Eu não gosto de festivais. Via de regra todo mundo que está lá vai para assistir menos da metade das bandas escaladas, fica extremamente cansado, entediado a maior parte do tempo e passa muita sede. A escalação das bandas é um problema praticamente sem solução, porque, a não ser que seja um festival muito focado em um único estilo, é impossível agradar a todos. Na verdade a única constância em qualquer festival é essa irregularidade (tanto que aqui, duas bandas abaixaram a nota do festival como um todo) Agora o problema da água foge à minha compreensão. Não consigo entender o motivo de ser tão cara nesses eventos. Isso prejudica todo mundo, pois alguém com sede se diverte menos. E mesmo que você compre água, não vai poder comprar o quanto seu organismo precisa. Eu, pelo menos, se comprasse tudo que precisasse de água em um festival, gastaria entre 20 e 30 reais, o que é um absurdo. Acho que esses lugares deveriam ter bebedouros, pois ao contrário de cerveja, esfihas e coisas do tipo, água é tão essencial como banheiro para um evento que dura muitas horas como esse.
Felizmente, a produção do Live ‘n’ Louder maneirou no sadismo e liberou a entrada de copinhos de água. Sabendo disso, um dia antes fui ao mercado e estoquei os bichinhos para não sofrer tanto nos shows. E, no fim, acabou não sendo necessário, pois a sala de imprensa tinha água liberada. Também tinha um computador que imagino que deveria servir para fazer atualizações em tempo real nos sites credenciados, mas todas as vezes que entrei lá, tinha alguém no Orkut. Tsc, tsc.
Aliás, admito que realmente não estava esperando que o DELFOS fosse credenciado para esse show, já que normalmente eventos grandes são mais difíceis de conseguir. Infelizmente, apenas uma credencial foi fornecida e, ao contrário do que normalmente acontece, essa credencial não dava acesso ao chiqueirinho dos fotógrafos. A assessoria ficou de mandar fotos do evento na segunda, dia 16, para ilustrar a matéria (não mandou), mas por que eu usaria fotos genéricas de divulgação quando tenho fotógrafos plenamente capacitados no site? A moça com quem falei sobre isso disse que foram solicitadas três vezes mais credenciais de fotógrafos do que de repórter. Isso é bem estranho, mas a meu ver, denota que existiam ali fotógrafos sem veículos, então o que diabos eles vão fazer com as fotos? Colocar em fotologs? Acredito que o certo seria credenciar as duplas repórter/fotógrafo solicitadas e, se sobrasse, aí sim partir para esses independentes. Mas enfim…
A quantidade de Alfredinhos aí do lado é a média tirada pela soma de todas as notas individuais, divididas pela quantidade de shows assistidos (que foram nove). Para mais detalhes sobre cada show, leia as resenhas individuais abaixo e boa diversão.
GOTTHARD – mulheres, palminhas e uma “hell of a party”
As duas primeiras bandas escaladas para tocar eram o Massacration e o Mindflow, mas não assisti aos shows delas. Programei-me para chegar no Anhembi às 13:30, horário marcado para o início da apresentação do Gotthard. Estava lá nesse horário, mas foi um pouco complicado descobrir onde estavam sendo distribuídas as credenciais e, enquanto usava de minhas habilidades investigativas, ouvi do lado de fora a tremendona All We Are.
Quando peguei a credencial, tive uma surpresa: a garota disse que eu teria acesso à área VIP o que não aconteceria segundo o e-mail enviado para nós. Infelizmente, estava acompanhado e não abandonaria minha companhia ao relento apenas para assistir aos shows mais de perto, certo? Então fiquei a maior parte do tempo na pista com os demais mortais. 🙂
Bom, até me posicionar e pegar meu bloquinho de notas, All We Are já tinha chegado ao fim. O vocalista Steve Lee, de camisa social e um visual à David Coverdale prometeu uma hell of a party e mandaram ver em Dream On.
Também tocaram, entre outras, Hush (de Joe South, mas mais conhecida em sua versão do Deep Purple), Top of the World, I Wonder, Said and Done, Anytime Anywhere e a divertidona Lift U Up, que levantou até os mais apáticos com seu refrão empolgante.
Shows de Hard Rock, via de regra, são bem legais e o do Gotthard não decepcionou. É engraçado como, sempre que eles pediam para o público gritar ou algo do tipo, se ouviam principalmente vozes femininas. A vida de um hard rocker deve ser mesmo muito boa. O único pecado do show foi sua duração (outro problema de festivais).Uma banda tão legal como eles mereciam uma apresentação mais longa. Mas já que eles não tiveram esse tempo no festival, você pode se divertir com os caras lendo nossa entrevista exclusiva com a banda.
Nota: 4
PRIMAL FEAR – O fiasco
O Primal Fear é uma banda de palco. Se seus discos não me empolgam, seus shows, por outro lado, estão entre os melhores a que já assisti. Infelizmente, eles vêm me decepcionando muito ultimamente. Para começar, a falta de profissionalismo quando fui entrevistá-los, sobre as quais você já leu aqui. Para o Live ‘n’ Louder, deveria tê-los entrevistado novamente, mas NOVAMENTE, eles furaram. De acordo com a Nuclear Blast, a culpa foi do produtor do show, que não passou os horários em que a banda estaria disponível no hotel e, a julgar por quão bravo ele soava ao me contar isso, eu acredito nele, mas é muito chato quando você se esforça para pesquisar e fazer uma entrevista tremendona e os caras furam. Principalmente se a mesma banda faz isso duas vezes. De qualquer forma, vou tentar entrevistá-los por telefone. Não é a mesma coisa, mas é melhor que nada, certo?
Agora algo que não teve nenhuma explicação foi a vergonhosa performance da banda neste festival. É bizarro que a mesma banda esteja nos dois pontos da minha lista de melhores e piores shows a que já assisti, mas os alemães conseguiram essa façanha. A começar por um setlist muito mal escolhido e, para piorar, com uma qualidade sonora de dar vergonha.
Não se sabe o que aconteceu com o Primal Fear, mas pode deixar que, se eles algum dia não furarem uma entrevista conosco, perguntarei sobre isso. O fato é que o som estava uma porcaria, bem inferior ao do Gotthard, o que não faz muito sentido. Quase não se ouvia o vocal e, em uma banda como essa, isso acaba com boa parte da graça.
A própria banda não fazia nenhuma questão de esconder sua insatisfação. Ralf fazia gestos (provavelmente para o responsável pelo som do seu microfone) avisando dos problemas, mas era tudo em vão. Em determinado momento, exclamou em alto e bom som (o único momento em que algo em alto e bom som aconteceu durante seu show) “it’s the fucking channel”, algo como “é a po**a do canal”, mas não adiantou.
Para terminar, a atitude mais anti-profissional que já vi, Ralf fala que estão tendo problemas técnicos e que não é culpa deles e simplesmente saem do palco, cortando o show sem aproveitar todo o tempo a que a banda tinha direito. Ora, problemas técnicos acontecem, mas eles têm solução. Poderiam ter feito uma pausa para corrigir e continuado depois, mas fugir do problema é errado. O som do Stryper estava bem pior e nem por isso a banda parou de tocar, apenas para citar um exemplo.
O setlist teve as músicas Demons and Angels, Rollercoaster, Nuclear Fire, Seven Seals, Angel in Black, Running in the Dust e Final Embrace, esta última com a participação de Renato Tribuzi e de Roy Z que, sinceramente, não fizeram nenhuma diferença.
Um setlist mal escolhido e encurtado, som ruim e uma péssima atitude da banda em lidar com os problemas tornaram este, possivelmente, o pior show da história da banda alemã.
Nota: 0
AFTER FOREVER – apenas um Nightwish genérico?
Aqui começava a parte do Live ‘n’ Louder em que viria uma seqüência de bandas das quais eu, ou não gostava, ou não conhecia o suficiente. Como o delfonauta dedicado certamente já sabe, não sou um fã de Gothic Metal e tinha ouvido muito pouco a banda da vocalista Floor Jansen.
As primeiras músicas foram bem pesadas e me surpreenderam pela semelhança com Nightwish. Depois o show deu uma esfriada e ficou um pouco mais leve. O centro das atenções era, obviamente, a cantora “Chão” Jansen que, embora não seja tão bonita como Tarja, usa bem mais da sensualidade em seus movimentos e, principalmente, em sua roupa.
Sua presença de palco é bem legal, principalmente quando bate cabeça da mesma forma que faz Blackie Lawless, o que definitivamente não é normal vermos uma garota fazendo. A guria também falou algumas coisas em um português praticamente sem sotaque, o que foi bem legal. A banda fez até uma referência a I Was Made for Lovin’ You, do Kiss. Pena que não tocaram a música inteira.
Algumas músicas tocadas foram Emphasis, Digital Deceit, Being Everyone e Face your Demons, durante a qual Floor usou um chifrinho na cabeça. Uma banda bem simpática, uma vocalista sensual e um som pesado, embora um tanto morno, fizeram deste um show acima da média, que poderia ter sido melhor se tivesse sido mais curto.
Nota: 3
DORO – Troféu simpatia
A Doro Pesch é uma gracinha. Não me refiro aos atributos físicos da moça como normalmente o pessoal faz, até porque ela já é uma veterana do Metal, mas sim à simpatia até exagerada da moça. Ela entrou no palco sorrindo e não parou de sorrir em nenhum momento de toda a sua apresentação. Falou bastante com o público e soube animar o pessoal, até mesmo aqueles que não conheciam seu material.
Particularmente, acho que o som dela é meio sem sal, embora a considere uma ótima vocalista, mas não dá para não se contagiar com o carisma e simpatia com que ela canta. No dia seguinte ao show, fiz uma entrevista exclusiva com ela (quando tirei a foto que ilustra este texto) e, novamente, a moça se mostrou muito simpática, às vezes até demais, mas você lê mais sobre isso quando publicarmos a conversa.
Infelizmente, ela também teve problemas com o som. Durante Burning the Witches, talvez uma das músicas mais esperadas de seu setlist, sua voz sumiu completamente. Curiosamente, Doro continuou cantando e sorrindo como se nada tivesse acontecido, o que me levou a indagar se os retornos estavam funcionando normalmente. Tendo percebido ou não, ela agiu profissionalmente e os problemas acabaram sendo resolvidos.
Os grandes destaques do setlist foram a versão para Breaking the Law, do Judas Priest, que tem o dobro da duração da original, já que foi transformada em uma daquelas músicas lentas que depois ficam pesadas na linha do Iron Maiden. Também merece ser destacada a extremamente pegajosa All We Are, que é daquelas que, dois shows depois, você continua com o refrão na cabeça.
Este foi o primeiro show a utilizar uma iluminação mais caprichada. Seu setlist foi bem escolhido, mesclando músicas do Warlock com a da banda Doro. Outras músicas tocadas foram I Rule the Rules, Live to Win, Metal Racer. True As Steel, Above the Ashes, Burn it Up e Hellbound. O som não faz muito meu estilo, mas foi definitivamente um bom show como, aliás, costumam ser todos os concertos de bandas alemãs (o que deixa o “fiasco Primal Fear” ainda mais inexplicável).
Nota: 4
NEVERMORE – Troféu tédio
Cara, esse foi um show chato. Lembro que, há alguns anos, se não me engano quando eles lançaram Dead Heart in a Dead World, uma grande revista especializada nacional enchia a bola dos caras absurdamente, o que me deixou bem curioso para conhecê-los. Embora não seja meu estilo preferido, eu gosto de Thrash, mas quando coloquei minhas mãos no Nevermore, achei extremamente chato, muito inferior a bandas como Exodus e Annihilator, e não conseguia entender porque a revista em questão achava o som deles tão empolgante.
Bom, o show seguiu o que era esperado pelas composições: tédio. É incrível, mas até o timbre de voz de Warrel Dane quando conversa com o público é chato. O cara parecia estar mais entediado no palco do que eu estava na platéia. Se não fosse o “fiasco Primal Fear”, este teria sido o show mais chato do festival. Ah, sim, foi o primeiro a utilizar o telão e uma iluminação completa.
Algumas das músicas tocadas: Narcosynthesis, Inside Four Walls, The Heart Collector e Born.
Nota: 1
SEPULTURA – O batismo de fogo de Jean Dolabella
O Bruno, grande fã do Sepultura, tinha se referido a esta formação sem nenhum Cavalera como um “Sepultura paraguaio”. Concordo com ele, já que a banda sempre teve nos irmãos sua principal identidade. Assistir aos caras sem nenhum dos dois é mais ou menos a mesma sensação que temos ao ver o Creedence Clearwater Revisited, ou seja, uma banda cover de respeito.
Não é segredo que eu também não sou um grande fã dos caras, mas admito, depois do Nevermore, até o Sepultura me pareceu legal. Já assisti a uns três shows deles e não vi novidades em nenhum. No geral, é sempre uma banda competente e com muita presença de palco, um setlist bem escolhido e os fãs indo ao delírio. Tudo isso estava presente no Live ‘n’ Louder.
Como não conheço as músicas a fundo, não posso afirmar com certeza, mas tive a impressão que a bateria estava bem menos “batucada” do que costumava ser quando era tocada por Iggor, o que a deixa bem mais genérica e tira um pouco do diferencial da banda. Não estava ruim, estava comum, se você entende a diferença.
Uma parte diferente do show foi quando Andreas chegou ao microfone para dizer algo como “Tricolor é campeão”, apenas para ser xingado pela galera. Já o Derrick é um cara muito simpático. Em determinado momento, alguém do público gritou “Filha da pu*a” e ele respondeu “Ô, boca suja! Caral*o, po**a!”. Dá até uma certa pena se você pensar que o próximo passo lógico da banda (não ouvi isso em nenhum lugar, é apenas uma dedução minha) após essa turnê seja chutá-lo para a volta de sua formação clássica, com os dois Cavalera.
De qualquer forma, o setlist escolhido foi sem dúvida de pirar os cabeções daqueles que gostam da banda. Saca só algumas das porradas tocadas: Refuse/Resist, Convicted in Life, Dead Embryonic Cells, Choke, Troops of Doom, Beneath the Remains, Territory, Arise e Roots Bloody Roots.
Nota: 4
ATRAÇÃO SURPRESA: A banda do Dedé
Essa atração surpresa não teve muito de surpresa. Dado o horário em que ela tocaria, a lógica de que eles não colocariam uma banda internacional sem divulgar o nome e o fato de o Sepultura já estar no evento, era óbvio que só poderia ser alguma coisa relacionada às outras duas únicas bandas realmente grandes de Metal nacional: o Angra ou o Shaaman.
Para piorar, não tinha muita surpresa também porque, no livretinho do evento, tem uma página com caricaturas de todos os músicos, sendo que um estava apagado. Na página ao lado, tinha uma foto da camiseta com o mesmo desenho, mas agora era possível vermos uma caricatura do André Matos no lugar do músico misterioso. Para eliminar todas as dúvidas, vimos um cara com a camiseta do festival com todas as atrações escritas, inclusive o nome: Andre Matos. Logo, ninguém se surpreendeu quando, após uma introdução deveras longa e pomposa, Matos entrou correndo no palco como fez desde a época do Angra.
Durante os intervalos, tiramos muito sarro dessa atração surpresa. Ficamos pensando que, quando ele entrasse correndo e pegasse o microfone, ao invés de gritar “boa noite, São Paulo”, como sempre fez, podia exclamar “surpresa!”, seguido de “nós somos a banda do Dedé!”. Infelizmente, como já disse antes, a galera do Metal não sabe se divertir. Mas se ele fizesse isso, ia definitivamente ganhar meu respeito. 🙂
Acompanhando Dedé, estavam os ex-Shaaman Fábio Ribeiro e os irmãos Mariutti, além de Rafael Rosa na bateria e André Hernandez na guitarra. Pois é, amigo delfonauta, a Banda do Dedé era basicamente o Shaaman sem o Confessori e com um guitarrista extra. Aparentemente, os direitos sobre o nome eram do baterista (o que é deveras estranho, já que, via de regra, bateristas não são os membros mais importantes de uma banda) e, por isso, o nome não pode ser utilizado sem sua presença. Nenhum nome oficial foi dado para esta banda, portanto, para esta resenha, ela foi batizada de Banda do Dedé. Se os caras quiserem utilizar oficialmente esse nome, é só entrar em contato comigo para a gente negociar. 🙂
Sinceramente, fiquei bem decepcionado com o fato de a Banda do Dedé contar novamente com o guitarrista Hugo Mariutti. Não gosto do cara como guitarrista e achei que o fim do Shaaman poderia ser uma possibilidade de Matos voltar a fazer um estilo de música mais apropriado para sua voz e cantar novamente como fazia antes.
O show contou com as seguintes músicas: Distant Thunder, solo de bateria para mostrar que Confessori não faz falta, Nothing to Say, Living for the Night, Fairytale, Unfinished Allegro/Carry On e uma música inédita cujo nome não foi dito, que abriu a apresentação.
A banda tinha pouco tempo para tocar e aproveitou muito mal, gastando preciosos minutos com a introdução e com Unfinished Allegro em playback. As escolhas de músicas também deixaram a dever, pois acredito que todos os presentes preferiam que as músicas do Shaaman escolhidas fossem as ótimas Pride e For Tomorrow no lugar das duas chatinhas que tocaram. Isso sem falar nessa mania que eles têm de tocar músicas que ninguém conhece ainda.
Sempre que a banda parava de tocar, também era possível ouvir uns manés gritando coisas como “bicha” e “Saxon”. Provavelmente esses caras acharam que o Shaaman estava substituindo o espaço que era do Saxon e não sabiam que sua apresentação já estava programada desde antes dos ingleses furarem. Agora quanto à sexualidade do Andre, isso sinceramente não me importa. Afinal, não tenho a menor intenção de ser groupie do cara, portanto saber se ele prefere homens ou mulheres é tão importante quanto saber se ele prefere ruivas ou japonesas. E concordo com o que disse o amigo Thiago Cardim: se eles têm algo contra vocalistas com trejeitos gays, deveriam ir embora agora, já que a seguir temos o Stratovarius e o David Lee Roth.
Apesar dos problemas, é impossível não se contagiar com as fenomenais Nothing to Say, Carry On e Living for the Night, cada uma tirada dos três melhores discos de Rock nacional, na minha opinião. Faltou Carolina IV, mas quem sabe essa também volte para o setlist quando a Banda do Dedé tiver mais tempo para tocar.
Nota: 4
STRATOVARIUS – A grande surpresa
Esse foi um show de pirar o cabeção. O Stratovarius sempre foi uma das minhas bandas preferidas, mas depois de toda a novela envolvendo a banda nos últimos anos e de dois discos que vão de medianos a ruins (me refiro a esse e esse) seguindo aquele que considero o melhor da banda (o Elements Pt. 1), achei que eles nunca mais iriam fazer algo digno de seu passado, o que foi corroborado pela apresentação sem sal que eles fizeram no Olympia no ano passado.
E aparentemente a novela iria continuar, pois o roadie da banda armou um barraco no intervalo após o show da Banda do Dedé, brigando com alguém pelo microfone por causa de algum problema com o som. Aparentemente, o Stratovarius estava determinado a não repetir o “fiasco Primal Fear”, nem que tivesse que lavar roupa suja diante de milhares de pessoas e fazer o intervalo mais longo do dia. Aliás, por que finlandeses gostam tanto de lavar roupa suja em público?
Seja como for, o esporro deu certo, pois o som dos finlandeses foi simplesmente o mais claro e cristalino que já ouvi em um festival e isso já foi perceptível pela introdução, a música clássica Pompa e Circunstância, de Edward Egar que o delfonauta menos erudito deve reconhecer como a “música de formatura”.
Enfim, a banda sobe ao palco com o clássico Hunting High and Low. Normalmente, acho que as bandas devem abrir shows com suas músicas mais rápidas e empolgantes, como o Whitesnake faz com Burn, mas não dá para negar, Hunting High and Low é perfeita para essa função. Além de ser uma música muito legal e gostosa de se ouvir, é completamente sing-along e, mesmo não sendo rápida, é muito empolgante. O show dos finlandeses começava bem e continuou tremendão com a rapidíssima e cheia de solos masturbatórios Speed of Light (como você já deve saber, eu adoro esse tipo de solo). Foi um tanto frustrante quando, durante o solo, a banda parou de tocar para cumprimentar o público, mas felizmente, logo o restante da canção foi tocado.
Surpreendi-me com o visual do guitarrista Timo Tolkki que, após receber livros sobre cabala de duendes e tirar fotos sujo de sangue, estava com cabelo bem curto e um tanto estranho. Por mais que ele seja extremamente talentoso e tenha composto algumas das minhas músicas e letras preferidas, não dá para ter outro sentimento hoje, olhando para ele, que não seja pena, dado tudo que aconteceu nos últimos anos. Espero que ele vença seus problemas e volte a nos brindar com as belíssimas canções que apenas ele é capaz de compor.
A seguir veio Kiss of Judas, música da qual eu, particularmente, não gosto, mas que sempre estará presente em um show deles. Para compensar, mandaram Phoenix, uma das minhas preferidas e que eu achava que nunca mais ouviria ao vivo. A essa altura, foi bizarro reparar no tamanho da bateria. Minúscula, lembrava até aquelas baterias utilizadas por bandas de pagode nos programas vespertinos de domingo. Não fez muita diferença no som, apesar de tudo.
Então Kotipelto anuncia que vão tocar uma música que nunca tocaram antes no Brasil, tirada do disco Destiny (segundo ele) e mandam a chatinha e desnecessária Abyss of your Eyes. Curioso que o próprio vocalista da banda não saiba de que disco vem a música, não? Para aqueles que quiserem saber, ela é do Visions.
A tremendona Against the Wind vem depois, seguida das chatinhas A Million Lightyears Away e Will My Soul Ever Rest in Peace?, que foram a parte morna do show. Antes da Million, Kotipelto disse que essa era uma melodia bem conhecida por aqui e eles não sabiam disso, se referindo ao fato de ela ser praticamente um plágio não intencional da famosa Amigo, do Roberto Carlos.
A próxima é a mais recente que eles tocaram, Eagleheart, a única tirada do maravilhoso Elements Pt. 1, que considero o melhor álbum da banda. Father Time, talvez a mais empolgante música dos sujeitos vem a seguir. Depois de uma tão rápida, nada como dar uma relaxada. Tolkki pega um violão e, junto com o tecladista Jens Johansson mandam um trecho da 9ª Sinfonia. Pois é, delfonauta, o Stratovarius tocou Beethoven, emendando-a a uma das mais belas baladas do Metal: Forever.
Para terminar o melhor show do festival, mandam dois clássicos do Visions: Paradise e Black Diamond e saem do palco ovacionados, após darem o melhor show do Stratovarius que já tive o prazer de presenciar. Assisti a todos os shows que os finlandeses fizeram em São Paulo desde sua primeira visita, na turnê do Visions e esse foi, sem dúvida, o melhor. Eu definitivamente tinha me esquecido de como essa banda podia ser boa e quão cativantes são suas melodias e letras. Uma aula de Heavy Metal Melódico, da qual muitas bandas poderiam tirar lições valiosas. Parabéns ao Stratovarius e faço votos de que esse show tenha sido apenas o primeiro passo para o retorno da banda à qualidade musical e lírica do passado.
Nota: 5 + Selo Delfiano Supremo (para fazer a média, vou substituir o selo por dois pontos extras, totalizando uma nota 7 para este show)
DAVID LEE ROTH – Hard Rock, baby!
Se você já leu isso aqui, sem dúvida sabe que o Van Halen é quem me trouxe para o Rock e é minha banda do coração. A minha banda preferida, como conjunto da obra, é o Gamma Ray, mas em valor sentimental, o Van Halen ganha disparado. Ao contrário da imensa maioria, gosto bem mais da banda com Sammy Hagar do que com David Lee Roth, mas justamente pelo fato de Sammy ter uma nova banda (Waboritas) e uma carreira muito mais respeitável que David (e pela impossibilidade de ver o VH completo), sem dúvida se fizesse um show solo por aqui tocaria, se muito, umas três ou quatro músicas da banda que o consagrou, enquanto Roth fez um setlist deveras inteligente, tocando quase tudo que os fãs queriam ouvir.
O único membro realmente conhecido da banda que o acompanhou foi o baterista Jimmy DeGrasso (ex-Alice Cooper, Ozzy Osbourne, Suicidal Tendencies, Lita Ford, Y&T e Megadeth), mas também contava com o baixista Todd Jensen (Hardline, Harlow, Ozzy Osbourne, Alice Cooper e Paul Rodgers). A difícil tarefa de tocar linhas de guitarra originalmente tocadas pelos tremendaços Eddie Van Halen e Steve Vai foi responsabilidade de Brian Young (ex-Jeff Scott Soto e Human Clay) e Toshi Hiketa (The Hideous Sun Demons) que, embora fossem dois fazendo o trabalho que originalmente foi de um, mandaram muito, mas muito bem mesmo, dada a dificuldade extrema de seguir os passos de dois dos mais virtuosos guitarristas do mundo.
Para mostrar que não estavam de brincadeira, a banda já entrou no palco mandando ver em Eruption. Pois é, pois é, pois é, delfonauta, aquele dificílimo solo extremamente punhetado que colocou Eddie Van Halen no patamar de um dos melhores guitarristas do mundo, de onde nunca mais saiu. Obviamente, não foi tocada na íntegra, até porque era um show de vocalista, não de guitarrista, mas já mostrou que os caras não estavam para brincadeira. Era praticamente uma hora da manhã e todos estavam muito cansados, mas para ouvir clássicos do VH, eu ficaria lá até as cinco da matina, se fosse necessário.
O show seguiu sem surpresas e o setlist foi praticamente aquele que já tinha sido anteriormente divulgado. A primeira música foi a preferida de muita gente, Hot for Teacher, e que atire a primeira pedra aquele que nunca teve tesão por uma professora! Dave sobe ao palco sem suas tradicionais madeixas, causando muito estranhamento. Sim, amigão, Roth está de cabelo curto e está muito parecido com um ator de sitcoms cujo nome não me recordo, mas é o marido da vizinha gostosa da série Joey, aquele spin-off de Friends. Durante as partes faladas da música, Dave fala em português. Aliás, quase tudo que o cara disse no show foi em algo meio “portunglês”, extremamente difícil de entender. Particularmente, preferia que ele falasse apenas em inglês para conseguirmos entender mais facilmente, mas provavelmente o cara quis ser simpático.
Sua presença de palco me lembrou um pouco o Ozzy, algo meio sem jeito e nada natural. Ele pulava (bem baixo) e dava chutinhos, mas não parecia o mesmo que estamos habituados a ver nos clipes. Seu sorriso também é muito estranho e, se eu tivesse tido permissão de tirar fotos, você provavelmente concordaria comigo ao vê-las.
A próxima foi Mean Street, música da qual não gosto muito. Em seguida veio California Girls, do Beach Boys, mas gravada por Dave em sua carreira solo. A essa altura, duas coisas já podiam ser comprovadas: a banda não era muito boa apenas instrumentalmente, mas também humilhava no quesito backing vocals, todos muito parecidos, para não dizer iguais, às versões de estúdio. E olha que os backings de estúdio do Van Halen estão entre os melhores e mais bonitinhos da história do Rock. Infelizmente, a segunda coisa já não era positiva e era a constatação de que, desde a época em que estava na banda dos irmãos holandeses, David não melhorou em nada seu vocal (e quem já viu/ouviu o VH ao vivo na época há de concordar comigo). Continua cantando fora da melodia, desafinando e errando as letras ou simplesmente parando de cantar em alguns pedaços. É seguro dizer que, para Dave, a música vem em segundo plano, o show é mais importante.
Felizmente, o cara tem carisma para dar e vender e não parava de tirar sarro da banda e mesmo das pessoas que estavam trabalhando próximo ao palco. Em determinado momento, virou para um câmera e exclamou: “Você é do showbusiness? Então sai do meu palco, po**a!”. Claro, para o público, esse tipo de coisa é divertido e tal, mas deve ser extremamente irritante para quem tem que conviver com o cara no dia a dia.
As próximas foram a fofa Just Like Paradise e a semi-pesada Running with the Devil. Veio um solo de guitarra para que o vocalista trocasse de roupa (de seu terninho brilhante para algo menos chamativo). Durante a seguinte, You Really Got Me, a música faz uma paradinha com alguns improvisos e Dave apresenta a banda.
Durante Beautiful Girls, o cara exclama super alto “I forgot the fuckin’ words!” (esqueci a maldita letra!). O que para qualquer um é uma falta de profissionalismo e um erro, para Dave acaba sendo mais um sinal do despojamento que reina no seu show. Afinal, o cara não está lá para dar um show de técnicas vocais (o que acredito que ninguém esperava dele), mas para dar um show de diversão, o que faz muito bem. Ah, sim, e o cara não esqueceu o beijinho que encerra a música.
Somebody Get me a Doctor foi a próxima, seguida de Jamie’s Cryin, que é a única música que eu não gosto do primeiro álbum do VH. Aliás, fica a dica: para todos que gostam de uma guitarra tremendona e de um Hard Rock cujo único objetivo é a diversão (a música mais longa do disco é Ain’t Talkin’ ‘Bout Love, que tem três minutos e 47 segundos), esse é um álbum maravilhoso (aproveite e compre a coletânea, que tem várias músicas desse disco, clicando aqui). And the Cradle Will Rock dá seqüência e encerra o período morno do show.
A surpresa foi Just a Gigolo. Quem conhece a música sabe que ela não tem nada de Rock e é cheia de instrumentos de sopro, então estava bem curioso para ver como seria a versão do show. Ela começou lentinha, mas depois até que foi bem fiel à original. O sax, por exemplo, foi feito na guitarra. Não sei como, mas ficou bem parecido. No final dessa música, tem uma parte onde o coralzinho repete o que Dave fala, mais ou menos como acontece em Twist and Shout. Perfeito para o showman dar (mais) uma zoada com a banda, mudando a letra para piadas como “gotta say the words” (tenho que repetir as palavras) e coisas assim (e a banda repetia o que ele falava, não a letra original). É o tipo de coisa que pouca gente deve ter percebido, mas em um show desse tipo, é preciso estar atento a todos os detalhes para maximizar a diversão. Com tudo isso, Just a Gigolo foi um dos grandes destaques do festival.
A próxima foi Unchained, que também teve uma paradinha e durante a qual Dave ficava fazendo bocas sensuais para a câmera, que acabavam sendo mesmo é caretas que faziam todo mundo rir. Mais uma parte morna enquanto o vocalista vai trocar novamente de roupa e a banda fica tocando um blues bem chatinho. Dave volta e conta uma historinha da mesma forma que os bluesmen do Mississipi costumavam fazer. Particularmente, eu dispensava essa parte. Felizmente, a seguir viria um desfile de grandes clássicos que, se você não conhece, deveria, pois são músicas que fazem parte da história do Rock.
Abrindo o desfile de clássicos, tivemos Panama. Desnecessário dizer que todo mundo, e eu realmente quero dizer TODO MUNDO, acompanhou a banda no refrão. A seguir viriam duas das minhas preferidas. A primeira foi a fofucha Dance the Night Away, que eu cantei inteirinha junto com Dave e com os coraizinhos da banda. Aqueles menos fanáticos, contudo, cantaram apenas na tradicional paradinha em que o vocalista convidava todos a cantarem o refrão com ele.
A outra das minhas preferidas é praticamente desconhecida e foi uma grande surpresa vê-la no setlist anteriormente divulgado do show. Trata-se de Ice Cream Man, delicioso e pesado blues presente no primeiro álbum da banda, e que conta com um dos melhores solos de Eddie Van Halen (reproduzido com perfeição no show) e uma letra deveras maliciosa e muito engraçada (“todos os meus sabores têm satisfação garantida”). A parte mais lenta da música foi tocada apenas por Dave, que pegou um violão para reproduzi-la. Foi realmente muito legal vê-la ao vivo, mas tive a impressão que ela foi encurtada.
A próxima foi Everybody Wants Some!, que ficou meio chata, principalmente por causa de uma parte no meio onde a música parou e Dave ficou imitando moto com a boca.
Uma das preferidas do público era a próxima: Ain’t Talkin’ ‘Bout Love que, infelizmente, ficou bem ruinzinha e acabou sendo a grande decepção desse show, pois é, também, uma das minhas preferidas do VH.
A banda sai do palco para enrolar e dizer que deu bis, enquanto um tecladinho bizarro fica tocando em playback e o pessoal pedindo por Jump. Pouco depois, o tal teclado começa a tocar notas conhecidas e banda e público ficam pulando sem parar. Obviamente, era Jump, talvez a música mais conhecida do Van Halen e a mais esperada por muitos dos presentes. Jump encerraria o festival, por volta das duas e meia da matina. Do setlist anteriormente divulgado, ficou faltando Yankee Rose, sabe-se lá o motivo, já que o show de Dave durou apenas 90 minutos. Uma pena, pois essa é uma das músicas mais legais da carreira solo de Dave. Também gostaria de ter ouvido a empolgante I’m the One, mas ninguém conhece essa, então já era esperado mesmo que não tocassem.
David Lee Roth não é um vocalista, é um showman, o que ficou bem claro durante o show. O cara está para o visual e personalidade padrão do Hard Rock como o Judas Priest está para o Heavy Metal. Vê-lo ao vivo foi uma experiência única, que eu nunca achei que teria e que provavelmente não terei de novo. Parabéns ao Live ‘n’ Louder por, em dois anos, terem trazido dois headliners tão tremendões (ano passado foi o Scorpions). Se a tradição continuar, podemos esperar no futuro por grandes shows de Hard Rock. Dizem as más línguas que a produção está de olho no Mötley Crüe (para delírio do Bruno) e do Twisted Sister (para meu próprio delírio). Boa sorte para eles, espero que consigam trazer essas e muitas outras boas bandas no futuro. E que o “fiasco Primal Fear” nunca mais se repita.
Nota: 5
Após esse show, já era tarde, muito tarde, e eu não poderia descansar no dia seguinte, pois estava com a entrevista da Doro marcada. Essa vida de jornalista é muito cansativa, meu.
Curiosidade: Este texto ficou ainda mais longo do que esse tornando-se o maior publicado no DELFOS até o momento e aquele que levou mais tempo para ser criado (pouco menos de seis horas). Espero que você tenha se divertido lendo-o, pois fiquei praticamente um dia inteiro construindo-o. 🙂