Quando fiquei sabendo que o personagem Demolidor viraria filme, confesso que fiquei um tanto impressionado. Afinal, além de ser um personagem secundário no time de heróis da Marvel (embora muito legal), muitos outros mais importantes e conhecidos ainda não tinham sido filmados. Portanto você pode imaginar a minha surpresa ao descobrir que o filme geraria um spin-off protagonizado pela ninja Elektra, ainda mais secundária que o cego da Cozinha do Inferno.
Vamos começar falando do filme original, considerado pelos nerds e fãs uma das piores adaptações de quadrinhos de épocas recentes. Particularmente, eu até gostei do dito-cujo, mas ele peca em um ponto muito importante: o elenco. Para começar pelo seu personagem principal, interpretado pelo galã Ben Affleck. E não pára por aí, já que um dos grandes vilões da Marvel (o Rei do Crime) foi completamente modificado pelo ator que o interpreta, eliminando todo aquele charme de máfia que envolve o personagem. E, para terminar, é claro, temos Jennifer Garner, como Elektra. Ok, Jennifer até atua bem e é sem dúvida uma garota linda. Mas aí que está o problema: Jennifer tem cara de garotinha. Cai bem em papéis fofos como De Repente 30, mas não convence no papel de uma das maiores assassinas que os gibis já conheceram. Quem já viu a Elektra do gibi percebe na hora que sua beleza vai mais para o lado Femme Fatale do que para o lado garotinha. E, infelizmente, a Fox optou por insistir no erro, mantendo a garota no papel da ninja. Para ser sincero, Natassia Malthe, a atriz que assumiu o papel de uma das vilãs, Mary Typhoid, teria ficado muito melhor como a ninja do que a própria Garner. A semelhança da garota com a personagem do gibi é gritante.
Ok, devo admitir que ela melhorou bastante e está bem mais semelhante à personagem aqui do que estava no filme do Demolidor. Mas se a atriz ficou mais parecida, sem dúvida a personagem foi completamente desvirtuada. Parece que a Elektra do gibi se adaptou à Jennifer Garner e não o contrário, como deveria ter sido. Aqui a assassina é quase doce, chegando a agir como mãe em diversos momentos. E pior, tem até poderes, como o Kimagure, que possibilita que ela veja o futuro.
Mas o pior defeito do filme é mesmo o seu roteiro. Não é exatamente que seja um filme ruim ou chato, mas qualquer pessoa que já tenha assistido a filmes suficientes na vida parece compartilhar do tal de Kimagure com a protagonista. Sem brincadeira, tem horas que dá para você simplesmente adivinhar a próxima frase dos personagens. Isso quando você não adivinha seqüências inteiras, como quem será a próxima vítima da ninja, por exemplo.
Uma das maiores qualidades do longa é a primeira seqüência, que mostra Elektra em um de seus trabalhos, seguindo uma das linhas de roteiro mais batidas que existem, que serve para você entender como funciona a rotina dos protagonistas. Você encontra essa mesma linha em filmes como Monstros S.A., por exemplo. O chato é quando isso que deveria ser apenas uma introdução se torna a melhor cena do filme. O que acontece também em X-Men 2 e aquela fantástica cena do ataque do Noturno ao presidente. Claro, o filme dos mutantes é muito superior a Elektra, mas se você às vezes sente que não tem mais motivos para assistir ao resto de X-Men 2 após essa cena, isso será ainda mais evidente em Elektra.
Outra qualidade do filme são as coreografias das lutas, que brincam com a alternância de movimentos rápidos com lentos. Lembrou de Matrix? Pois é. Mas considerando a revolução que filme dos irmãos Wachowski gerou no cinema de ação contemporâneo, creio que será difícil vermos boas lutas que não lembrem o dito-cujo, então temos que dar um desconto.
Para falar a verdade, ainda não consegui decidir se gostei ou não do filme. O filme é até divertido, se você não se incomoda com o fato de ele ser completamente igual a outros zilhões de filmes do estilo. Se você exige coisas novas ou quer ser surpreendido, não é aqui que você vai conseguir isso. E tenho dito.