Admito, quando li a sinopse desse desenho, fiquei realmente cabreiro. Por um lado, tinha uma certa vontade de assistir pois, como o delfonauta já sabe, adoro animações. Mas por outro, eu odeio lições de moral (pois é, eu sou um paradoxo ambulante, mas quem não é?) e, quando você já consegue perceber qual é a lição do filme pela sinopse, algo não vai bem. Saca só:
Lucas é um nerd que vive apanhando dos babacas da sua escola, que acha que podem bater nele só porque ele é menor. Por causa disso, o moleque acaba descontando a frustração em um formigueiro que fica no quintal de sua casa. O que ele não sabe é que as formigas vivem em uma sociedade muito mais evoluída do que a nossa e cada jato de água que ele joga em direção à casinha delas é o equivalente a um dilúvio. Temendo por suas vidas, o feiticeiro das formigas inventa uma poção que vai deixar Lucas do tamanho de uma formiga para que, assim, elas possam matá-lo. Mas a rainha pensa diferente e, ao ter Lucas indefeso à sua frente, decide fazê-lo entender como vive a sociedade das formigas e, de quebra, o garoto vai acabar aprendendo uma lição de companheirismo, amizade e blá-blá-blá. Blergh!
Se o delfonauta compartilha de minha ojeriza por lições de moral, sem dúvida a essa altura ou mudou de resenha ou está fazendo uma daquelas caras de nojo bem caprichadas, certo? Pois é, eu também estava quando li o release. Mas veja só, eu estava errado. Lucas – Um Intruso no Formigueiro não só é muito legal, como é, disparado, a melhor animação do ano, batendo os gigantes da Dreamworks e da onipotente Pixar, que levou o troféu por vários anos seguidos.
Agora, se não me falha a visão (pois é, eu enxergo através do monitor da sua casa – que bagunça, hein, meu?), o delfonauta está com uma cara de “cuméquié? Melhor que Carros, é?”, e eu respondo, “Sim, meu amigo. Pois confesso aqui que discordo do meu amigo Cyrino que fez a resenha do dito-cujo e que o considero o pior longa da Pixar até o momento (embora, ainda assim, seja bem legal)”.
Embora a lição de moral esteja presente em Lucas, em nenhum momento ela chega a ser didática ou pentelha. Na verdade é mais uma mensagem do que uma lição, se você entende a diferença. Trata-se basicamente da história de um moleque que aprende que “a vítima de uns é o valentão de outros” e que “o maior de nossos problemas é que ninguém tem nada a ver com eles”. Mas tudo isso embalado por muito humor. E humor do bom, daqueles que você ri pra caramba.
Claro que dois pontos ajudam muito no sucesso do filme. O primeiro é o design cabulosamente tremendão. Se tecnicamente, Lucas não é uma ameaça ao esplendor visual dos longas da Pixar, definitivamente não deixa nada a dever no quesito design. Todos os personagens são bem diferentes um do outro, e não existe qualquer dificuldade para diferenciarmos uma formiga de outra (o que deve ser bem difícil de conseguir nesse caso). Ainda existem muitos outros bichinhos além das formigas que contracenam com o diminuto moleque e todos eles, além de muito fofinhos, têm aquele tipo de visual que só de olhar, você já ri. Faço um destaque especial para o simpático besouro alegrinho, o personagem mais divertido do filme. Isso, somado a uma das trilhas sonoras mais legais dos últimos tempos, demonstram o cuidado investido aqui. Ah, sim, também não posso esquecer de citar duas tremendas cenas de ação (sim, você leu direito), que não deixam nada a dever a nenhum Testosterona Total da vida. É exatamente o que fala no pôster: “Uma batalha épica de pequenas proporções”.
O segundo ponto positivo é a dublagem, ao menos a versão original, que foi a que assisti. O elenco conta com grandes nomes, como Julia Roberts, Nicolas Cage, Meryl Streep e, preparem-se, nerds, Bruce Campbell. Pois é, delfonauta, o Ash em pessoa dá as caras, ou melhor, a garganta, aqui. E, é claro, com basicamente o mesmo personagem de sempre, ou seja, ele mesmo. E, como sempre, arranca boas risadas. Provavelmente só isso já vai ser razão suficiente para levar o Cyrino ao cinema (lembrando que o cara não é um fã de animações). E, sinceramente, se você curte comédias e desenhos, deveria ir também. Se não pelo Bruce Campbell, pelo design tremendão ou por todo o resto que falei aqui, vá para se divertir com uma boa história. Infantil, sim, mas no melhor sentido da palavra. Afinal, se você já teve contato com crianças, sabe que elas definitivamente não são retardadas. Infelizmente, a maior parte dos filmes voltados a elas se esquece disso.