Introdução e perguntas por Bruno Sanchez, revisão por Carlos Eduardo Corrales.
Talvez você não se lembre da importância que o baterista Fabrício Ravelli (atual Hirax e ex-Harppia) teve na história do DELFOS, mas para refrescar sua memória, vou contar uma historinha dos nossos bastidores.
Logo que o Corrales me chamou para participar do projeto, quando o DELFOS ainda estava nascendo em sua primeira versão (o Blog) no começo de 2004, nós começamos a correr atrás de entrevistas com músicos e personalidades, mas como conseguir isso sem um nome forte no mercado? Aí entra a importância de se ter bons contatos no meio jornalístico.
Em 2003, cobri para outro veículo o show do Grave Digger em São Paulo, onde o Harppia abriu juntamente com o desastre espanhol conhecido como Avalanch e, na época, troquei alguns e-mails com o Fabrício (que me impressionou bastante pela sua habilidade com as baquetas). Mas foi só.
Alguns meses depois, o Corrales cobriu o show da banda Queen Cover, já pelo DELFOS e quem também estava presente e foi apresentado para ele? Pois é, o Fabrício.
Conseguimos uma entrevista bem legal com o Márcio Sanches, guitarrista do Queen Cover e, através dele, conseguimos novamente um contato com o Fabrício, que também se lembrou de minha resenha no ano anterior e tudo ficou mais fácil para conseguirmos nossa primeira entrevista exclusiva com uma banda que não fosse cover.
Lógico que de lá para cá, nossas vidas mudaram bastante: o Fabrício saiu do Harppia e foi morar nos EUA em busca de oportunidades onde conseguiu integrar um grande nome do Thrash Metal, que é o Hirax, pioneiro da Bay Area de São Francisco ao lado de nomes como Metallica, Exodus e Testament.
Já no DELFOS, saímos do limitado formato Blog e entramos com os dois pés no nicho dos grandes portais de cultura e entretenimento e, de 30 visitas diárias na época, hoje já passamos da casa dos milhares.
Mesmo assim, é como diz a música do Metallica, The Memory Remains (a memória continua), e qual não foi nossa grande surpresa quando recebemos um e-mail do Fabrício perguntando como estávamos e se oferecendo para uma nova entrevista. Por motivos óbvios, não perderíamos a oportunidade de perguntar todos os detalhes dessas grandes mudanças que aconteceram em sua vida nos últimos anos e o cara nos contou detalhadamente todo seu novo momento, sua despedida do Harppia, seus novos projetos, sua entrada no Hirax, curiosidades, personalidades que conheceu e a emoção de integrar um grande nome do Metal. Portanto, sem maiores enrolações, confira esse bate-papo exclusivo que tivemos com o Fabrício. E, no final da entrevista, você confere links para baixar mensagens exclusivas do Fabrício e do Katon para os delfonautas. Divirta-se!
Você ainda mantém contato com o pessoal do Harppia?
Sim, mas não regularmente até por um motivo de fuso horário e de agenda mesmo. Mas continuo com o mesmo sentimento de amizade por eles. Falo mais com o Ravache que é um grande irmão meu.
Antes de você sair do Harppia, todos estavam com uma grande expectativa sobre um novo trabalho da banda que acabou não saindo. O que aconteceu?
Estávamos com um grande problema com a nossa gravadora, não só o Harppia, mas varias outras bandas do cast. Estávamos com o material pronto, todas as idéias para capa e tudo mais, mas a gravadora meio que flaked out em nós e o material ficou no gelo por muito tempo até eles resolverem nos dizer que as gravações estavam canceladas. Mas agora digo, canceladas por um tempo LIMITADO.
Como foi a saída? Por que exatamente você saiu?
O maior problema foi a amizade mesmo, porque eu, o Ravache e o Jack éramos bem próximos. Mas estava tão difícil que, mesmo o Harppia tendo uma projeção boa, me senti no meio daquele ditado “é agora ou nunca”. Mas o Harppia continua sendo uma banda que respeito muito e que sempre vou divulgar.
Após tantos anos ralando na cena sul-americana, por que surgiu a idéia de se mudar para os EUA?
Estava passando por um momento de decisão na minha vida. Estava tocando com ótimos músicos e tendo um respeito muito legal por parte de outros músicos e fãs. Mas chega um momento na vida que tem que pensar grande, meio que no momento que passa dos 25 anos (risos). E começa a realmente pensar no seu futuro como músico e perceber que vem tocando há tanto tempo, mas continua tendo que, às vezes, pagar para tocar. É uma decisão horrível, porque você está prestes a deixar família, amigos e o contato com os fãs daí, que são inigualáveis. Estava cansado de ter que lidar com os mesmos problemas, o Brasil tem uma ótima estrutura para shows internacionais, gostaria muito de ver essa estrutura para bandas nacionais também e não estou falando de bandas como o Sepultura, Krisiun ou o Shaaman que já são grandes. O preço que tem pagar para abrir shows internacionais é ridículo, por isso que às vezes quando algumas bandas falavam “Nossa, vamos abrir para o fulano” isso nunca me surpreendeu, porque hoje em dia qualquer um pode abrir para banda grande, é só ter a grana certa. Lembro quando toquei com o Harppia para abrir para o UDO ou oGrave Digger, nos recusamos a pagar, mas tocamos, foi uma da coisas legais que a gravadora fez pela banda.
Por que os EUA e não a Europa onde a cena “Metal” é vista com maior credibilidade?
Para os EUA era mais barato (risos). Na verdade, desde quando era moleque, quis vir para cá, entao já há um bom tempo sabia onde eram os melhores lugares aqui. Quando rolou esse lance de vir, não iria ter tempo de estudar a Europa e saber quais lugares seriam legais, aonde ir, teria que ter mais tempo. Mas não me arrependo. Vamos tocar na Europa no final do ano ou começo do ano que vem, ainda nao sei direito. Mas não vamos fazer só os paises que a banda tocou ano passado, vamos fazer vários outros na Europa tambem. Aí vou ver o que perdi (risos).
Quais foram as grandes dificuldades encontradas nesta mudança?
Nossa…VÁRIAS. Costumava generalizar os estadunidenses, mas descobri que isso é impossivel. Uma pessoa da Califórnia, onde moro, é extremamente diferente de uma pessoa de Boston, por exemplo. As pessoas aqui são difíceis de lidar, muito por causa da indústria de cinema. Você sai na rua e parece que está num filme, as mulheres se vestem até demais, achando que o Tom Cruise vai passar por elas e contratá-las para o próximo filme. Todo mundo aqui que está em musica ou cinema acham que são absurdamente famosos, mesmo tendo feito apenas um show e apenas para a família. Mas, claro, como disse, não vou generalizar. Minha esposa é estadunidense e ela me fez meio que enxergar um outro lado da história. Aqui eles são bastante patriotas, dão valor ao que fazem, por isso, no meio da música, dão valor às bandas daqui primeiro, o que é bem legal. A Argentina é bem assim também.
Rolou algum tipo de preconceito por você ser brasileiro?
No começo, sim. Para conseguir tocar nas primeiras bandas que toquei foi difícil, porque você tem que realmente provar que consegue fazer um bom trabalho, mesmo a banda sendo bem ruim. Mas depois disso, se eles verem que podem se dar bem tendo você na banda começam a ter um respeito. Mas até entendo, é um lance meio do tipo “esse cara vem de um país diferente, outra cultura, quem é esse cara?” É meio que jogando na defensiva, mas usando o ataque psicológico como estratégia de jogo. Uma coisa é real, o Sepultura colocou o Brasil em outro nível, em termos de música. As pessoas realmente respeitam a banda e o Soulfly é enorme aqui também, o Max é meio que um Ozzy aqui, guardadas as devidas proporções, claro. Mas o cara é ovacionado aqui. Hoje em dia, eles me recebem muito bem, as fotos do Hirax rolam por vários lugares daqui, então uma galera já sabe que estou na banda, e me tratam muito bem, até em fila de cinema, eles têm sido muito, muito legais comigo.
Como está o cenário estadunidense de Metal?
É uma pergunta dificil, porque a resposta está meio no ar. Venho dizendo que está numa batalha. De um lado, você vê a Sharon Osbourne pagando mexicanos aqui para jogar ovos no Bruce Dickinson, e se achando o máximo fazendo isso, dizendo em entrevistas aqui: “e fiz mesmo, sou uma puta por ter feito e não me arrependo” e muita gente achando engraçado, mas peraí, estamos falando de Iron Maiden e Ozzy. Poxa o cara tocou no Black Sabbath, cadê o respeito?. As bandas hoje em dia de “Metal” aqui, muitas são piada, os caras fazem carinha de mal, pintam o cabelo de preto, e as unhas de preto e se vestem como Menudos e se acham muito Metal. Entendo e aceito completamente bandas góticas fazendo isso porque isso é a cultura gótica, que é bem legal e eu curto bastante. Mas bandas como Avenged Sevenfold e Trivium que são grandes aqui, para mim são piadas. Hoje em dia, aqui, o Metal é salvo pelos anos 80, com bandas como Slayer, Nuclear Assault, Megadeth, Testament, Sadus do meu brother Steve Di Giorgio e outras. Essas bandas são bem amigas e é isso que faz o metal daqui continuar existindo.
Você morou no Brasil, já tocou em uma banda argentina e agora está nos EUA, qual a diferença que você vê entre o cenário da América do Sul e o estadunidense?
A Argentina é um caso à parte. Eles são bem fechados no que fazem, o que é legal. Antes deles comprarem um álbum do Stryper, por exemplo, eles vão comprar um do Rata Blanca. Esse tipo de atitude é um exemplo. O Brasil é um lugar que todo musico daqui (dos EUA) quer ir porque sabe que vai fazer dinheiro e vão passar os melhores momentos da carreira dele (a). Porque o Brasil, como disse, tem um publico nota dez, mas os promotores e gravadoras ainda não estão dando o valor necessário às bandas nacionais. Vou insistir nisso e, com certeza, o Brasil, tem muito músico bom pra caramba, hoje, morando aqui, eu vejo isso. Os EUA têm ótimos lugares para tocar, é um lance bem tipo um ciclo. Hoje em dia bandas tipo o Soulfly lotam qualquer lugar. Assisti semana passada a um show do Exodus e a casa, que abrigaria 1.000 pessoas, tinha no máximo umas 600. Tá certo, era a segunda noite que estavam tocando lá (Galaxy Theater) e Black Metal aqui não tem muita saída. Mas o legal daqui é que você faz dinheiro com musica (claro, depende da banda). No caso do Hirax, conseguimos viver da musica aqui, mas com certeza não dá para sair gastando, as pessoas aqui comparecem aos shows, compram merchandising e esperam ate tarde para pegar autografos e tudo mais. Como disse, os anos 80 fizeram a diferença e aqui tem bastante lugares para tocar, com ótima estrutura.
Em que bandas você tocou enquanto morava nos EUA?
Toquei em muita banda tribute aqui, foram Queensryche, Pantera, Sepultura, para conseguir contatos e fazer uma grana extra. Depois toquei com o Neil Turbin (ex Anthrax) e logo depois recebi o convite do Hirax.
Fora da cena musical, você chegou a trabalhar com outras coisas por aí?
Risos. Wow, man, Foi a parte mais difícil e engraçada estando aqui na América (Nota: imaginamos que ele se refere aos EUA, já que sempre esteve na América). Meio que resumindo, cheguei aqui e o primeiro lugar que morei foi num apartamento com mais 5 caras, o que é bem normal aqui, porque assim o aluguel não fica pesado. Tinha que pagar aluguel. O primeiro emprego aqui foi com mudança. Eu e esse amigo meu estávamos trabalhando e vinha ensaiando todos os dias. Estava morrendo de cansaço. Chegamos na casa deste casal, descarregamos o caminhão e colocamos tudo em ordem. E deitei no chão para descansar um pouco e meu amigo foi usar o banheiro, mas um detalhe, a casa era nova. Não tinha luz, água, nada ainda e ele pegou no sono também. Em outras palavras, o casal chegou na casa, me pegaram dormindo num canto, meu amigo no outro e um cheiro absurdo de m* pela casa inteira. Foi bem ridículo, mas depois rimos muito disso. Claro que foi meu último dia trabalhando com mudança. Logo depois, comecei a trabalhar num restaurante como manobrista. Estava ensaiando direto também, e indo quebrado para o trabalho. Ai veio o Hirax, mas também dou aula de bateria e às vezes gravo álbuns de outras bandas de Metal, e cuido da minha carreira direto, respondendo entrevistas, escrevendo músicas para a banda que estou montando e faço exercícios. Estou correndo bastante para segurar a onda das tours, porque ganhei varios quilos aqui. Bom, tento me manter bem ocupado.
Atualmente você mora na Califórnia, berço do Thrash Metal e de bandas enormes como Metallica, Megadeth, Slayer, Death Angel e Exodus, como é a cena na Bay Area?
Essas bandas que você citou continuam na ativa, o que é perfeito. É difícil falar de um Metallica, porque é uma banda que até já passou do mainstream. Mas Exodus, Death Angel e Testament continuam na ativa, colocando muita gente na fila da casa de show para assistí-los. Me sinto bem ao redor dessas bandas.
Como rolou o convite para entrar no Hirax?
Mandei um e-mail para a empresária da banda, mas não obtive resposta por um bom tempo. Meses depois, encontrei um cara que conhecia o Dave Watson, guitarra da banda, que me falou que ele estaria na Sunset Blvd para assistir um show naquela noite. Fui direto para lá e encontrei o Dave no show. Me apresentei para ele e comecei a falar do meu interesse em entrar no Hirax e ele me falou dos problemas que estavam enfrentando com o batera. Peguei o telefone dele e do Katon, fui para casa e comecei a trabalhar na minha drumming package, que seria um DVD com clips de shows que fiz, bio, photo gallery, etc. Mandei para ele (Katon) que me ligou na noite seguinte, pedindo para ir para a casa dele. Fui, peguei os cds e três/quatro dias depois estava no estúdio para o teste. Tinham 3 ou 4 bateras na minha frente para “audicionar”, esperei todos e uma semana depois disso estávamos tirando nossa primeira sessão de fotos em Long Beach, CA, para a divulgação do show em Nova Iorque. E o mais engracado é que quando entrei no estúdio para “audicionar”, não vi o Dave. Aí descobri que ele não estava mais na banda, ele saiu da banda no dia seguinte que falei com ele e não era só ele que tinha saído. A banda estava com um novo baixista também. Mas foi legal, porque antes do Hirax, o Tommy Victor do Prong me ligou para uma jam, mas já dizendo que era só uma jam, eles já estavam com um batera, mas eles queriam tocar e o batera não estava na cidade. Já comecei a pensar várias coisas, mas já sabia que era só uma jam. E que foi bem legal, tocamos os clássicos do Prong, que adoro, e tivemos ótimos momentos, foi demais. E ficamos bem amigos desde então.
A banda sempre sofreu muito com as trocas de formações e os quase 15 anos em que ficaram parados, como você vê o espaço que o Hirax tem hoje no cenário mundial?
O Hirax hoje em dia é uma banda tipo o Death Angel ou Dark Angel, Forbbiden, etc. Vieram dos anos 80, conquistaram algo, fizeram a diferença, mas pararam. Então hoje em dia, não vou dizer que é fácil, mas com certeza é mais fácil que uma banda que está começando. O Hirax tem uma aceitação boa aqui, então fica mais fácil, já tem uma legião de fãs, tem uma estrutura. Mesmo quando o Katon não estava na banda a banda continuou com o Paul Baloff (Exodus). E sempre fazendo ótimos shows e tours ao lado de bandas como Megadeth, Exodus, Metallica, Slayer.
Você já conhecia o trabalho dos caras?
Sim, no final dos anos 90, um amigo meu, bem ligado à cena Thrash dos EUA me mostrou o Hate ,fear And Power. Adorei, tem aquele clima oitentista, aquela gravacao meio tosca, bem diferente.
Como é seu relacionamento com o vocalista e fundador, Katon DePena?
É legal. Claro que tem todo aquele lance de cultura, ele vem de uma cultura diferente. Mas tento manter o melhor possível.
Existem planos para um novo álbum de estúdio do Hirax?
Com certeza, e o será chamado ASSASSINS OF WAR. Já temos quase todas as músicas prontas, já temos o conceito para a capa, só estamos finalizando as músicas e esta semana fecharemos os dias de estúdio para começarmos as gravações do álbum.
Por que ocorreu esse intervalo na carreira dos caras entre 1986 e 2001?
Na verdade, ocorreu um intervalo no final de 1989. O que rolou foi que em 1986/87, o Katon foi para o Phantasm junto com o Gene Hoglan e o Ron McGovney, mas ele continuou no Hirax. No final de 1987, ele resolveu sair do Hirax de vez. Foi aí que ele foi substituído pelo Paul Baloff (Exodus) que assumiu os vocais no Hirax e durou até 1989/90, adoraria ter tocado nesta fase, e, logo depois disso, a banda resolveu parar. E em 1997, a banda se juntou a outros integrantes e tudo começou de novo, mas em marcha lenta. A assim foi até lançarem o The New Age Of Terror, que para mim é o melhor álbum da banda, definitivamente colocando eles num patamar legal aqui nos EUA.
Nesse intervalo, o Katon participou de uma banda chamada Phantasm com o primeiro baixista do Metallica, Ron McGovney, você chegou a conversar com ele sobre essa fase?
Sim, ele até me deu um CD da banda. Ele curtiu muito no começo. Mas como ele mesmo diz “Se fosse legal mesmo, a banda não teria durado apenas o tempo que durou”. Isso responde bem a pergunta (risos).
Já ouviu a demo que o Phantasm gravou?
É sempre interessante ver como músicos tipo Ron Mcgovney, que já tocou no Metallica, estão tocando. O Ron é um cara bem bacana e estavam fazendo um som diferente. Mas na verdade eu não curti muito.
Em 2004, a banda faria uma turnê com os integrantes originais, mas o projeto foi cancelado por desavenças internas, você sabe o que aconteceu?
Desavenças internas foi realmente o que aconteceu (risos). Chega um ponto na carreira que você deve realmente pensar no que esta fazendo. Uma banda não é nada mais do que uma família, um time, onde o respeito mútuo deve rolar em todos os momentos. Quando um começa a achar que sabe mais do que o outro ai é que os problemas acontecem. A chave do sucesso se chama Respeito e não estava acontecendo por parte de todos os integrantes da banda. O ego é uma coisa que, se você não controlar, toma conta, o melhor que se pode fazer é pensar “Por que ele(a) esta fazendo isso?” e se perceber que ele(a) é assim e não vai mudar, o melhor é se moldar a essa atitudes e sentir pena da pessoa e torcer para que um dia ele(a) mude. É o que faço, pelo menos.
O Hirax, assim como o Slayer, é uma das únicas bandas que não mudou sua sonoridade mesmo após 20 anos de carreira, como você vê esse estilo mais old school hoje em dia?
É o estilo que realmente gosto. Desde moleque, ouço bandas como Testament, Forbbiden, Slayer, Metallica, Anthrax e não me surpreende que várias bandas oitentistas estão voltando, porque eles perceberam que não tem nada novo que seja realmente legal hoje em dia, salvo algumas poucas bandas, na minha opinião, como o Machine Head, o primeiro álbum e esse Through The Ashes Of Empire são ótimos álbuns.
A banda vai fazer um show histórico em Nova Iorque como headliner de um mini-festival ao lado do Deceased e também um outro festival em agosto chamado Minneapolis Mayhem 3 com o Raven, Jag Panzer, Exciter, Tankard entre outros. Como é a sensação de fazer parte de uma grande banda internacional e deste circuito de shows?
É bem lance de honra mesmo. Me sinto honrando em ver bandas que sempre escutei, tipo o Exciter, dividindo o mesmo palco e tendo total respeito pela banda que toco. Isso é indiscutível. Tankard é uma lenda do Metal, Raven, Jag Panzer… Wow, man, esse show será demais. Lutei bastante para chegar aqui, sem falar quantas noites passei aqui dormindo no meu carro, ou porque estava sem lugar para ficar ou porque saía de show muito tarde, tinha que trabalhar cedo e morava longe. Mas não enxergo isso como histórias, mas como uma coisa boa para mim, uma grande experiência. Mas ainda tem muito mais para rolar, não paro por aqui não e, para ser sincero, a melhor parte ainda está por vir.
Vai pegar muitos autógrafos nessa turnê? 🙂
Olha, os únicos caras que queria conhecer mesmo eram o Gene Simmons e o Paul Stanley do Kiss. O Gene eu já encontrei e até falamos português um pouco, foi engraçado. Agora só falta o Paul, sei que ele esta em Nova Iorque lançando o álbum solo dele, quem sabe o encontro por lá. E um dia ainda vou encontrar o presidente George W. Bush e dizer olhando para ele quão ignorante ele é (risos).
Podem rolar algumas surpresas nesses shows com algumas jams entre os músicos?
Sim, estou vendo uma comigo e o Exciter para tocar uns sons deles. Ainda não decidimos quais. Mas com certeza vai ser emocionante para mim, porque adoro Exciter, mas estou empolgado para uma tour com o Testament, essa vai ser legal.
O Hirax deve lançar um novo EP agora em 2006, chamado Assassins of War. Você participou das gravações?
Estamos para gravar esse álbum. Ele realmente começou com um conceito de EP, mas temos tantas musicas já prontas e a gravadora pediu um full-lenght, então assim será. Vamos lançar um álbum completo ao invés de um E.P
Quando esse trabalho será lançado?
Ainda não sabemos, a previsão é para o final do ano.
Como serão as novas músicas?
Sempre comparo com as do The New Age Of Terror, porque adoro esse álbum e com certeza as novas estão num nível de peso, técnica e groove que vai acima do álbum anterior. E nunca faríamos um álbum que não fosse melhor que o anterior. Estou muito empolgado com ele. É total old-school e tem um groove matador. Para mim já é um clássico. Sei que o músico tem a tendência de falar que o novo álbum é sempre o melhor. Mas essa será a primeira vez em que estarei gravando com a banda, então tenho uma visão mais critica das musicas, e estão soando perfeitas.
Mesmo com 20 anos de carreira e vários trabalhos lançados, o Hirax nunca foi considerado uma banda “de ponta” dentro da cena Thrash e se tornou um grupo cult, especialmente na costa Oeste dos EUA, por que você acha que os caras nunca conseguiram estourar no resto do mundo, de fato?
O principal motivo foi a situação interna da banda. Eram bem jovens e tem toda uma historia de bebida, drogas, festas toda hora, ego descontrolado, foi isso que acabou com a banda, que estava com ótimas oportunidades, mas deixou passar. Só agora está conseguindo retomar o posto que tinha e todo o respeito por parte de outras bandas e fãs. O Hirax hoje em dia recebe ofertas que claro, se não tivessem parado seriam muito melhores, mas os caminhos estão se abrindo bastante fora dos EUA. Temos fãs no Japão, que definitivamente fará parte da tour, América Central, onde estaremos indo daqui a 2 meses e Costa Rica, Alemanha, Finlândia. O Shane do Napalm Death estava tocando com a camisa do Hirax no show deles com o Kreator aqui, então é mais um lance de “Reconquering the Throne” (reconquistar o trono) agora.(risos).
Rolou um boato aqui no Brasil há um ano mais ou menos que você participaria do CD solo de um cara do Anthrax, o que existe de verdade nisso?
Tudo, eu realmente estava tocando com o Neil (Turbin, ex-vocal do Anthrax) mas tínhamos visões diferentes de músicas, gosto do som, mas não gosto de tocar. E não estava ajundando em nada minha carreira. Mas o principal motivo foram diferenças musicais mesmo. E também estava com problemas na minha documentação, então queria me focar bem nisso. Agora tudo esta perfeito. Mas continuamos bem amigos.
Algumas fontes também nos disseram que você pode futuramente integrar uma grande banda, com um nome mais forte que o do Hirax. Qual banda é essa?
Venho recebendo vários convites, alguns legais e outros bem legais. Mas gostaria de falar algo quando realmente rolar, quando realmente todas as agendas baterem, algo mais sólido. Ate agora são convites e projetos o que, claro já são um ótimo começo. Só não gosto de falar antes de realmente rolar, estraga a surpresa. Por favor me perdoe.
O que você pode nos adiantar sobre esse assunto?
Uau, voces realmente querem saber, hein? (risos). O Hirax vem de uma era onde todas bandas eram bem unidas, então esses contatos rolam até hoje em dia. Quando toca numa banda como essa, você acaba conhecendo bastante gente, no meu caso músicos dos quais sou bastante fã, então projetos paralelos ou entrar numa outra banda às vezes só para ajudar é bem normal. Mas como disse, apenas gostaria de falar o que esta rolando depois de rolar. Falo para você primeiro, ok?
Você chegou a ser convidado para entrar em alguma outra banda?
Sim e estou estudando propostas agora, porque, como disse, estou me focando nas gravações do Hirax. Mas ainda estou estudando as outras propostas.
Você não estava com o Firehouse há algum tempo?
Não, definitivamente não. Nem conhecer eles, conheco, respeito o som que eles fazem, mas se gosto ou não é uma outra historia.
Após tantas mudanças em sua carreira, quais são os planos para o futuro?
Minha prioridade agora é gravar o novo do Hirax e fazer a tour que será bem extensa. O futuro ainda vai acontecer. Vou continuar batalhando da mesma maneira que estou agora, não quero descanso nem férias. Quando faz o que gosta, você se diverte fazendo. E musica é o que amo. E no atual momento, estou escrevendo músicas para este projeto que estou montando, logo que eu acabar de gravar com o Hirax, darei minha vida a esse projeto. Já tenho seis ou sete músicas prontas, sei que vai chocar bastante, talvez até demais, por vários motivos. Tenho meio que os músicos que vou chamar na cabeça, mas não sei se as agendas vão bater. Posso dizer que esta banda que estou prestes a lançar está me motivando como nunca nenhuma fez. As musicas são absurdamente pesadas, mas ao mesmo tempo, é muito diferente de tudo que já fiz, estou muito, mas muito contente da forma como as músicas estão saindo. Estou bastante empolgado e quero muito lançar no Brasil antes. Como disse antes, sim, estou estudando convites de outras bandas, mas NADA se compara a este projeto que estou fazendo.
Alguma chance de você voltar a morar no Brasil?
Morar eu nao diria, mas visitar com certeza. Estou programando de ir até o final do ano e já estou planejando shows para fazer por aí, mas não com o Hirax. Vou gravar minha parte no álbum e dou uma fugida para, quem sabe, começar a divulgar meu novo trabalho, pelo menos é o que quero. Minha vida está mais aqui hoje em dia, minha esposa, casa, contas (risos), bandas, mas sempre serei brasileiro, minha casa será sempre ai.
Quando você ainda morava no Brasil, o Schmier do Destruction viu um show que você fez ao lado do Damage INC. (Metallica Cover) e elogiou bastante. Você tem contato com o cara?
Tinha contato bastante com o Marc, o batera. Mas depois que vim pra cá, paramos de nos falar. Mas você bem que deu uma boa idéia. Quando terminar essa entrevista, mando um e-mail para ele. Valeu.
Durante nossa última entrevista, você disse que estava com um projeto paralelo ao Harppia que uniria o Progressivo ao Black Metal. Você desistiu disso?
Não sei se desistir seria a palavra certa, mas dei um tempo com as bandas e projetos por aí. Não dá tempo e a distância faz a diferença. Falo muito com o Ravache a respeito do Harppia, quero muito ir para aí e quem sabe nos uniremos para um grande show.
Muitos músicos reclamam da falta de espaço na cena brasileira e acabam tendo a mesma idéia que você teve de ir para fora tentar ganhar a vida com o que amam. Qual o conselho que você dá para essas pessoas?
Conheci várias pessoas, mas várias mesmo, que sempre falavam “meu, vamos para os EUA, lá a cena é melhor, vamos agora”, mas na hora de ir todos sempre deram para trás, foram anos assim. Vir para cá, não é só alegria, você tem que saber que irá deixar sua família, amigos, tudo o que conquistou aí, com chances de não conseguir reconquistar depois e também tem o problema da legalização aqui. Como turista, você pode ficar seis meses, depois você fica ilegal e não pode viajar nem entrando em uma major band aqui. E tem mais, você está sozinho, tem que trabalhar muito e fazer contatos ao mesmo tempo. Com certeza faria de novo. De repente diferente? Quem sabe. Mas é difícil.
Você foi um de nossos primeiros entrevistados e, na época, até brincávamos que apenas cinco pessoas leriam a entrevista, mas agora, dois anos depois, o Delfos cresceu e você também se destacou bastante no cenário musical. Gostaria que você deixasse uma mensagem para o seleto público do Delfos, que hoje passou de algumas dezenas para alguns milhares de pessoas.
Primeiro de tudo, sabendo disso agora, desejo a vocês meus parabéns pelo site e que continuem fazendo a diferença. Porque esse é o maior segredo do sucesso. Aprendi muito aqui. Se quiser fazer algo e você sabe que milhares de pessoas estão fazendo o mesmo, faça a diferença, como, por exemplo, em música, não somente pense “meu som é o melhor, é muito melhor que todos”, saiba que todas as outras bandas pensam o mesmo delas. Realmente vá ao fundo e faça a diferença. Não seja mais um (a). E não tenha medo de fazer o que acredita que é certo, não tenha receio do que os outros vão falar. Essa é a sua vida. E quero agradecer muito a Deus, aos fãs que entenderam e me apoiaram nessa jornada, a galera do DELFOS também, com certeza, valeu. Nos veremos em breve. E a minha família que nunca me deixou na mão, sempre me falando palavras positivas quando estava passando por grandes necessidades por aqui.