E lá se vão 20 anos de carreira do Korzus, umas das mais importantes bandas do Metal nacional, mas que nunca foi reconhecida como uma potência dentro de nossa cena e nunca estourou como deveria.
Os paulistanos fazem parte do seleto grupo dos pioneiros brasileiros do Heavy Metal e começaram em 1984 na famosa coletânea SP Metal II do selo Baratos e Afins. A “Baratos”, como é carinhosamente conhecida, é uma das lojas pioneiras especializadas apenas em discos e CDs de rock pesado desde os anos 80 e, em 1983, lançou o projeto SP Metal, uma coletânea que reunia diversas bandas de Heavy Metal e Hard Rock, da cena local de São Paulo que normalmente não teriam oportunidade (ou mesmo grana) para gravarem um álbum oficial. Com a participação na coletânea, poderiam ter seu nome divulgado de uma forma barata, mas funcional, já que o mercado brasileiro de Heavy Metal naquela época era sedento de novidades e os lançamentos internacionais do gênero chegavam a demorar anos até saírem por aqui. A iniciativa foi algo mais ou menos similar ao Metal Massacre norte-americano que revelou bandas como o Metallica e o Slayer, também no começo dos anos 80. Vale lembrar que a Baratos e Afins existe até hoje em São Paulo, e sua loja, atualmente, está localizada na Galeria do Rock, no centro da cidade.
Mas voltando ao Korzus, quem ouviu o som do da banda nos idos de 1985 e depois o que eles tocam atualmente, pode se surpreender. Hoje em dia temos uma banda de Thrash Metal muito técnica, que chega até mesmo a flertar com o Death em determinados momentos, muito diferente do Korzus de 1985 com letras em português (como as principais bandas de Metal brasileiras naqueles idos), pouca técnica mas muita energia. E é exatamente a consolidação e consagração definitiva do Thrash Metal técnico que você vai encontrar em Ties of Blood, o quinto e melhor álbum de estúdio da banda.
A influência do Slayer sempre foi marcante, não é à toa que os californianos são os primeiros na lista de agradecimento do encarte do cd, mas o Korzus agora conseguiu desenvolver um estilo bem característico. Para começar, temos os poderosos riffs de guitarra de Sílvio Golfetti. O cara está mandando muito bem e trouxe um lado técnico para a banda, sem abandonar a energia que os consagrou na década de 80 (ouça a faixa Punisher). Eu diria que ele, juntamente com o outro guitarrista, Heros Trench, fazem uma das melhores duplas de guitarristas que surgiram no Brasil nos últimos 10 anos. Os solos se destacam também, pois diferentemente de algumas bandas mais conhecidas do Thrash, o Korzus investe neste lado mais técnico e inova com solos bem trabalhados e duelos de guitarra.
Os vocais de Marcello Pompeu mudaram bastante nesses 20 anos e agora estão bem parecidos com o que Tom Araya fazia no auge do Slayer, na época do Reign in Blood. Marcello grita as letras sem piedade mas, em algumas músicas como Correria, ele consegue uma variação de voz muito interessante, pena que essa variação não é mais explorada nas outras faixas. A cozinha formada pelo veterano Dick Siebert e o novato Rodrigo Oliveira é maravilhosa, com uma pegada que eu não via há anos na cena thrash nacional.
O álbum ainda traz algumas participações especiais bem interessantes, como Hélcio Aguirra (ex-Harppia, atual Golpe de Estado – e aproveite para ler nossa entrevista com o Harppia aqui e aqui), Andreas Kisser (Sepultura), João Gordo e Boka (Ratos de Porão) e Andre Matos (Shaman, ex-Angra), em uma participação muito curiosa na música Evil Sight, onde ele arrisca um vocal mais gutural, totalmente diferente de tudo que já fez.
O Heavy Metal brasileiro atravessa um grande momento neste começo do novo milênio com bandas novas e veteranas apresentando ótimos trabalhos. Krisiun, Torture Squad, Shaman, Sepultura, Thalion, o novo do Angra que está para sair (e que vai trazer participação do Milton Nascimento!), e este cd do Korzus. Mais um ótimo lançamento para os amantes do Metal.