Como cinéfilo e como fã de filmes de terror, provavelmente uma das maiores manchas afro-descendentes no meu currículo era o fato de que eu até hoje não tinha assistido a nenhum dos filmes do José Mojica Marins. Eu mesmo achava isso um ultraje, mas nunca tinha rolado uma oportunidade. Então é claro que daria um jeito de assistir ao retorno do cara ao seu personagem mais famoso, aquele que muitas vezes se mistura com o próprio, o Zé do Caixão.
No início de Encarnação do Demônio, Zé do Caixão sai da prisão onde cumpriu a pena máxima da lei brasileira. Como todo senhor do mal que se preza, ele logo contrata uns capangas e volta ao grande objetivo da sua vida: gerar um filho perfeito. Enquanto procura pela mulher ideal, ele comete algumas atrocidades que podem até dar ao espectador vontade de comer um macarrão com almôndegas enquanto assiste.
E não é que o negócio é bom? Marins realmente é mestre em contornar o baixo orçamento e mesmo assim gerar imagens de qualidade. Além disso, alguns diálogos são simplesmente geniais, com várias referências ao satanismo moderno e ocultismo em geral. E mais, a violência é tão extrema que talvez seja o filme sério mais violento que já vi (não chega a ser como Fome Animal, mas aquele é comédia, então é outra história). E isso é bom! *-*
As atuações, por outro lado, são em sua maioria bem ruins e acabam atrapalhando e gerando algumas cenas de humor involuntário. Esse probleminha não interfere na qualidade do filme. Contudo, um outro problemão interfere – e muito: a história peca na falta de novidades e no excesso de furos. Tem muita coisa lá que simplesmente não faz sentido. E isso não é bom. E, por causa disso, o filme perdeu um Alfredo e meio.
Ainda assim, Encarnação do Demônio é bem legal e vale o ingresso. Sem falar que é um alívio poder dizer agora que já assisti a pelo menos um filme do Zé do Caix… ops, quer dizer, do José Mojica Marins.