Freedom Planet

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O delfonauta dedicado com certeza sabe que na minha adolescência eu era um grande fã da Sega e, consequentemente, dos jogos do Sonic. Sabe quem mais era fã do Sonic? O povinho da Galaxy Trail, que fez em Freedom Planet um tributo ao porco-espinho azul de tirar lágrimas daqueles que passam ano sim ano não pelo doloroso “ciclo do Sonic”.

Ultimamente temos visto muitos lançamentos inspirados por outros jogos, como o casal Nioh e Dark Souls. No entanto, Dark Souls é um jogo ainda recente, que inclusive está para ganhar uma nova expansão hoje. Por mais que eu tenha gostado muito de Nioh, ele não veio para preencher um vazio.

Freedom Planet, por outro lado, vem diretamente influenciado pelos jogos de Mega Drive, em especial os dois primeiros. Muita gente, onde me incluo, tem bastante saudade de jogos como eles, e para nós, ter em mãos este aqui é nada menos do que delicioso.

Quero até começar a falar do visual pixelado, que é algo que eu normalmente critico nos meus textos. Sabe-se lá o motivo, quando as desenvolvedoras optam por um visual pixelado, elas limitam bastante o visual para dar ao jogo cara de Nintendinho. É o caso de Shovel Knight, por exemplo.

Isso não faz sentido, uma vez que o ápice da arte pixelada nos videogames veio na geração seguinte, dos 16-bit, então se vai fazer algo retrô, faça direito, se inspirando na versão mais bonita da linguagem que você deseja imitar. Felizmente, a Galaxy Trail fez isso por aqui, e até mesmo no visual Freedom Planet lembra os jogos do Sonic.

CORRA, LILAC, CORRA!

No início do jogo, você pode escolher entre duas personagens, sendo que uma terceira é destravada depois de algumas fases. Uma vez escolhida, no entanto, você vai jogar com aquela até o fim, a não ser que comece um novo save (o jogo permite vários saves ao mesmo tempo).

Eu joguei com a Lilac, e ela é a mais parecida com o Sonic. Apertando R1, ela dispara a toda velocidade em uma direção, mas assim como nos primeiros jogos do porco-espinho, você não vai passar o tempo todo correndo, mas apenas em momentos específicos.

As fases são realmente complexas, então nem adianta pensar em explorá-las por completo. Na verdade, assim como os clássicos da Sega, são vários caminhos diferentes para chegar ao final, então o esquema é escolher uma direção e ir com fé. Felizmente, não há colecionáveis inúteis, apenas coisas como power-ups e uns trocinhos que dão uma vida quando você coleta 200.

Vida? Pois é, Freedom Planet tem vidas limitadas, o que a princípio eu achei bem chato. As fases são longas, então tinha receio de perder o checkpoint quando as vidas acabassem e ter que começar do início. Só que no final das contas, perder uma vida e perder sua última vida dá quase na mesma. Quando suas 1ups acabam, você vai para uma tela de “continue” e, se optar por continuar, vai voltar do último checkpoint. Ou seja, a única diferença é que, quando suas vidas acabam, você demora uns 20 segundos a mais para voltar a jogar.

Por que fizeram isso? Sinceramente, eu arriscaria dizer que é só para colocarem uma musiquinha especial quando você ganha uma vida, homenagem mais do que clara a sua grande inspiração.

Curiosamente, há bastante história. Quando você inicia o jogo, pode escolher jogar com ou sem as cutscenes. As partes não interativas são todas puláveis de qualquer jeito, mas são bem longas e, convenhamos, não tão interessantes. Curiosamente, elas são totalmente faladas, algo que não costuma ser comum em jogos retrô. Aliás, eu diria que boa parte do espaço que o jogo ocupa no HD é justamente por causa das vozes, uma vez que as músicas são chiptunes também.

BOSS RUSH

Uma coisa que deixaram mais legal em relação ao Sonic é que aqui as coisas são menos previsíveis. O Sonic tem aquele esqueminha de três atos em cada fase, sendo que o terceiro ato é o chefe, sabe? Aqui pode aparecer um chefe a qualquer momento, e na maior parte das vezes a fase continua depois da batalha.

Eu gostei bastante dos chefes em geral, o que é digno de nota, considerando o número absurdo de chefes no jogo. A exceção foi o último que é terrível. É daqueles que quando você finalmente vence, sente mais alívio do que empolgação.

Aliás, isso é algo que merece ser falado. Freedom Planet começa de forma lúdica e empolgante, com belos e coloridos cenários. No entanto, ele perde muito dessa alegria nas últimas fases. Há 12 missões, sendo que as quatro últimas acontecem no mesmo cenário.

Além da repetição, estas fases também causam o temido encalhe, pois é comum você encontrar portas fechadas, ter que seguir em frente para pegar a chave e depois voltar até a porta para prosseguir. É uma mudança considerável do estilo “não existe caminho errado” que o jogo seguiu até aí.

A dificuldade também dá um belo salto no final. Para você ter uma ideia, eu cheguei até estas últimas quatro fases sem usar nenhum continue, mas a partir daí comecei a usar dezenas. Em outras palavras, Freedom Planet começa lúdico e divertido, mas acaba trocando esta alegria por uma vontade de ser hardcore que é difícil de entender considerando sua principal inspiração. Esta reta final foi a grande responsável pelo jogo não ter atingido todo seu potencial. Fosse mais curto, ganharia uma nota maior.

Outra coisa que vale comentar é que Freedom Planet faz perceber como os controles do Sonic são bons. Não que a jogabilidade seja ruim aqui. Não é. O ponto é que, tanto em Sonic como neste, você faz loopings, corre por telhados e várias coisas que a maioria de nós nem percebe como são complicadas. Pois aqui você vai perceber. Se em Sonic você faz essas coisas facilmente, aqui é comum você estar correndo para a direita, subir uma parede, começar a correr pelo teto para a esquerda e daí a Lilac para de correr porque você ainda está segurando para a direita e ela está correndo para a esquerda.

Não é algo que realmente prejudica o jogo, mas me fez pensar como, tantos anos depois, Sonic ainda é um jogo à frente da sua época.

OUTROS PERSONAGENS, OUTRAS FASES

Para este review, eu joguei toda a história da Lilac (foram 270 minutos e 102 mortes) e um pouquinho com as outras personagens.

A Milla, a que você destrava depois de um tempinho de jogo, começa sua aventura em uma fase que não aparece na história da Lilac, o que dá a entender que seu jogo será bem diferente. Quão diferente, no entanto, eu ainda preciso explorar e de repente volto a falar sobre o assunto por aqui. Como ela saiu originalmente como um DLC, acredito que seja uma história à parte da principal.

Já a Carol começa no mesmo lugar que a Lilac, mas as habilidades da personagem são bastante diferentes, então mesmo que as fases sejam as mesmas, a experiência não será. Fiquei com uma sensação de que explorar as fases com a Carol vai ser mais ou menos como explorar as fases de Sonic 3 com o Knuckles, manja? É uma ideia bacana, que sem dúvida vai aumentar o fator replay de Freedom Planet.

Embora não mantenha o fôlego por toda sua duração, Freedom Planet é um jogo que desce redondo não apenas para fãs do porco-espinho da Sega, mas para qualquer um que goste de um platformer 2D. E convenhamos, quem não gosta? É um dos gêneros mais tradicionais dos games e sem dúvida um dos mais queridos.

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REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
freedom-planetAno: 2014 (PC), 2015 (Wii U), 21 de março de 2017 (PS4)<br> Gênero: Plataforma 2D<br> Plataforma: PS4, Xbox One, Wii U, PC<br> Fabricante: Galaxy Trail<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Galaxy Trail<br>