Kiss: Por Trás Da Máscara

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Eu adoro ler biografias de bandas. Não sei o motivo, mas me identifico demais com a história dos artistas, as dificuldades, estratégias de superação e principalmente o lance de calar a boca de todos que não acreditavam no sucesso. Após ler nos últimos anos ótimas biografias do Metallica, Judas Priest e Iron Maiden, fui atrás de uma que julguei ser no mínimo divertida e polêmica: a dos mascarados do Kiss.

Minha grande dúvida era: leio a biografia oficial ou a não-oficial? Pelo fato de o Kiss ser uma banda cheia de polêmicas, estava optando pela não-oficial, pois acreditei ser a mais “honesta”, afinal de contas, o grupo é conhecido pela música divertida, mas também pelo seu ótimo marketing, o que me levou a acreditar que as melhores histórias (aquelas de brigas nos bastidores), seriam limadas da versão oficial. Mesmo assim, o livro autorizado é mais grosso, completo, além de trazer uma cacetada de fotos muito engraçadas do começo de carreira. Comprei esta versão oficial por um preço camarada e divido agora com você as minhas impressões.

O livro pode ser dividido em quatro partes distintas. Na primeira, David Leaf transcreve uma entrevista que fez com toda a banda em 1979, no auge. Nesta fase, os integrantes (com um destaque óbvio para Gene e Paul) revelam um pouco sobre suas infâncias difíceis em Nova Iorque, mas não espere muitos detalhes. Tudo é rápido e, de repente, os caras já estão no palco tocando para milhares de pessoas com três álbuns nas costas. Para variar, esta parte segue à risca aqueles manuais de auto-ajuda de que você tem que trabalhar duro para conseguir realizar os seus sonhos. Imagino o Gene Simmons chorando na entrevista contando o quão dura foi sua infância e como é bom ser milionário. Mas ei, esta é a biografia de uma das maiores bandas de todos os tempos, cadê as curiosidades? Você pode ter ouvido falar que o linguarudo foi um professor do ensino fundamental antes dos seus dias de glória, mas e aí? Nada é aprofundado, o que é uma pena. No final, temos a impressão que o Kiss em 1979 era uma banda formada por amigos unidos e jamais se separaria. Ah, sim, e o Gene era apaixonado pela Cher.

A segunda parte começa com um tapa na cara do leitor. Sem nenhuma transição ou coisa do gênero, o autor transforma a banda fofinha do capítulo anterior em monstros desumanos que expulsaram Ace Frehley e Peter Criss em meio aos abusos de drogas e álcool. Se você achou o capítulo anterior rápido, aperte o cinto porque o piloto sumiu. Nosso amigo David engata uma 5ª marcha e resume 20 anos de história em cinco páginas! É sério. É quase como se o Kiss tivesse dado um tempo em 1979 para reaparecer em 1998, com o retorno da formação original e não tivesse acontecido nada nessas duas décadas. Álbuns fantásticos como o Creatures Of The Night e Revenge ganham meras linhas e os novos integrantes também entram e saem sem grandes explicações. Para piorar, intercalaram parágrafos com depoimentos de músicos de outras bandas sobre o Kiss. Se esses depoimentos fossem complementares à história, seriam até válidos, mas a esmagadora maioria diz coisas como “O Kiss é uma banda legal, gosto deles”. Catzo, será que não conseguiram alguém com coisas mais interessantes para dizer?

Até o momento, o livro é um desastre e você começa a se arrepender da compra, mas daí para frente, as coisas melhoram. Na terceira parte, temos um apanhado feito por Ken Sharp – fã de longa data – de várias entrevistas realizadas na época da reunião onde eles literalmente lavam a roupa suja em público. Não imaginava mesmo que fosse encontrar depoimentos tão pessoais em uma biografia autorizada do Kiss.

Na última parte, aí sim temos uma ótima justificativa para comprar o livro: a descrição faixa a faixa de todos os álbuns já lançados pelo grupo desde a primeira demo, incluindo aqueles trabalhos solo horríveis, que são literalmente massacrados, mas massacrados no pior sentido da palavra mesmo. Você chega a ter dó do Peter Criss quando lê o comentário dos outros sobre seu álbum solo. Mas de resto, são ótimos depoimentos de como nasceram grandes clássicos do Rock ´n´ Roll. Você sabia, por exemplo, que o Bryan Adams, sim, AQUELE Bryan Adams da trilha sonora do filme Robin Hood, é um dos responsáveis por uma das músicas mais pesadas da banda, War Machine? E que a Doro inspirou a criação de Unholy? Essas são apenas algumas coisas legais que você irá descobrir.

Algo que não posso deixar de mencionar é que o Kiss quebra todo conceito de banda que conhecemos. Gene conta sem vacilar que um determinado músico de estúdio tocava baixo melhor do que ele, portanto esse cara que gravou a faixa X ou então quando outro guitarrista contratado (não nosso amigo Ace) inventou um solo e colocou no disco, tudo em nome da perfeição, portanto se prepare para quebrar alguns paradigmas de imaginar que uma banda são apenas quatro ou cinco caras em um estúdio. E não adianta pensar que você é “saudosista” porque o Kiss já fazia essas loucuras nos anos 70, imagina como funciona hoje em dia.

Para complementar, temos várias fotos raras do começo de carreira do Kiss, incluindo as primeiras maquiagens (a do Paul Stanley era impagável) e alguns momentos Glam engraçadíssimos do começo dos anos 70.

No geral, o livro diverte e vale muito a pena nessas últimas duas partes. Se você for um fã da banda ou apenas um interessado na trajetória de um dos maiores nomes da história do Rock, pode comprar.

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Nota
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Alfredo De la Mancha
Alfredo é um dragão nerd que sonha em mostrar para todos que dragões vermelhos também podem ser gente boa. Tentou entrar no DELFOS como colunista, mas quando tinha um de seus textos rejeitados, soltava fogo no escritório inteiro, causando grandes prejuízos. Resolveu, então, aproveitar sua aparência fofinha para se tornar o mascote oficial do site.
kiss-por-tras-da-mascaraPaís: EUA<br> Ano: 2006<br> Autor: David Leaf e Ken Sharp<br> Número de Páginas: 479<br> Editora: Nacional<br>