Kiss & Melbourne Symphony Orchestra – Symphony

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Este é um típico produto da empresa Kiss, ou seja, 100% caça-níquel, mas é um caça-níquel extremamente caprichado.

Tendo isso em mente, é desnecessário dizermos que a parte técnica é primorosa, como em todo lançamento do Kiss. Imagem, som, menus e tudo mais que você possa imaginar são da mais alta qualidade.

Então qual é o problema? Para começar o preço. Na Galeria do Rock, a edição nacional deste DVD custa por volta de R$100,00. Numa loja de shopping então, não deve sair por menos de R$130,00. O DVD é duplo, porém isso não justifica um preço tão salgado. Aliás, o conteúdo do DVD também não justificam 2 discos. A apresentação é dividida em 3 atos. O show completo, que está no disco 2 dura 110 minutos. O disco 1 contém a história de como o show foi planejado, ensaios e etc. E depois disso, eles simplesmente repetem o Ato 3 da apresentação na íntegra, exatamente como está no disco 2. Sem dúvida, o documentário caberia no mesmo disco do show. Por que fazer isso? Ora, eles são o Kiss e fazem de tudo para aumentar os seus lucros, afinal, a maior parte das pessoas não gastaria R$100,00 em um DVD simples, mas em um duplo, vá lá. Mesmo que o tal DVD tenha praticamente o mesmo conteúdo nos dois discos.

Reclamações à parte, vamos falar do conteúdo em si. Apesar de ser um DVD nacional, ele não apresenta legendas. Então se você não fala inglês, pode jogar o disco 1 fora, já que sua principal atração é um documentário. Para aqueles que falam, o documentário é divertido, principalmente a parte que mostra os primeiros ensaios com a orquestra, que são bem atrapalhados. Curiosidade: os membros do Kiss falam sobre a idéia de tocar com orquestra como se ninguém nunca tivesse feito isso antes. Será que é possível que eles não saibam da gravação do Scorpions com a Filarmônica de Berlim em 2000? Ou antes disso, das incursões do Deep Purple com a Sinfônica de Londres em 1969 e 1999, que rendeu até uma turnê pelo Brasil, onde tocaram acompanhados da Orquestra Jazz Sinfônica? Com certeza sabem, mas tudo faz parte do tremendo jogo de marketing que envolve o Kiss desde o início de suas atividades. E mais, enquanto para o Deep Purple e para o Scorpions, tocar com uma orquestra é algo quase natural, já que ambos sempre flertaram com a música clássica em seus álbuns, para o Kiss soa forçado, pois sua música sempre foi um Rock and Roll extremamente simples, privilegiando a diversão sobre a técnica musical. Enfim, o dinheiro faz o mundo rodar, principalmente o mundo do Ki$$.

Terminado o documentário, chega a hora do show. Por algum motivo (provavelmente preguiça de arranjar todas as músicas para o novo formato), o primeiro ato do show envolve apenas o Kiss tocando suas músicas em seus arranjos já conhecidos. E são só clássicos. Já começam com Deuce, passam por Strutter e chegam até a tocar a ótima Calling Dr. Love, todas com execução perfeita em uma verdadeira superprodução.

O Ato 2 envolve o Kiss em formato acústico junto com a Melbourne Symphony Ensemble, ou seja, apenas uma parte da orquestra, tocando algumas baladinhas, entre elas, os hits Beth e Forever.

Enfim, chega a parte mais esperada. O Kiss com a orquestra completa, todos maquiados como a banda. E mais uma decepção. Ao contrário do Scorpions que, em uma real parceria com a Filarmônica de Berlim, refez todos os arranjos das músicas presentes em seu concerto, tornando-as completamente diferentes e muito mais legais, o Kiss simplesmente acrescentou os instrumentos da orquestra aos arranjos originais. Em outras palavras, o Kiss apenas contratou a orquestra para acompanhá-los. Não existe nenhum momento, durante todo o show, que a orquestra toque sozinha. “Mas que desperdício” era a única coisa que eu podia pensar enquanto ouvia pela primeira vez Detroit Rock City, onde o Kiss não aproveitou a orquestra para tocar uma das melodias mais agradáveis da banda – aquela do solo de guitarra, ou Great Expectations, que tem a participação de um coral de crianças (todas com a maquiagem do Kiss) apenas para cantar o nome da música. Algumas músicas que se beneficiaram mais da orquestra foram Do You Love Me, Love Gun e Shout It Out Loud, porém muito longe da brilhante Hurricane 2000 protagonizada pelo Scorpions e pela Filarmônica de Berlim. Aliás, justiça seja feita, se há algo que o Kiss fez melhor neste Symphony do que o Scorpions em seu Moment Of Glory foi a escolha do repertório. Enquanto o último decidiu privilegiar suas baladas e deixar as mais pesadas quase de fora, o Kiss não se fez de rogado e escolheu um setlist digno de Best Of, que dificilmente vai fazer algum fã torcer o nariz. Outro destaque: a Sinfônica de Melbourne detona a Filarmônica de Berlim no quesito presença de palco. Enquanto a orquestra que acompanhou o Scorpions fica sentadinha no seu lugar, se mexendo apenas para tocar seus instrumentos, a de Melbourne bate palma, canta e parece realmente estar se divertindo com o show – assista Rock and Roll All Nite e tente não achar engraçado um bando de senhores e senhoras trajados socialmente, com a maquiagem do Kiss na cara, em pés e batendo palma. Pura diversão, como aliás, o Kiss sempre foi.

A edição durante todo o show é ágil e rápida, dificilmente um mesmo ângulo fica na tela por mais do que dois segundos, lembrando a edição normalmente empregada em videoclipes. Depois de mais de uma hora de show, no entanto, essa técnica pode cansar um pouco, mas nada que chegue a comprometer a diversão.

Como extras, o DVD tem uma engraçada entrevista feita para um talk show australiano (sem legendas), seguida de uma performance acústica de Sure Knows Something acompanhados da Meulbourne Symphony Ensemble.

Não me entenda mal, Symphony é um ótimo show, mas, assim como o DVD do Shaman, era para ser muito mais do que isso. Em matéria de bandas de Hard Rock tocando com orquestra, ainda fico com o Scorpions, que pelo jeito vai permanecer no trono por um bom tempo.