Eis aí mais uma prova de que a quantidade de prêmios recebidos não é de forma alguma indicativo de sua qualidade, e isso é válido não somente para Hollywood, mas para todas as partes do mundo. É o caso deste Eu, Mamãe e os Meninos. O cartaz nacional o anuncia como a comédia do ano na França e diz que ele recebeu cinco prêmios César (o Oscar francês), incluindo o de melhor filme.
Bem, pensei comigo mesmo, se a película não for tudo isso, ao menos vou dar algumas risadas. Oitenta e cinco minutos depois sobem os créditos finais e digo-lhe exatamente quantas risadas dei enquanto o assistia: zero. Já falei isso antes e repito, uma comédia que não faz rir simplesmente não dá.
A história é centrada em Guillaume, membro de uma abastada família francesa. Como ele é o esquisito do clã, não consegue se relacionar com seu pai nem com seus irmãos. Mas é próximo da mãe, e passa a ter uma relação meio bizarra com ela, o que o leva a decidir que quer ser uma mulher.
A partir daí, a narrativa se concentra na jornada de Guillaume para definir sua sexualidade e descobrir se ele é homossexual, hétero, transgênero ou alguma outra definição que eu desconheça. O filme trata o assunto com delicadeza, o que é um mérito, já que em momento algum se rende a fazer as típicas piadas de baixo calão que comédias com essa temática geralmente fazem.
Mas também acaba sendo um tiro no pé, visto que o longa simplesmente não é engraçado. Talvez se tivesse sido abordado como um drama, fosse mais bem sucedido. Contudo, ao se aventurar no humor, tudo que consegue é arrancar uns dois ou três sorrisos tímidos e provocar alguns momentos “what the fuck?” por conta de umas bizarrices que não se encaixam com a estética do filme.
A primeira e menos nociva é o lance da relação um tanto próxima demais de Guillaume com a mãe. Isso me lembrou muito de Buster e Lucille em Arrested Development. Aliado ao fato de que Guillaume Galllienne fisicamente se parece bastante com o ator que faz o Buster, a referência fica ainda mais escancarada. Contudo, aqui as coisas não caem no surrealismo, como por vezes acontece na série sobre a família Bluth. E se tivesse seguido por esse caminho, teria melhorado bastante.
O segundo ponto é que ficou muito ridículo (de um jeito não engraçado) Guillaume Gallienne interpretando um adolescente. Fiz questão de ir olhar no IMDB quantos anos ele tem e o sujeito fez recentemente 42 primaveras. Ficou parecendo uma espécie de irmão europeu do Chaves sem o resto da estética tosca do mexicano que o transforma num clássico do humor. Com a pegada muito mais rebuscada e intelectual do filme francês, causou um ruído grande a escolha equivocada do protagonista.
Como você viu na ficha técnica, o sujeito, além de protagonizar, também é o diretor e roteirista. E além de dar ao protagonista seu próprio nome real, interpreta também a mãe dele. Não quero dizer que foi o ego do cara que atrapalhou, mas digamos que bem também não fez.
Eu, Mamãe e os Meninos até tem uma história interessante, que poderia render bem mais se fosse tratado como um drama ou até mesmo uma dramédia. Optou apenas por tentar fazer rir e falhou miseravelmente na tarefa. Desta forma, não há como indicar uma comédia que não arranque uma mísera risadinha sequer. Melhor assistir outra coisa.