Na época que os Mamonas Assassinas monopolizavam toda a mídia brasileira, eu sentia que era a única pessoa do Brasil que não gostava deles. Depois que a moda das bandas metidas a engraçadas passou, eu comecei a indagar se hoje não teria outra opinião. Afinal, eu gosto de música bem-humorada e mesmo das paródias do “Weird Al” Yancovic ou das letras bem-humoradas e inteligentíssimas do Gabriel O Pensador. Por que não gostaria do humor dos Mamonas?
Pois eis que recebo aqui no oráculo este DVD Rockomédia, dos Formigos. Nunca tinha ouvido falar dessa banda, mas aparentemente eles são grandes, pois o material traz fotos deles em programas do naipe de Domingo Legal… Enfim, as fotos imediatamente trouxeram à minha mente memórias dos Mamonas Assassinas, então encarei isso como a minha oportunidade para entender o porquê de minha ojeriza pela turminha que morreu na melhor tradição Lynyrd Skynyrd – ou, quem sabe, até expandir meus gostos musicais e humorísticos.
Embora tenha assistido ao DVD de cabeça aberta, não consegui gostar. Mas o lado bom é que agora eu sei explicar o motivo – e mesmo diferenciá-los do humor do “Weird Al” e do Gabriel O Pensador. Comecemos por este último.
Nos primeiros discos do Gabriel O Pensador (depois parei de acompanhar, então não sei se continua assim), ele fazia letras inteligentes abordando temas sérios com ironia. Se pegarmos as classificações do humor nonsense que fiz aqui, ele seria o Nonsense Crítico, na linha do Monty Python.
Já “Weird Al” Yancovic é mais bobo. A maior parte dos brasileiros lembra dele por causa das paródias dos clipes do Michael Jackson, Nirvana e Red Hot Chilly Peppers, mas o que muitos não sabem é que ele também compõe algumas músicas. E essas músicas são ótimas composições – e ainda assim muito engraçadas. Por exemplo, clique aqui para assistir a uma delas.
Repare na letra, no coral, nas piadas em segundo plano. É tudo muito bobo, mas também muito inteligente. Voltando à minha classificação, o “Weird Al” seria o Nonsense Divertido, na linha do Corra que a Polícia Vem Aí. Para pegar tudo que acontece nesse clipe, você precisa assistir várias vezes. E é tudo visivelmente pensado. Essa talvez seja a principal diferença.
Existe algum planejamento no show do Formigos. Por exemplo, em determinada música, um dos caras se veste de Jon Bon Jovi enquanto outros dois aparecem vestido de oncinha, sendo que a roupa tem buracos na barriga e nos mamilos. Ok, isso foi planejado com antecedência, mas foi realmente pensado? A impressão que me deu durante o DVD inteiro foi que eles faziam coisas aleatórias, sem pensar muito. E humor não é fazer/falar a primeira coisa boba que você pensar.
Assim, tiram sarro das coisas mais óbvias e desgastadas: homens em roupas femininas, gays, emos, enfim… Durante todo o DVD, não teve absolutamente nada que me fez rir alguma vez. Eu sou um cara bem-humorado, porém, não se faz humor com qualidade da mesma forma que se fala besteira em uma mesa de bar.
Humor tem que ser pensado, planejado, ou você acaba fazendo coisas que todos já vimos, além de acabar caindo para o lado grosseiro e preconceituoso, como acontecia com os Mamonas e acontece com os Formigos. E isso não me agrada. E, muito provavelmente, também não agrada você. Além do show, o DVD conta com clipes, entrevistas e outros extras normais. Eu assisti a todos eles e absolutamente nada se salva.
Voltando à minha classificação, o Formigos está orgulhosamente ao lado dos irmãos Wayans como Nonsense Grosseiro. Se isso te agrada, vai fundo e compre Róckomédia. Porém, faço minhas uma adaptação das palavras de “Weird Al” Yancovic no clipe supralinkado: eu prefiro limpar todos os banheiros da estação Sé do metrô de São Paulo com a minha língua a assistir a mais um minuto deste DVD.
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