Um amigo costuma comentar que só quem se importa com as distribuidoras dos filmes são os jornalistas. Acredito que ele tenha razão. Porém, com o lançamento tupiniquim do primeiro Halloween, todo mundo ficou sabendo que a Playarte era a distribuidora, graças à inédita decisão da empresa de cortar as cenas de morte (de um slasher, diga-se de passagem). O problema é que isso fez com que eles se tornassem conhecidos justamente por ser a distribuidora que fatia os filmes e aquela a ser evitada por causa disso. Foi até necessário que eles escrevessem no pôster de Halloween 2 que dessa vez o filme não foi mutilado.
O PRIMEIRO HALLOWEEN
Embora tivesse interesse, por uma série de infortúnios ou por desígnio de Odin (escolha o que parecer mais provável), não tinha assistido ao primeiro até a véspera desta cabine.
Quando assisti, esperava encontrar um bom e divertido slasher, mais ou menos na linha do remake de Sexta-Feira 13. Porém, fui pego de calças curtas pela absurda qualidade da inesperada primeira metade do filme, que mostra Michael Myers como um psicopata infantil, algo completamente inexplorado no cinema slasher, pelo menos que eu tenha conhecimento.
E o negócio é chocante, com mortes absurdamente violentas, inclusive com crianças morrendo na frente das câmeras. E toda essa primeira metade mudou completamente o que eu queria ver. Se eu esperava um slasher fanfarrão, agora estava assistindo a um filme de terror de verdade, que realmente tem bolas para forçar os limites. E ainda era excelente.
O problema é quando Michael cresce. Todo o clima e a história desenvolvidos até então acabam servindo apenas como um prelúdio para um filme que segue religiosamente todos os clichês do gênero slasher. Todos, menos o humor – justamente o mais importante.
HALLOWEEN 2
As coisas já começam mal aqui, quando vemos que o ator que fazia o jovem Michael Myers foi substituído. E seu substituto não tem a cara de psicopata do original. Isso não se faz, mas ok, ignoremos. Depois disso, Laurie, a irmã do assassino e sobrevivente do anterior, está no hospital quando começa a ser caçada por Michael Myers. Meia hora depois, ela acorda e o filme começa.
Sim, caro delfonauta, nosso amigo Roberto Zumbi gastou praticamente 1/3 do seu longa com uma sequência que era apenas um sonho. Como bem disse o Brian, de Uma Família da Pesada, fazer essas sequências de sonhos é como mostrar o dedo do meio para o seu público. Fato: esse é um artifício de roteiro dos mais vagabundos e batidos da história, usado há décadas por roteiristas sem nenhum talento, e saber que absolutamente nenhuma pessoa do mundo gosta disso (talvez a exceção seja o Allan, mas ele é casado) torna ainda mais espantoso quando vemos que isso continua sendo feito. E o Rob fez uma sequência de sonho que dura 30 fuckin’ minutos – possivelmente a mais longa da história. Pior que isso só se o filme inteiro fosse um pesadelo. E de certa forma, é mesmo, mas do público.
COISAS BOAS
Se não estivesse preso no cinema por obrigações profissionais, o momento que a Laurie acorda pulando da cama seria o mesmo que eu pularia da cadeira e pediria o dinheiro do ingresso de volta. Como não podia fazer isso, decidi que o filme levaria um zero. Porém, a partir daí, ele apresentou algumas qualidades. Especialmente na parte da violência.
Uma das mortes, por exemplo, tem Michael gentilmente pisando no rosto de um caboclo até que a cabeça dele começa a esmagar. Coisa linda! Um filme com essa cena não poderia levar zero ou estaria traindo o movimento deste site, véio. E tem outras mortes legais também.
Além disso, Rob Zombie é um bom diretor, em partes. Ainda que a performance do seu elenco seja pra lá de irregular, os planos são bonitos e o clima criado por ele é sempre interessante, embora deixe a dever na narrativa.
O ponto positivo do elenco vai para Malcolm McDowell (de quem você deve lembrar como o protagonista do clássico Laranja Mecânica). Seu arco da história, o psicólogo que escreveu um livro sobre o ex-paciente, é melhor do que o principal e destaca o filme da mediocridade slasher metido a sério que permeia todos os outros momentos.
Fãs de Rock também podem ter altas diversões aqui buscando referências. Alice Cooper, Black Flag ou MC5 estão entre os nomes que aparecem nos diálogos, nos cenários ou nas camisetas. Inclusive, algumas das falas são referências a letras de música. É praticamente um Onde Está Wally roqueiro.
Além disso, também conta com uma ponta do ‘Weird Al’ Yancovic, que é sempre divertido e rouba a cena no único momento humorístico do longa.
COISAS NEM UM POUCO BOAS
Porém, o roteiro não ajuda nem um pouco. A história é desinteressante e cheia de furos, além de não trazer nada de novo e ser um emaranhado de clichês do gênero sem o humor que os tornaria perdoáveis. E o roteiro é tão terrível que acaba levando pro lado do humor não-intencional – a pior coisa que pode acontecer com um filme de terror que queira ser sério.
Mas tem mais: a abertura com o sonho de 30 minutos não é a única vez que isso acontece no filme. Dá impressão que eles gostaram tanto da Scout Taylor-Compton acordando de um pesadelo que resolveram repetir à exaustão. E não vou nem falar de novo dos malditos momentos “bu”. E toda fuckin’ vez que o Michael Myers aparece é dessa forma.
Para ser coroado como um filme definitivamente ruim, Halloween 2 ainda termina exatamente da mesma forma (inclusive com um plano bem semelhante) que Psicose. E Rob Zombie devia saber que copiar um filme genial não torna o seu genial por propriedade transitiva. Muito pelo contrário, aliás. Pelo menos ele não usou a cena do chuveiro.
COMPRANDO A PIPOCA
Falando a real, esse filme, tal qual seu anterior, demorou tanto para passar por aqui que qualquer um que tivesse algum interesse nele com certeza já reservou uma passagem via Aerolíneas Argentinas. Se você não se interessou o suficiente para visitar os hermanos até agora, a possibilidade de desembolsar uns reais para vê-lo no cinema é mínima. E faz muito bem! Vale mais esperar para ver na TV, e só se não tiver absolutamente nada melhor para fazer mesmo.