Em Defesa de Jacob é um daqueles livros que tiveram grande sucesso em seu ano de lançamento, tendo inclusive ficado na lista de best-sellers do NY Times por mais de 20 semanas. Mas como o amigo delfonauta sabe, nem todo livro que frequenta as listas dos mais vendidos é digno de confiança. E já respondendo à sua pergunta, sim, este livro vale a sua leitura, mas com algumas ressalvas.
Em seu terceiro livro, William Landay conta a história de Andy Barber, o principal promotor adjunto da pacata cidade de Newton, Massachusetts; e de seu amor quase cego pela sua família, composta pela sua esposa Laurie e seu filho, Jacob.
A tranquilidade da cidade é quebrada quando Ben Rifkin, um adolescente de 14 anos, é encontrado morto, esfaqueado, no parque da cidade. Rapidamente Andy assume o caso e, depois de um tempo de investigação, o principal suspeito do crime é seu filho, Jacob. Afastado do caso, Andy vai enfrentar o julgamento de seu filho pelo lado que nunca esteve antes em sua carreira: o lado da defesa.
Personagens bem construídos, mas que às vezes caem em situações clichê, fazem parte de Em Defesa de Jacob. Nem precisa falar que Andy é o personagem mais bem construído da trama. Um advogado com competência acima da média e pai ausente, mas que defende sua família como um delfiano defende o seu bacon, mesmo ele não estando 100% certo do que está falando. O autor consegue fazer a gente sofrer com ele e ter dúvidas sobre a inocência de seu filho Jacob, que faz a linha “garoto adolescente tímido de poucos amigos, geek e com comportamento pra lá de suspeito”. E temos Laurie, sua esposa, personagem que cumpre bem o seu papel na trama, sem comprometer em nada a história. Lógico que temos outros personagens, que vão de simples policiais a amigos de Jacob, além de juízes e advogados.
Narrado em primeira pessoa por Andy, Em Defesa de Jacob mostra todos os acontecimentos pela visão do pai. Todas as suas crenças, as impressões da esposa e do filho e seus conhecimentos do processo em um tribunal, tudo é narrado pelo pai, o que faz o livro ter um forte apelo psicológico, deixando o lado jurídico do livro, que é muito forte, em segundo plano.
Outro detalhe da narrativa que vale a pena comentar é que ela apresenta fatos do passado intercalados com os acontecimentos do presente. Em determinado momento, temos toda a história acontecendo. E quando menos esperamos, somos levados ao passado, em um diálogo entre Andy e o promotor adjunto que assumiu o seu lugar, no que parece ser um interrogatório sobre o julgamento, onde temos a impressão que Andy está sendo entrevistado como uma das testemunhas. Esta transição entre passado e presente acontece com bastante naturalidade, algo que não me lembro de ter visto tão bem feito em outros livros.
Landay mantém tudo em suspense, Não é possível saber durante todo o livro se Jacob é culpado ou não. Se em um capitulo você tem certeza de sua inocência, no próximo essa certeza já não existe e você fica na expectativa que ele seja declarado culpado a qualquer momento.
O final do livro foge do convencional e chega a surpreender. Não é nada que deixe você apreensivo, pois mesmo no fim, o livro segue o mesmo ritmo, algo entre o tenso e o morno. E sem contar que o autor deixa algumas pontas soltas na história (proposital, talvez). Nada que chegue a comprometer, mas quem é curioso com detalhes, vai se sentir um pouco incomodado.
Leitura recomendada para quem gosta de suspense e com um bom conteúdo jurídico. Juntando tudo isso a uma ótima narrativa, Em Defesa de Jacob vale o seu investimento.
CURIOSIDADE:
– William Landay, antes de ser escritor, já trabalhou como advogado e ficou durante sete anos no cargo de promotor assistente do condado de Middlesex, Massachusetts. Então, qualquer semelhança dele com o Andy Barber não é mera coincidência.