Quando entrevistei o Queen Cover no 8º Queencontro, o guitarrista Márcio disse para marcarmos um outro dia para conversarmos mais. Depois de publicar a entrevista, liguei para ele e marcamos de nos encontrar na casa onde ele dá aulas de guitarra e batemos um longo papo. Confira a seguir os melhores momentos:
Como você conheceu o Eddie (Star, Vocalista do Queen Cover)?
A gente tava ensaiando em um estúdio que chama Cobra, deve fazer uns 15 anos já. Aí ele tava ensaiando no estúdio A e nós no estúdio B. A gente tocava uma música do Queen e aí ele e o baixista invadiram o estúdio perguntando se podiam assistir. Aí depois ele colocou um anúncio no Primeiramão: “Procura-se guitarrista para tocar estilo Queen pesado”. Aí eu liguei para ele, mas acabei não conseguindo nada. Aí quando eu entrei no Queen Cover foi assim: eu e um amigo fomos na Galeria do Rock, foi a primeira vez que fui lá, aí tinha o Museu do Disco, um pouco antes da galeria. Aí tinha um cartaz enorme: “Procura-se guitarrista e baterista para formar banda Queen Cover” e eu nem prestei atenção. Meu amigo que pegou o telefone e me deu depois, quando chegamos em casa. Aí eu fui fazer teste e era o Eddie. E não dá pra esquecer o cara, né?
Ele já era Eddie Star naquela época?
Acho que ele nasceu Eddie Star (risos).
Agora uma pergunta egoísta: eu ainda vou ouvir o Queen Cover tocando Innuendo, Princes Of The Universe e One Vision inteiras?
Então, One Vision a gente toca ela direto em show. A Princes a gente já tocou no Medley, porque é complicado tocar ela. É que nem a Innuendo, vai dar um trabalhão e vai ter gente que não vai curtir. O Queen tocou a Innuendo com o Robert Plant no Tributo ao Freddie Mercury, mas isso nem está no DVD. Agora esse gosto que você tem, eu também tenho. É exatamente isso que eu gosto. A gente já tirou músicas muito difíceis, mas aí em um show para mil pessoas, você agrada duas. Não dá para fazer isso. Como eu falei da outra vez, eu topo. Eu sei que tem gente que gostaria de ver, você não queria? Então, até passa pela nossa cabeça fazer Innuendo, mas… É muito complicado. Aí se a gente simplifica a música o pessoal fala: “Olha lá, não conseguiu fazer”. É uma faca de dois… legumes. (risos)
E a Princes Of The Universe?
Vai rolar, vamos tentar fazer um dia. Mas a gente não pode ser egoísta e escolher só as músicas que a gente quer tocar. Eu coloquei Princes para tocar quando eu entrei no Queen Cover, mas até hoje só tocamos um pedacinho no Medley, porque tem muitas outras que o público prefere, como Play The Game e Mustafa, que todo mundo pede. Que nem a Innuendo lá no Queencontro, não deu para a gente tocar inteira, mas ela foi para você. Para você e para a sua mina.
Acho que ela nem conhecia para falar a verdade. (risos)
Ah, mas ela curtiu, né? Ela é meio Metal Melódico, né?
Eu converti ela. (risos) Fala um pouquinho da banda Deusa.
Um segredo, eu nunca estudei guitarra, nunca fiz aula, eu comecei já compondo mesmo. Mesmo desafinada, eu já ficava brincando. Eu nunca vou esquecer a primeira letra que eu fiz: “Sempre a mesma droga de vida” olha que absurdo. Eu cheguei até a tirar um monte de música do Iron Maiden de ouvido e daí eu comecei a fazer aula de guitarra. Meu professor era do Firebox, o Luís Mariutti (baixista do Shaman) era da banda dele até ele ser fisgado para entrar no Angra. O Eddie também compõe muito bem. Ele faz ótimas músicas em português. Aí a Deusa surgiu em 95, gravamos uma demo no estúdio Anonimato. E a demo tem quatro músicas.
Você tem aí essa demo?
Então, eu estou montando tudo para te passar. Para você poder ouvir com calma, porque eu quero te dar, não quero te emprestar. Vou fazer uma cópia e vou te dar. O estilo é leve e pesado. Tipo, a Innuendo é um ótimo exemplo disso. A gente tem outras músicas que a gente não gravou.
E por que o nome Deusa?
Foi o Eddie que bolou. É uma brincadeira com o Queen. Deusa lembra Queen. Mas todo mundo tirava sarro.
E a Deusa já era?
A Deusa nunca foi uma banda. Era o Eddie na voz e eu tocando todos os instrumentos. Nunca teve nem ensaio. A gente só gravava. Eu fiquei chateado porque investi muito na banda. E foi frustrante. Para você ter uma idéia, no dia que íamos gravar, o Eddie disse que ia sair. Imagina o balde de água fria.
Mas vocês chegaram a ficar sem se falar por causa disso?
Não, nunca. Eu só fiquei triste porque era um trabalho muito bom. E no Brasil nunca teve uma banda igual à Deusa. Então da minha parte, ainda estou aberto para fazer. Mas agora tenho outros compromissos, sou casado e tal. E eu não sou rico, uma vez em uma entrevista para a MTV, o cara perguntou se eu era rico. Eu te mostro o holerite dos shows. Teve show que ganhei 19 reais. No show que vocês foram, se eu tirar as despesas pessoais, eu ganhei 40 reais. Eu tive até que pagar a comida aquele dia.
É, eu também tive.
Quais são seus planos para o futuro?
O futuro mais próximo é essa galera que tá aí embaixo. O Fabrício (Ravelli, baterista do Harppia – que o DELFOS vai entrevistar domingo), o Nuno (Monteiro, vocalista do Wombat) e mais um baixista que estamos cogitando. Falei com ele ontem, mas ele já toca em uma banda famosa.
Que banda?
Sepultura. (risos) Então a gente está tentando ver o que vai acontecer aí. E amanhã o Andreas (Kisser, guitarrista do Sepultura) me chamou para tocar com ele. E essa banda aí acho que vai dar o que falar, viu? Eu vou entrar de corpo e alma nisso.
É Metal?
Não sabemos. A idéia é livre, mas vai ser pesado. Eu nunca tive a expectativa de fazer uma banda de Metal pesado, mas é uma banda pesada. A gente quer tentar fazer uma coisa diferente, vai ser difícil.
Há quanto tempo você dá aulas?
Comecei em 89. Para saber se eu conseguia dar aula, eu dei aulas por um ano de graça. Todo mundo que chegava eu pegava, para saber se eu tinha jeito. Uma coisa legal, depois que a música entrou na minha vida, eu não consegui mais tirar. Aí quando eu vi que o pessoal aprendia, comecei a cobrar.
Então hoje você tem mais de mil alunos? (risos)
Isso foi brincadeira do Eddie, mas eu já tive mais de mil. Aqui já passou gente de várias bandas. E não é só aluno de Metal, tem gente de Pop também. E eu falei do DELFOS para todo mundo. É mó propaganda aqui, meu.
Quais são suas influências na guitarra?
Sem brincadeira, comecei a tocar por causa do Brian May mesmo. Eu lembro de ter visto o clipe da We Will Rock You e eu nem sabia a diferença entre guitarra e baixo, mas eu gostava daquele barulho. Eu sempre gostei do som agudo da guitarra. Outros músicos que eu gosto é o Ritchie Blackmore (Deep Purple, Rainbow, Blackmore’s Night), Malmsteen, Nuno Bettencourt, Van Halen, Steve Vai, Joe Satriani, conheci o Satriani. Gente finíssima. Eu gosto de todos que tocam com alma. George Harrison também.
E de bandas? De quem você gosta além de Queen?
A primeira que eu gostei foi Queen. Aí eu vi um amigo tocando Eruption e já comecei a gostar de Van Halen também. Tive uma fase Hard Rock, Ratt, Mötley Crüe, W.A.S.P., Dokken. Metal gosto bastante. Os primeiros do Helloween, Judas (Priest), Manowar, eu adoro as músicas lentas de Metal, elas são lindas, cara.
São as melhores baladas, mesmo.
Balada de Metal é meu sonho. Gosto muito de Kiss, gosto da Goin’ Blind. Também gosto bastante de Björk.
Quem você acha o pior guitarrista?
Não existe o pior guitarrista.
É que você não me viu tocando. (risos)
Mas não tem mesmo. Pô, posso falar do Digão dos Raimundos, mas dentro do mundo dele, ele tá ótimo. O cara dos Ramones, o Kurt Cobain (Nirvana), mas eles criaram o estilo deles.
Quais as bandas de Heavy Metal que você mais gosta?
Eu gosto muito do início do Heavy Metal, gosto de quando virou Thrash, pedal duplo. A Fast As A Shark do Accept é maravilhosa, foi uma das primeiras músicas com pedal duplo. Gosto muito de Rainbow, onde o Blackmore já criou músicas como Spotlight Kid e outras bem pesadas.
Você gosta mais do Rainbow ou do Deep Purple?
Ah, eu gosto mais do Rainbow, cara.
Eu também.
Mas é uma briga feia. O Rainbow é mais viagem. Mas Child In Time (Deep Purple) é um hino. Esses caras não têm músicas ruins. Eles faziam música mesmo. Iron Maiden também. Meus discos prediletos são sempre os primeiros das bandas. Adoro o primeiro do Rainbow, o do Iron Maiden. Charlotte The Harlot, cara. Se eu falo para um cara: “ei, toca Charlotte The Harlot do Maiden” o cara fala: “que é isso?” Ninguém conhece.
Mas essa música é um clássico.
É nada. Os caras não lembram nem de Prowler.
Que absurdo.
É, mas vai ver a molecadinha que só conhece do Fear Of The Dark para a frente. Não sabem nada. É uma pena isso.
Você tem influências de música clássica?
O início de tudo foi música clássica. Quando eu era pequenininho, minha mãe colocava os discos para ficar tocando quando a gente ia dormir. Tocava Beethoven, Bach. Minha mãe colocava um do ABBA também.
ABBA é legal.
Também gosto.
Já ouviu um tributo Metal para o ABBA?
Não, mas eu queria ouvir. Mas então, eu nem conseguia dormir, porque ficava ouvindo as músicas que estavam tocando. Não dava sono. Foi ali que eu descobri que eu gostava de música.
Um desafio agora, porque você fala bastante. Vou te falar o nome de algumas bandas e você, só em uma frase, comenta sua opinião sobre elas.
Legal, Marília Gabriela.
Queen
Significa tudo para mim.
Helloween
Muita energia.
Blind Guardian
A primeira banda a fazer Metal Épico. Um som super agradável. Um Metal diferente, porém continua sendo Metal.
Iron Maiden
Os pais do Thrash/Heavy Metal. Não tem como, todo mundo gosta deles. Até o Dream Theater já ouviu muito. E uma coisa que ninguém percebe, Iron Maiden sempre foi a banda mais pop de todas, mesmo não tocando na mídia.
É que eles tiveram um marketing muito bem feito. E tem gente que não percebe.
Ali tem um marketing nervoso.
Rush
Nossa, adoro. (Nota: Nesse momento, toca o telefone e paramos a entrevista, quando continuamos, o Fabrício Ravelli e o Nuno Monteiro se juntam a nós) (para Fabrício) É jogo rápido. Uma pergunta e você tem que falar a resposta. Cor dos olhos, azul.
Fabrício (brincando): Homens, adoro. (muitos risos)
Márcio: Tá gravando, hein? (mais risos)
Rush
A primeira e talvez a única banda muito técnica que eu adoro.
Black Sabbath
Nossa, demais, cara. O Volume 4 é um dos que mais gosto. Cornucopia é minha música predileta.
Metallica
Acredite se quiser, quando meu professor de guitarra me mostrou Metallica, minha música predileta foi o solo de baixo, Anesthesia. Minha música predileta é Motorbreath.
Savatage
Mais uma banda, igual a tantas outras, mas é uma tremenda banda, com ótimos vocais. Gutter Ballet é uma ótima música.
Faz uma retrospectiva da sua carreira, rapidinho antes que acabe a pilha da câmera. (risos)
Agora que eu estou com uma condição estável graças às aulas, vou me concentrar na minha carreira. E mesmo estando um pouquinho velho, acho que estou no ponto. Não podia largar tudo e perder os dois lados. No comecinho, eu tinha mais esperança. Tive uma banda que chamava Clímax, nome de geladeira. Depois mudou para Albatroz, mas ali mesmo já percebi coisas que não gostava. Era tipo Deep Purple, Led Zeppelin.
O que você não gostava?
Nunca gostei de drogas. Também não achava legal caras que ficavam indo atrás de muita mulher. Acho que tem que saber dividir as coisas. E no meio musical, isso é muito evidente. Qualquer escândalo tem muito mais fama do que uma música legal da banda.
E o Stratovarius está aí para provar.
Exatamente. E se o Timo Tolkki for pagar por todas as músicas que ele copiou, ele está ferrado.
Você acha que ele copiou muita coisa?
Ô. Diz a lenda que ele tem vários processos.
Bom, ele copiou uma do Roberto Carlos.
Nossa, só falta.
É verdade, ele copiou mesmo. Ele não assumiu que copiou, mas A Million Lightyears Away é igualzinha à Amigo.
Que absurdo.
Bom, para terminar, deixe um recado para o seleto público do DELFOS, todas as cinco pessoas. (risos)
Então, vocês são gente boa pra caramba. Principalmente você. Pena eu não conhecer o Brunão ainda, né? E boa sorte. Não desiste e manda brasa, cara. Internet pelo jeito vai ser o meio de comunicação mais ativo possível. No futuro acho que não vai mais existir televisão, o pessoal vai ter um computador em casa que faz tudo. Aí você podendo ter esse ambiente, você está num jornal interativo. Você tá no caminho. Não desiste, vocês tão num lugar ótimo.
Para falar com o Márcio, mande um e-mail para ms.marcio@uol.com.br.
Perguntas formuladas por Carlos Eduardo Corrales e Bruno Sanchez. Entrevista conduzida e digitada por Carlos Eduardo Corrales.