Não vamos fazer mistério, até porque você já olhou a nota que eu sei. Little Nightmares é um jogaço. Não apenas como uma grande surpresa, mas com potencial de estar na minha lista de melhores do ano ao lado de jogos AAA como Resident Evil 7 e Nioh. Pois é, ele chegou quietinho, na sua, e acabou detonando com as expectativas.

PEQUENOS PESADELOS, GRANDES MEDOS

Não dá para evitar a comparação, então vamos fazê-la logo. Little Nightmares tem muito de Limbo, mas é um dos melhores exemplos de uso positivo de influências nos games. Sim, ele lembra o clássico da Playdead, mas consegue criar sua própria identidade e ultrapassar o seu mestre. Se pá ele consegue até ser melhor do que Inside, e você sabe que Inside é deveras tremendão.

Curiosamente, o movimento funciona de forma diferente. É um jogo 2D, mas é um 2D como os clássicos beat’em ups dos 16-bit. Ou seja, apesar de a câmera ser fixa com uma visão lateral, você não fica limitado a andar para a direita e esquerda, mas também pode ir para cima e para baixo. Isso, por si só, já o deixa bem diferente de suas inspirações.

Não pense que é um beat’em up no entanto. Muito pelo contrário, a menina que você controla é totalmente indefesa, podendo apenas fugir ou usar de sua inteligência apurada para sobreviver. Claro, quão apurada será a inteligência dela depende um bocado do jogador, mas vamos fazer de conta que somos inteligentes.

Em seu âmago, Little Nightmares mistura platformers com puzzles, mas não demora para você começar a ser perseguido por uma pá de criaturas estranhas, que são bem maiores do que a protagonista e têm um visual caprichado e assustador. Aliás, simplesmente não dá para colocar defeitos no visual. O troço é simplesmente tão bonito que dá a sensação de estarmos jogando uma animação em CG dirigida pelo Tim Burton.

A jogabilidade, por outro lado, não é tão apurada, e é comum você morrer porque a mocinha não foi para onde você mandou, especialmente porque quase todas as perseguições exigem passar por buracos pequenos pelos quais seus perseguidores não conseguem passar. Isso se torna ainda mais grave graças aos longos loadings toda vez que você morre. Não são problemas graves, longe disso, mas afetam a experiência o suficiente para custar ao jogo o Selo Delfiano Supremo.

CORRE, PULA, SEGURA, ESCONDE

Apesar do visual moderno, os controles são simples como os de jogos antigos. Você basicamente corre, pula e segura, e seus obstáculos sempre são vencidos por uma combinação dessas habilidades. Sabe o que ele me lembrou, além de Limbo? Os antigos Prince of Persia, aqueles antigos mesmo. Little Nightmares não é tão aberto, você sempre tem um único caminho para seguir, mas a sensação de correr, pular e segurar nas coisas lembra bastante o jogo que colocou a Ubisoft no mapa. E isso muito me agrada.

O que Little Nightmares faz de melhor, no entanto, é aquilo que tantos jogos de terror tentam alcançar, mas poucos conseguem: a criação de um clima opressor e caprichado, que realmente é capaz de deixar o jogador tenso, mesmo quando não estiver sendo perseguido por nada. Isso é conquistado por uma azeitada mistura do seu visual sensacional com um design de som que valoriza o silêncio com sons bem colocados. E sim, eu sei que parece contraditório.

Little Nightmares é bem mais longo do que os jogos da Playdead nos quais se inspira, mas mesmo assim não espere por uma experiência que dure muitos dias. Ele é breve, mas é intenso, e bom em toda sua duração. Inevitavelmente, vai ter momentos em que você não saberá o que fazer, mas nunca o negócio chega a ser chato ou frustrante, um equilíbrio realmente difícil de ser alcançado.

No final das contas, o que temos aqui é um jogão com cara de joguinho. Uma obra-prima que só não é perfeita por sua jogabilidade não ser ideal. Ainda assim, é um lançamento que deve ser jogado por todo mundo que tem algum interesse em jogos de terror ou de plataforma. Se você gosta dos dois, então, está esperando o quê?