Acabei de chegar do shopping onde foi feita a exibição para a imprensa e a entrevista coletiva com a equipe do filme Diários de Motocicleta. Como quem entra no Delfos freqüentemente já sabe, essa foi minha primeira cabine. Então para quem, como eu, nunca foi e sempre quis saber como é, vou contar tudo (como sempre faço, aliás ).
Cheguei no shopping por volta das 9:30 e uma mocinha veio na minha direção para perguntar meu nome e ver se estava na lista. Senti uma sensação de alívio e de orgulho por ver que realmente estava. Algum tempo depois, lá pelas 10:30, somos chamados para a sala onde o filme seria exibido (confira resenha no início de maio aqui no Delfos).
Duas horas depois, com a barriga já quase criando vida para ir procurar comida por conta própria, o filme acaba. Na saída, recebemos um livrinho muito legal, com todos os dados sobre a produção, sinopses e até uma entrevista com o diretor Walter Salles. Finalmente, era hora do brunch (e eu achei que isso só existia nos EUA), ou seja pães de queijo (hummm… ), mini-mistos e essas coisas que normalmente tem em festinhas de criança.
Algumas horas e três parágrafos depois de eu ter chegado no shopping, chega a hora mais esperada pelos cinéfilos em geral: a entrevista coletiva. Estavam presentes o diretor Walter Salles, os atores Gael García Bernal (Ernesto “Che” Guevara) e Rodrigo de La Serna (Alberto Granado) e o próprio Alberto Granado, o companheiro de viagem de Ernesto Guevara em sua primeira viagem pela América Latina, Rodrigo Saturnino, diretor geral da Buena Vista International no Brasil e Gustavo Agra, responsável pela criação da “Poderosa” a moto onde os protagonistas passam boa parte do filme. Cara, é a coisa mais estranha você ver na sua frente, as pessoas que você acabou de ver projetadas na tela. Bizarro!
E começam as perguntas: “Alberto, quando você percebeu que Guevara era um revolucionário?”. Resposta: “Ele sempre foi revolucionário. Em um mundo onde todos mentem, o simples fato de não mentir já é uma revolução”.
“O livro é sobre o descobrimento da identidade latino-americana. Alberto me disse que, naquela época, os dois sabiam mais sobre os gregos do que sobre os incas. Eles queriam conhecer o continente para o qual sempre damos as costas (…) Começamos o filme nos considerando de países diferentes, mas quando terminamos nos sentíamos todos latino-americanos” disse um orgulhoso Walter Salles.
Gael também tem algo a dizer: “Hoje nenhum político é tão real quanto Che foi. Realmente achei que não seria capaz de fazer um papel tão marcante”. Gael, aliás, parece um político, pois fala e fala, mas não diz nada. Era comum ele divagar tanto e se esquecer de qual era a pergunta. Seu companheiro, Rodrigo, por outro lado, simplesmente não tem nada a dizer. Sua voz foi apenas ouvida naquela tradicional pergunta: “O que você conhece do cinema nacional e vocês aceitariam trabalhar em um filme brasileiro?”. A resposta dos dois foi a mais óbvia possível: “Eu adoro o Brasil, estou muito feliz de estar aqui. Tinha muita vontade de conhecê-lo. Do cinema nacional, não conheço muito mais do que os filmes de Walter Salles e Cidade de Deus. Mas é claro que aceitaria trabalhar em um filme daqui”. Walter interfere com a voz da razão: “Nós também não conhecemos os filmes feitos pelos outros países da América Latina”.
Algumas perguntas mais legais também foram feitas: “O humor de Alberto no filme é muito evidente. Isso era real ou foi algo acrescentado para tornar o filme mais interessante?”. O próprio Alberto responde: “O humor é a melhor forma de encarar a vida. Principalmente em situações difíceis.” Mas qual foi a parte mais difícil na viagem real, Alberto? “Foi abandonar La Poderosa (a moto). Ela me ajudou a ser mais ousado e a ir aonde eu normalmente não iria. Conviver com leprosos também foi difícil. Mas isso nos fez perceber que o mundo tinha que melhorar de alguma forma”. Continua abaixo…
E afinal, de que país é esse filme, Walter? “Quando Robert Redford me ofereceu a idéia alguns anos atrás, eu neguei, porque achei que esse filme só deveria ser feito se fosse falado em espanhol. Robert concordou e fomos procurar produtoras para realizá-lo. Todas as produtoras norte-americanas recusaram. Apenas muito tempo depois, uma produtora inglesa aceitou financiá-lo, com uma pequena ajuda da França. O filme, na verdade, deve ser visto como uma produção latino-americana, pois é tão brasileiro quanto argentino ou de qualquer outro país”.
As cenas com muitos coadjuvantes parecem muito reais, como se não tivesse sido usado um roteiro. O que você acha disso, Walter? “Esse é um filme que se encontra entre o documentário e a ficção. Para aproximá-lo de um documentário, usamos muita improvisação. O garoto que guia os dois na cidade, por exemplo, não estava no roteiro, foi completamente improvisado. Filmamos muitas improvisações que não estão no filme”.
Como não podia faltar, a seleção de Cannes também rendeu uma pergunta: “Quais são suas expectativas, Walter?” Resposta: “Não tenho expectativas. O mais importante é a repercussão na América Latina, pois esse é um filme latino-americano. Quando terminamos o filme, senti que minha casa havia crescido”. Gael, algo a dizer? “O Cinema latino-americano funciona melhor unido do que separado. Esse filme é a prova disso”.
E para terminar, como foi recriada a moto Norton 500 usada pela dupla? “Ela, na verdade, não era uma Norton, era uma Suzuki disfarçada de Norton. Nós a chamávamos de Nortuki.” Explica Gustavo encerrando, assim, a entrevista. A sessão de fotos se inicia e um aglomerado de fotógrafos (eu incluído) se aproxima da equipe para fotografá-los. Evento encerrado, era hora de voltar para casa e escrever este texto que você está lendo. Espero que você tenha se divertido. Eu sei que eu me diverti.
Diários de Motocicleta estréia em 70 salas em todo o Brasil no dia 7 de maio. Na mesma semana, a resenha do filme (que já está escrita) será publicada aqui no Delfos. Não perca!