O delfonauta certamente já sabe, até porque estava contando os dias para a estreia nacional de Machete e sacrificando os bodes para ele não ir direto para vídeo. Mas para os que não sabem, este filme foi baseado no trailer de mentira abaixo, filmado como uma piada a ser incluída no projeto Grindhouse.
De lá para cá, anos se passaram e Danny Trejo se tornou um ícone da macheza sem nunca ter protagonizado um filme. O sucesso foi tanto que acabaram fazendo um filme baseado no trailer. Bem-vindo à resenha delfiana de Machete. =)
Tudo que você precisa saber sobre o filme pode ser resumido em duas frases. Primeira: é um filme B. A segunda está no trailer: “se você vai contratar Machete para matar o vilão, é bom ter certeza que você não é o vilão”. Isso resume tão bem o filme que eu nem vou tentar criar uma sinopse diferente por aqui.
FILME B
É comum as pessoas me perguntarem o que diabos é um filme B, e eu costumo explicar da seguinte forma: um longa normal fica o tempo todo tentando te convencer de que ele NÃO é um filme. Um filme B fica piscando a toda hora para a plateia, te lembrando que é apenas um filme, uma brincadeirinha.
Agora veja bem, essa última frase não deve levar você a deduzir que um filme B deve quebrar a quarta parede. Na verdade, ele pode te lembrar de que é apenas um filme de várias outras formas, como através do exagero, da trilha sonora, da estética, enfim. Claro, eu poderia me estender aqui falando da história do gênero, como chegou a isso e afins – e talvez faça isso, mas em outra matéria. Para o contexto dessa resenha, esta resumida explicação basta.
E, se de fato faltou ao projeto Grindhouse alguma sustância além da estética, Robert Rodriguez parece ter aprendido com seus erros, e Machete é um filme B em todos os aspectos. E é excelente.
Sem exagero, eu não ria e me divertia tanto na frente de uma tela há muito tempo. Machete é absurdo atrás de absurdo, diálogo ridículo atrás de morte ridícula, personagens ridículos atrás de uma história ridícula. E é exatamente por isso que ele é tão legal.
É interessante ver como as cenas do trailer foram encaixadas em um roteiro mais padrão – muitas vezes de forma diferente do esperado. Também é curioso constatar os vários atores que foram mantidos para o filme de verdade – e os vários que não foram, sabe-se lá porquê.
Ver essas cenas no filme foi legal durante a sessão, mas admito que fiquei meio decepcionado ao assistir ao trailer depois e ver que várias de suas melhores cenas NÃO estão no longa.
Também me decepcionei pelo fato de que vários personagens importantes não morrem pelas mãos do protagonista. Na real, ele só mata bandidos genéricos – não me lembro de nenhum dos principais vilões que de fato sofreu uma morte matada na sua mão, o que chega a ser até propaganda enganosa.
DANNY TREJO
O lado mais curioso, no entanto, é o próprio Danny Trejo – o ator que nunca tinha de fato atuado. Ao finalmente vê-lo em um papel de destaque, podemos constatar quão sortudo ele é. Por um lançar de dados do destino, foi colocado num papel de um trailer que nunca deveria ser mais que isso, e virou celebridade cult da noite para o dia. E não só isso, mas aquele trailer acabou virando um filme de verdade, com ele no papel principal.
É fato que se existisse alguma intenção de transformar Machete num filme, Rodriguez possivelmente teria escolhido um ator melhor. Isso porque o cara é MUITO ruim. E não ruim intencionalmente, esquema filme B, mas ruim MESMO. Quase tipo filme brasileiro ruim. E Rodriguez sabe disso, tanto que, embora seja o protagonista, o personagem mal fala. Seu papel é basicamente fazer cara de mau e parecer legal segurando uma machete. =)
Porém, é fato que ele é carismático e não é tão ruim quanto os atores nacionais, que chegam a comprometer todo um filme com sua incapacidade. Além disso, esse approach mudo dado ao seu personagem me lembrou os primeiros papéis do tremendão Arnold Schwarzenegger, tipo o primeiro O Exterminador do Futuro. Vamos ver se a carreira dele segue o mesmo caminho da do governator. Vai saber, o Danny Trejo pode ser o presidente dos EUA um dia.
LAS PALABRAS FINALES
Machete é um filme com tanto orgullo mexicano que os mariachis provavelmente terão cumshots involuntários ao assisti-lo. É tudo tão exagerado que é seguro dizer que ninguém vai levar este filme a sério – e nem deveria. A verdadeira questão é se você vai entender a brincadeira – e entrar nela – ou vai simplesmente considerá-lo uma porcaria ridícula e sem noção. Seja qual for o seu lado, você está certo. Particularmente, eu curti pra caramba!
CURIOSIDADES
– Fico pensando como os cineastas que faziam filmes B no início, quando o gênero era sinônimo de baixo orçamento, se sentiriam ao assistir Machete, um longa de ação com orçamento milionário e um elenco pra lá de estrelado.