Ilha do Medo

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O amigo delfonauta é fã do Martin Scorsese? Sem dúvida o sujeito é um grande diretor, de excelentes habilidades e predicados. Porém, a meu ver, ele carece de um sério problema de administração de tempo. O filme vai passando, passando, passando, e nada acontece. Daí, no final, acontece um monte de coisa de forma extremamente corrida.

A impressão que me dá é que o sujeito gosta muito de desenvolver personagens. Até aí tudo bem, mas o ideal seria fazer isso ao mesmo tempo em que a história é contada. Afinal, ficar duas horas desenvolvendo personagens e daí tentar contar uma boa história nos últimos 15 minutos não é uma boa.

Vejamos Taxi Driver, um de seus maiores sucessos e talvez o filme do sujeito que mais me agradou. O que acontece nele? Nada. O De Niro é um taxista que fica levando pessoas pra lá e pra cá, daí ele fica amiguinho da parceira do Bruce Willis em A Gata e o Rato, conhece a Jodie Foster quando ainda era uma atriz mirim e continua levando pessoas aos seus destinos. Daí, nos últimos minutos (últimos mesmo), ele ativa o modo berserk e pipoca uns manos. E o filme acaba, pouco depois de começar.

Não, nenhum filme do sujeito dá a impressão de ser realmente ruim. Até porque, como disse acima, ele tem excelentes predicados como diretor, faz planos lindos e muitas outras coisas legais. Porém, ainda está para fazer um filme que saia dessa fórmula (ou seria melhor dizermos “prisão”?) Taxi Driver.

Parece que não falei nada de Ilha do Medo, né? Pois aí que está. Já falei quase tudo que tinha a dizer, pois se trata de um típico Martin Scorsese, ao contrário do que o intrigante trailer dá a entender.

Sinopse: Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo (que dupla, hein? Um menos carismático que o outro. Deviam ter pego o Jason Statham e o The Rock! =P) são dois agentes enviados a uma ilha que abriga pessoas criminosamente insanas à Asilo Arkham. Você sabe que asylum em português é manicômio, né? O fato de um lugar tão importante na mitologia do Batman ser traduzido errado só mostra a falta de capricho dos nossos profissionais. Provavelmente eles nem perceberam que o “Asilo” Arkham abrigava loucos criminosos, não velhinhos inocentes abandonados pelas suas famílias…

Enfim, eles vão para esse manicômio porque uma paciente deveras perigosa escapou e cabe aos dois encontrá-la. Porém, logo tudo vai se revelar uma conspiração e nossos amigos vão perceber que estão presos na ilha, prestes a serem as mais novas vítimas das experiências científicas sobre o cérebro humano realizadas nos prisioneiros do local.

Parece interessante, não? Pois é! Todas essas informações que passei acima estão no trailer e na sinopse oficial, mas para você ter uma ideia da lerdeza do Scorsese, a tal conspiração só começa a dar sinais depois de mais de uma hora de filme.

Sim, amigão, pois se você for ver esse filme sem conhecimento prévio, vai ficar se perguntando onde diabos ele quer chegar. Especialmente porque ele fica muuuuito tempo mostrando flashbacks e alucinações do protagonista que, não apenas não adicionam à trama como são muito chatos. E sempre que acontece alguma coisa interessante, o clima esfria logo a seguir.

Isso tudo até o final, quando a obrigatória viradinha à M. Night Shyamalan (e tão clichê e óbvia quanto as do diretor indiano) aparece, e é apenas aí que a história do filme começa a ser contada. Nos últimos dez minutos. E com pressa. E com mais uma pausa para um flashback chatíssimo e tão desnecessário quanto os anteriores.

Porém, como tudo com a mão de Scorsese, apesar dos erros de roteiro e de administração de tempo apontados acima, em nenhum momento Ilha do Medo é ruim. Para falar a verdade, tem várias cenas que você vai pensar coisas como “nossa, olha essa composição”, “olha esse plano” e tal.

A não ser, claro, que você vá ao cinema apenas para a história, como quase todo mundo. Nesse caso, você provavelmente vai pensar que, apesar da história ser tosca e mal contada, o filme não é assim tão ruim. Só não vai saber explicar exatamente o porquê disso, já que só um crítico de cinema arrogante usaria a palavra “composição” em uma resenha. =)

Aproveite e leia este texto, que explica como um bom visual faz você pensar que um filme podre não parece ser tão ruim. É tudo um plano deles. Mas não deixe descobrirem que você sabe disso! Fnord!

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