Talvez você não se lembre do nome Neil Marshall, mas se é um delfonauta dedicado, sem dúvida lembrar-se-á de um dos filmes de terror mais tremendões dos últimos anos. Manja Abismo do Medo? Pois Neilove Marechal é a mente por trás dele.
Dessa vez, nosso amigo não nos leva ao mundo da espeleologia e das criaturas malvadas que vivem dentro das cavernas. Ao invés disso, nos transporta para o futuro, diretamente aos anos 80, antes do humor e do Schwarzenegger dominarem os filmes de ação. Lembra daqueles mundos cyberpunk, com violência exagerada e imagem escura? O mesmo gênero que inspirou boa parte dos games que jogamos hoje? Pois eles também inspiraram Marshall.
Tudo aqui exala anos 80. Se liga na sinopse: um vírus pintudão se espalhou por toda a Grã-Bretanha, que foi isolada do resto do mundo para conter a pandemia. Porém, muitos anos depois, existe uma esperança de cura. Assim, os governantes mandam uma “soldada” machona para entrar, matar um monte de gente, pegar a cura e sair. Mas isso não vai ser tão simples, pois os sobreviventes que sobraram se tornaram selvagens canibais e hedonistas. E eles estão com fome. Não, não são zumbis!
Como já deve ter ficado claro, não se trata de um Testosterona Total. O humor é quase inexistente e as cenas de ação são mais violentas do que exageradas. Tudo bem, tem uma parte em que um carro atravessa um ônibus, fazendo-o explodir enquanto o veículo menor sai sem nenhum arranhão. Mas isso não é exagero, é o poder das forças do bem! ^^
Assim, enquanto os filmes do Arnoldão faziam nossas versões crianças/adolescentes pirarem o cabeção forte e vibrarem com tanta diversão, esse é o tipo de longa que faria a gente querer sair da sala por não conseguir lidar com tamanha violência. Claro, hoje que somos homens adultos e abençoados pelo vento preto, não nos assustamos mais com algumas tripas e membros cortados, portanto podemos nos divertir como não conseguíamos na época que esse gênero transbordava nos cinemas.
Infelizmente, como agora somos homens viris e peludos, também percebemos mais os defeitos. E convenhamos, aquela parte medieval do meio não poderia ser mais paraquedista. O mesmo pode ser dito do retorno dos vilões punks, que encontram os mocinhos por acaso na estrada em que eles acabaram de escapar do mundo medieval.
A direção é ao mesmo tempo o maior trunfo e a maior fraqueza de Juízo Final. Não dá para negar que, em meio a suas muitas referências oitentistas, o senhorito Marshall dá um show de estilo. Porém, sua insistência em tremer a câmera irrita e piora consideravelmente alguns momentos que seriam deveras hell, yeah.
Como você já deve ter percebido pela resenha até aqui, esta é uma fita old-school, que lembra com carinho de uma época que não volta mais. Dessa forma, trata-se de uma obra que demanda um certo repertório. Felizmente, é exatamente o tipo de repertório que delfonautas têm de sobra. Se você tem uma relação afetiva com o mundo do cyberpunk e dos filmes de ação violentos, é imperdível.