Hellboy

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Baseado nas HQs de Mike Mignola, Hellboy vem sendo alardeado pelos sites nerds brasileiros como a melhor adaptação de quadrinhos desde X-Men e Homem-Aranha. Ok, admito que o filme é muito legal, mas não vamos exagerar, pois seu roteiro tem umas falhas gravíssimas.

Mas vamos começar pelo começo. Hellboy conta a história de um demônio que foi trazido à nossa dimensão pelos nazistas. Felizmente, para o resto do mundo, os EUA, em sua eterna luta pela liberdade (meu Deus, eu me sinto um idiota falando assim, mesmo que seja ironicamente. Como será que eles conseguem falar sempre assim? E sério ainda por cima?) intervieram, mataram todos os nazistas (ok, admito que para assassinatos, ninguém se compara aos norte-americanos) e pearam o diabinho para eles. Sessenta anos depois, o diabinho vira um diabão e faz parte de um serviço secreto dos EUA que visa proteger nosso planetóide de ameaças paranormais.

Legal, né? Pois é, o ponto de partida é ótimo. E para falar a verdade, o filme mesmo é muito divertido. Mas parece ser aquele tipo de filme feito por fãs do gibi (e foi mesmo, já que o diretor Guillermo del Toro é fanzaço do personagem) para fãs do gibi. Confesso, eu nunca li um gibi do diabão. E quem não é fã, você pergunta? Danou-se. Ok, não vamos radicalizar. Ainda assim o filme é divertido, mas muitas coisas ficam simplesmente sem explicação. Vamos começar um novo parágrafo para os exemplos.

Em nenhum momento fica claro porque os vilões querem destruir o mundo. Sim, esse é o objetivo deles. Não dominar. Destruir. Só isso? Só. Sem poder? Ã-ã. Sem escravos? Neca. Só destruir. Por quê? Sei lá. Pergunta para alguém que conhece os gibis. Talvez no material original fique mais claro. Porque pelo filme parece que eles querem destruir o mundo simplesmente por não serem estadunidenses. Afinal, todo mundo que não nasceu lá é vilão do ponto de vista deles.

E esse é só o ponto mais absurdo. Muitas outras coisas ficam sem explicação. Por que o personagem Abe fica sempre em um aquário quando está na base se ele pode sair dali e conviver com as outras pessoas? E daonde saiu esse cara, meu? Qual é a origem dos poderes de Liz? Por que ela consegue controlar seus poderes na primeira cena que ela aparece e mais para a frente precisa levar uns tabefes para que o poder se manifeste?

E aquele cara lá, o Krupt, como ele pode viver tendo o corpo daquela forma? Inclusive essa pergunta é feita no filme, mas não respondida. E por que sai areia quando ele se corta? E por que ele usava uma Cruz de Malta (o símbolo dos Cavaleiros Templários, utilizado hoje pelo time Vasco da Gama) no pescoço na cena introdutória e depois não usava mais?

Cara, olha quantas perguntas eu já fiz e ainda tenho muitas outras para apontar. Contudo, uma resenha só com perguntas ficaria chata e eu vou parando por aqui. Tenho quase certeza de que todas essas respostas podem ser encontradas na HQ e talvez por causa disso, o roteirista (que também é o Guillermo del Toro), tenha optado por não colocá-las pois achou que todo mundo as conheceria. Ora, convenhamos: Hellboy não tem a mesma popularidade do Homem-Aranha (embora qualquer um seja mais popular que Peter Parker, coitado). E isso não daria a Sam Raimi (diretor da maravilha da Sétima Arte chamada Homem-Aranha 2) o direito de não explicar coisas básicas como as origens do poder do herói ou de seu fantástico lema (Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades), pois não devem haver pré-requisitos para curtirmos uma obra cultural e muita gente que não leu os gibis do herói azarão pode querer acompanhar suas peripécias cinematográficas, não pode? O mesmo deve ser dito para Hellboy.

Mas mesmo contendo mais falhas no roteiro do que De Volta Para o Futuro, Hellboy é um filmão. Não desprovido de defeitos, é verdade, mas ainda assim muito divertido. Se você se interessa por heróis de quadrinhos (não necessariamente o diabão) e/ou filmes de ação e não se incomoda com a patriotada exacerbada (estadunidenses bons, estrangeiros maus), não deixe de assistir.

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