Eu odeio segunda-feira. E devo admitir que também não gosto de gatos, com a possível exceção de Garfield e do Gato de Botas, mas no geral cachorros são bem mais legais. Ou pingüins. Ou lêmures. Principalmente se o pingüim chamar Kowalski e os Lêmures cantassem “Eu me remexo todo”.
Mas como já disse, o Garfield é uma das exceções e realmente acho ele bem legal. Por isso, quando fiquei sabendo que um filme sobre ele seria feito, fiquei deveras ansioso. Ansiedade comparada apenas à minha decepção por terem feito um filminho mequetrefe sem nem um pingo do charme do nosso gato preferido. Saca só como terminei a minha resenha sobre o primeiro filme (que foi escrita dois anos atrás… putz, como o tempo passa rápido depois dos 18 anos): “A boa notícia é que agora que eles queimaram a história clichê, se houver uma continuação ela será bem melhor (embora nunca devamos subestimar a capacidade hollywoodiana de utilizar clichês). Vamos ficar no aguardo e ver o que acontece. Garfield merece mais”.
E aí o fiel delfonauta que acompanha nossas aventuras desde aquela época, gentilmente pergunta: “E aí, Corrales? Seus poderes místicos de previsão inaugurados quando você assistiu a Elektra continuam tão infalíveis quanto naquela época?”, e eu atenciosamente respondo: “Caro delfonauta, acredito que todo e qualquer poder místico que eu tenha manifestado quando assisti ao filme da ninja de vermelho tenha me abandonado assim que sai do cinema na ocasião. Garfield 2 é pior e, se bobear, ainda mais clichê do que original”. Neste momento, o delfonauta e eu nos abraçamos, olhamos para o céu e, enquanto a câmera se afasta, gritamos com todas as nossas forças: “Nãããoo! O Garfield não merece isso!”.
Pronto. Depois de tão dramática introdução, você já tem idéia de quão decepcionado este humilde tremendão supremo se encontra. A história dessa vez é baseada naquele velho conto O Príncipe e o Mendigo, que já rendeu diversos filmes e animações (uma delas até protagonizada pelo Mickey Mouse). Para os mais desinformados, é o seguinte: o Garfield tem um sósia (Tim Curry, que vai ser reconhecido pelos gamemaníacos fascinados por adventures como a voz do Gabriel Knight) que é o gato real da Inglaterra. Por uma série de confusões, os dois vão trocar de lugar e pronto. Ah, é claro, existe uma conspiração no castelo armada por Billy Connolly (o irmão gêmeo maligno do John Cleese). Já adivinhou o filme inteiro, amigão? Putz, provavelmente meus famosos poderes místicos foram passados para você, então. Faça bom uso deles e lembre-se que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.
Bom, voltando ao filme, ele segue à risca todas as características do anterior. O visual ainda é 100% fiel aos quadrinhos, incluindo a volta de Breckin Meyer (possivelmente o único ser humano parecido com Jon Arbuckle da face da Terra) e de Bill Murray (a provável única pessoa do mundo que tem exatamente a mesma personalidade do Garfield). Infelizmente, novamente conferi o filme dublado, então ainda não posso dizer se Bill Murray manda tão bem fazendo a voz do gato como imagino. Garfield continua agitado demais e passa boa parte do tempo dançando, contrastando com o gato sedentário que aprendemos a amar.
A principal mudança no filme é o aumento do “fator fofura”. Odie continua adoravelmente estúpido, como todo cachorrinho, e ainda temos mais um monte de bichinhos fofos (Garfield é o único feito por computação gráfica) que ficam fazendo coisas mais fofas ainda, dentre as quais preparar uma lasanha.
Além da história seguir os clichês, esse negócio dos personagens irem até a Inglaterra e se envolverem com a realeza definitivamente destoa das histórias simples e caseiras que são o verdadeiro charme de Garfield. O legal das HQs é justamente vê-lo zoando Odie, fazendo bagunças e atrapalhando a vida de Jon. Não por acaso, é justamente quando reproduz estes aspectos que o filme se dá melhor.
Como o amigo delfonauta já sabe, eu gosto de filmes de criança. O que não gosto é de fórmulas e histórias previsíveis. Atualmente vivemos um ótimo momento nas animações, tendo filmes cada vez mais divertidos e engraçados, mas por algum motivo os live-action direcionados ao público infantil deixam muito a dever. E não me refiro ao velho clichê de críticos de cinema, que adoram dizer que estes longas “subestimam a inteligência dos pimpolhos”. Não acho que é o caso, mas sim de investir mais na coisa mais importante para qualquer mídia que tenha como objetivo contar uma história: um bom roteiro. É isso que falta para as duas incursões cinematográficas do gato criado por Jim Davis. Talvez essas historinhas bobas falando dessas babaquices como o valor da amizade e o escambau podem agradar os pequerruchos. Mas esse seria um fascínio que naturalmente passaria com o tempo, ao contrário dos filmes infantis atemporais (como esse, por exemplo). Estes sim, continuam nas nossas vidas mesmo depois que viramos adultos, sempre que queremos dar uma nova mergulhada no fascinante mundo da fantasia infantil.
PS: Essa crítica foi escrita em uma segunda-feira. Eu já disse que eu as odeio?