System Shock Remake é um lançamento que muito me interessa pelo valor histórico. O System Shock original, de 1994, é uma grande influência de jogos que gosto muito, como Bioshock. Além disso, é um dos mais seminais games de immersive sim. O gênero em si não me agrada muito, mas títulos como Deus Ex, Prey e Dishonored devem muito a pioneiros como System Shock.
Aulinha de história concluída, vamos agora falar de System Shock Remake, game que sai amanhã para Windows, com versões previstas para consoles, mas ainda sem data. Eu tinha total intenção de jogar tudo no PC, e gostei do jogo o suficiente para querer jogar mais. Porém, um monte de pequenas falhas de qualidade de vida acumularam e me fizeram pensar que talvez seja melhor esperar a versão para consoles. No texto abaixo, vou elaborar como foi minha aventura, o que gostei do game, o que não gostei, e os motivos que me fizeram optar por esperar. Bora nessa?
SYSTEM SHOCK REMAKE
System Shock é pura atmosfera. Você é um hacker preso em uma estação espacial que foi para as cucuias. O lugar está todo quebrado e é habitado por mutantes, robôs hostis e outras criaturas. Mas ei, você é um hacker! Isso em 1994 era o mais próximo que um ser humano poderia chegar do Superman!
Como não joguei o System Shock original, tenho a sensação de que temos aqui um remake audiovisual, mas sem mudanças de gameplay. Assim, a jogabilidade parece bem datada. Você pode pegar qualquer porcaria, mas tem um inventário limitado que deve organizar manualmente, estilo Resident Evil 4.
A ideia é você pegar um monte de coisa inútil, levar para uma máquina de reciclagem, e daí ganhar uns trocados, estilo catador de latinha da era moderna. Com os trocados, você pode comprar comida, munição, etc. Só que é bem chatinho encher o inventário e não conseguir pegar uma arma decente por falta de espaço. Daí você precisa abrir o inventário, selecionar o que quer jogar fora e literalmente jogar para fora da maleta com o cursor. Ou então escolher se deseja vaporizar o item, para ganhar uma moeda menos valiosa. Item a item. Repita 50 vezes até liberar espaço. Um game moderno teria, por exemplo, a opção “vaporizar toda a sucata”, e isso deveria existir aqui. Mas não existe.
ENTRE TIROS E GOLPES
Como você pode pegar tudo, muitas coisas podem ser usadas como arma. Em pouco tempo de jogo, todos os meus quick slots estavam ocupados, e achei que estava com um arsenal completo. De jeito maneira, meu camarada! As armas, de fogo, golpe e de energia, continuaram vindo. E outro problema de qualidade de vida é que eu consegui descobrir como equipar qualquer arma, mas não como colocá-la no quick slot para selecionar com o direcional. Mas falamos sobre isso depois.
O combate não é o foco do jogo, mas até achei agradável. A munição é bem limitada, mas gostei do impacto das animações das armas de fogo. As armas corpo a corpo, curiosamente, têm menos impacto, mas até onde cheguei são mais recomendadas, já que não são limitadas por munição.
CYBERESPAÇO
System Shock é um daqueles jogos para serem descobertos. Solucionados, sabe? Seus objetivos são abertos, e para terminar a campanha, é necessário fazer uma pequena parte do que de fato dá para fazer. A estação tem vários andares, que fazem as vezes de fases, mas até onde joguei senti que você pode ir para onde quiser, desde que saiba como chegar lá.
Um exemplo disso é o cyberespaço. Se você lembra de Descent, sabe exatamente como funciona. São fases independentes de FPS em que você controla uma espécie de navinha, podendo ir para todas as direções. Cumprir uma dessas fases pode aumentar seu acesso. Mas de novo caímos na qualidade de vida.
Uma vez que você entra no cyberespaço, não dá para sair (ou pelo menos não descobri como). E mesmo que já tenha cumprido aquela missão, não tem nada que a marque como cumprida. Você pode fazê-la de novo sem querer, em busca de uma recompensa que já tem. E isso vai acontecer em um game tão focado em exploração. Especialmente se você não conseguir resolver cada problema assim que ele aparece.
SYSTEM SHOCK REMAKE PC
Apesar dos problemas de qualidade de vida que vou elaborar em breve, System Shock rodou muito bem para mim. Na resolução 1440, com tudo no máximo, estava tirando taxas de quadros acima de 120 o tempo todo em uma RTX 3070. O carregamento também é quase instantâneo, até mesmo para quick loads, o que é sempre uma mão na roda.
Eu gostei bastante do visual. Está longe de ser um blockbuster técnico (até por isso roda tão liso), mas é um game bonito e cheio de atmosfera. É o tipo de direção de arte que você até espera que seja um tanto amaciada, mas no meu monitor as cores aparecem de forma viva e vibrante, deixando ainda mais gostoso de explorar esta estação espacial altamente atmosférica.
QUALIDADE DE VIDA
Então acho que este é um bom momento para elaborar mais sobre os problemas de qualidade de vida que me fizeram parar de jogar. Segundo a página do game no Steam, ele tem suporte parcial a controle. Assim, mesmo jogando com um gamepad, eu precisava usar o teclado para funções que não existiriam de outra forma. Isso talvez não seja solucionado na versão de PC, mas se você gosta de ligar o computador e jogar na TV apenas com um controle, não é possível. Acredito que sempre será necessário ter um teclado por perto.
Porém, tem coisas que acredito que serão resolvidas, mas que deixaram jogar muito mais chato do que deveria ser. Por exemplo, ele não salva nenhuma das opções. Resolução, qualidade, customização dos controles. Tudo que você modificar vai sumir. Ao fechar o game, tudo volta para o padrão.
Além disso, mesmo no padrão, parece que há controles mapeados errados. Tem uma grande quantidade de funções mapeadas para a alavanca direita, inclusive correr e navegar pelo inventário rápido. Porém, isso não corresponde ao que acontece no jogo. Para correr, por exemplo, você segura a alavanca esquerda (sem opção de toggle). Enquanto isso, navegar no inventário usa o direcional digital. Então não dá nem para confiar no menu de mapeamento para saber o que faz o quê.
Por exemplo, no cyberespaço, o menu me dizia que eu subiria e desceria com A e B. Porém, essas ações aconteciam quando eu apertava o L1 e L2. Assim, era muito comum eu ficar tentando fazer coisas que qualquer jogo permitiria (como reciclar todo o inventário de uma vez), mas sem conseguir ter certeza se isso é uma bug ou uma feature. Mais de uma vez, eu sabia o que precisava fazer, mas não sabia quais botões apertar para tomar aquela ação. Daí simplesmente não dá para jogar.
SYSTEM SHOCK REMAKE E A MASTER RACE
System Shock é um game que até o momento só esteve disponível para computadores. Talvez a dificuldade de portá-lo apropriadamente para controles seja o que está atrasando as versões de console. Ou talvez não. Mas o fato é que, neste momento, System Shock só pode ser devidamente aproveitado com mouse e teclado. E eu, particularmente, não tenho mais vontade de jogar assim. Porém, mesmo se o encararmos como um jogo feito para jogadores de PC apenas, ainda há coisas em que esta versão falha, como ao não salvar resolução e opções de qualidade.
A Plaion disponibilizou System Shock para nós com uma bela antecedência, e inclusive joguei numa versão beta fechada com senha para “review”. Já tive algumas experiências com isso antes, e depois que o jogo sai, a gente tira do beta e recebe todas as atualizações (mas não dá para jogar sem estar no beta antes do lançamento). Assim, acredito que coisas que citei aqui como o não salvamento das opções, já estejam resolvidos para quem for jogar no PC após o lançamento.
Agora se você, como eu, gosta de jogar no sofá, com um controle nas mãos, talvez valha a pena esperar a versão de console. System Shock é um game trabalhoso, e que portanto exige um conforto que eu, pelo menos, não tenho para jogar no escritório. Assim, ainda pretendo terminar System Shock um dia, mas creio que vou esperar a versão de consoles para fazê-lo esparramado no sofá.