar de Madagascar, todos ficaram presos na África, onde o leão Alex reencontra sua família. E logo no início, a impressão é de que os diretores estão querendo nos convencer de que, sim, isto é Madagascar e essa seqüência não vai trair o movimento, pois logo todos os personagens mais queridos aparecem e temos até uma reprise da festa dos lêmures, com uma nova versão da musiquinha clássica supracitada. E, amigo delfonauta, como esse começo é bom.

Sem nenhum exagero, cinco minutos depois que o filme começou, meus olhos já estavam cheios de lágrimas de tanto rir. Quinze minutos depois, meus músculos da bochecha já estavam doendo por ficar tanto tempo na posição “gargalhal”. Fala sério, acho que não ria tanto como nessa primeira meia hora desde que assisti ao grande clássico da comédia, Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado.

Esse começo é tão absurdamente bom que já estava considerando presentear Madagascar 2 com o título de melhor filme do ano. Infelizmente, ele não segura a onde e cai. Muito. Ok, todo mundo já imaginava que logo viria uma partezinha triste que estragaria o filme, como em toda animação. O que ninguém esperava é que essa parte seria tão ruim. Poxa, todo mundo brigando com todo mundo, banimento, separações, possíveis mortes. Caramba, não se transforma uma divertida comédia nonsense em um melodrama assim de uma hora para a outra. Poderia até ter algum conflito e uma aventura, mas os roteiristas passaram do limite. Depois de tanto rir, as piadas simplesmente param e o filme se torna chato, clichezento e triste além do necessário.

A sensação do espectador nessa mudança de rumo é que estávamos assistindo a algo do Monty Python em sua melhor forma e, de repente, chega a nossa avó e muda o canal para o SBT, onde está passando Topázio ou alguma outra novela mexicana. E, desta forma, Madagascar 2 conseguiu ser chutado para fora da minha lista de melhores do ano.

Depois de um tempo de melodrama, a comédia volta e os últimos minutos são bem legais, engraçados e fofinhos. É simplesmente uma pena que tenham cismado de deixar aquele melodrama do meio tão… bem… melodramático. Uma simples lição de amizade já seria suficiente para diminuir a nota, mas os caras exageraram na dose.

Felizmente, eles também exageraram na dose do humor. E quando é engraçado, é realmente muito engraçado. Temos várias piadas inocentes e fofas, que as crianças vão adorar, mas também temos muitas referências à cultura Pop (a do episódio do Além da Imaginação é hilária, ainda que já tenha sido tão feita e refeita quanto as câmeras girando do Matrix) além de piadas mais adultas que exigem um nível mais alto de repertório. Não é nada grosseiro ou algo assim, mas rola um certo veneno que muito me agrada, inclusive com algumas piadas sobre separação de classes, comunismo e coisas do tipo.

Dos novos personagens, merece destaque o Moto Moto, dublado pelo carinha do Black Eyed Peas, Will.I.Am. Normalmente eu sou contra pegar não atores para fazer algum papel, mas a voz de gostosão à Barry “come’ere, babe” White que ele emprestou ao hipopótamo o deixou simplesmente hilário. E, nesse caso, é um elogio especificamente à atuação impagável do cara, não à forma como o personagem é tratado pelo roteiro, que é bem comum.

Da turminha já conhecida, obviamente as melhores cenas são as protagonizadas pelo Julien e pelos pingüins, que estão tão psicóticos quanto antes. Simplesmente não dá para não gostar dessa turminha. Mas para falar a verdade, nem o sempre chato Chris Rock está mal aqui.

Madagascar 2 é um filme excelente, sem dúvida alguma o mais engraçado do ano (quiçá até dos últimos anos). Infelizmente, o melodrama do meio impede que se torne realmente uma obra-prima. Deviam lançar uma versão do diretor mais curta, onde manteriam só o começo e o fim. Enquanto isso não acontece, fique com essa versão mesmo. Afinal, se você compartilha da filosofia do lêmure Julien e acha que rir é uma experiência muito legal, não vai se decepcionar.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
madagascar-2País: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Comédia / Melodrama<br> Roteiro: Etan Cohen, Eric Darnell e Tom McGrath.<br> Elenco: Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer, Jada Pinkett Smith, Sacha Baron Cohen, Cedric the Entertainer, Bernie Mac, Alec Baldwin e Will.I.Am.<br> Diretor: Eric Darnell e Tom McGrath<br> Distribuidor: Paramount<br>