Este trabalho aqui no DELFOS é sempre cheio de surpresas e novidades, o que torna tudo mais divertido, é claro. Quando o Corrales me escalou para fazer uma resenha do CD do Imagery, não conhecia a banda e não fazia ideia do que esperar. Quando fui ouvi-lo, comecei a pensar que fazia muito tempo que eu não me dedicava a ouvir o CD de uma banda na íntegra sem conhecê-la, apenas para me arriscar e apreciar o trabalho. Tinha me esquecido como esta experiência pode ser divertida e, por sorte, o Imagery foi uma boa surpresa.
A banda, formada por Joceir Bertoni (vocal/guitarra), Ricardo Fanucchi (baixo), Henrique Loureiro (teclados) e Bruno Pamplona (vocal/bateria); é de Londrina, Paraná, e tem uma proposta de fazer um som progressivo misturando bastante peso e um vocal agressivo.
Esta mistura funciona bem, e as influências de The Inner Journey são bem claras. Com certeza você vai reconhecer passagens que lembrarão bandas setentistas de rock progressivo. Entre as influências citadas pela própria banda estão o Yes, Rush, Genesis, etc. Realmente não dá para negar tais influências, apesar do peso presente nas músicas, que dá uma cara mais moderna às composições.
Mas é claro que, por se tratar do primeiro CD de uma banda, erros e tropeços acontecem, e os principais são relacionados à sonoridade. Por ser guitarrista, dou mais atenção a ela, é claro, e realmente não gostei de alguns dos timbres usados. O tecladista também arriscou sonoridades diferentes, algumas funcionando muito bem, outras nem tanto. Em Start the War, por exemplo, ele se arrisca em um timbre que lembra um som saído de um videogame oito bits. Essa exploração é interessante e necessária, mas vai agradar alguns e pode deixar outros incomodados.
A banda peca também pelas repetições desnecessárias de ideias. Algumas passagens se repetem em várias músicas e algumas das surpresas que o progressivo geralmente traz, como mudanças de tempo, variações e paradas, se tornam previsíveis e muitas vezes questionáveis. O vocal agressivo foi uma boa adição, mas o vocalista não parece estar à vontade com aquilo, muitas vezes mais recitando a letra do que cantando. Por isso, o vocal me agradou mais nas partes lentas, onde mostrou mais musicalidade. Para encerrar, algumas “sujeiras” em excesso na gravação acabaram diminuindo a nota geral.
Apesar das críticas, The Inner Journey de forma alguma é um CD ruim. A primeira faixa, a instrumental Fourth Secret, já mostra claramente que a banda tem bastante potencial e que o trabalho que fizeram realmente vale ser ouvido. Por se tratar de um álbum de estreia, é normal a banda beber em fontes já conhecidas e ainda buscar sua própria identidade, que deve aparecer melhor nos próximos trabalhos. Além disso, problemas de timbre e gravações serão resolvidos com a experiência.
Antes de encerrar, um comentário sobre a capa: achei muito bonita a mistura de cores usadas, e realmente merece ser destacada. Ela foi feita pelo antigo baterista da banda, Luciano Neves.
The Inner Journey é um bom trabalho de uma pedra ainda bruta do nosso rock progressivo brasileiro. Com certeza o pessoal do Imagery ainda terá muito a nos mostrar e espero que ótimas surpresas ainda venham da banda. Os delfonautas que ficaram curiosos podem embarcar sem medo nestas viagens.