É bom ver um filme brasileiro onde você realmente consegue identificar o Brasil aonde você vive. Tipo, eu nunca entrei numa favela, não sou nordestino (e um abraço delfiano a todos os delfonautas nordestinos lendo isso! ^^) e sou jovem demais para ter usufruído de todas as benesses da ditadura. Mas eu já fiquei preso no trânsito de São Paulo, já fiquei irritado com a fila ininterrupta de motoqueiros entre as faixas da Avenida Rebouças e, claro, já me apaixonei.
Esse é o mundo no qual vive Baby (Glória Pires) e, provavelmente, é o mesmo no qual você também vive. Um dia, Max (Paulo Miklos) se muda para o apartamento ao lado e ela logo se apaixona por ele. Infelizmente, fica claro que ele não corresponde o sentimento no mesmo nível e chega até a dar peninha dela em várias cenas.
Temos aqui uma história de pessoas vivendo suas vidas normais e patéticas, ou seja, um slice of life rezekiano. De certa forma, o longa me lembrou um Kevin Smith para adultos. Isso porque os personagens são bem humanos e agem da mesma forma que várias pessoas que conhecemos. Em especial, os dois protagonistas me lembraram, em vários diálogos, a minha mãe e os amigos dela.
Em outras palavras, o público alvo de É Proibido Fumar deve ser mais velho do que a média dos que visitam esse site. Porém, embora eu não tenha me visto representado na tela, eu vi semelhanças com pessoas que eu conheço e gosto. E isso é legal, além de ser um sentimento quase inédito no cinema nacional (afinal, os únicos traficantes que eu conheci na vida eram os comunistas abastados que vendiam maconha na faculdade – bem diferentes dos truculentos criminosos das telonas).
Dessa forma, se fosse um filme estrangeiro, provindo de algum país menos monotemático que o nosso (ou seja, qualquer outro país de qualquer planeta de qualquer sistema do universo), esta seria uma obra nada, sem muito a acrescentar. Como é brasileiro, contudo, acaba servindo como um refresco para escapar da mesmice do nosso cinema, ainda que não seja nenhuma maravilha da sétima arte. Sabe, aquelas onde coisas explodem a rodo, o herói sai sem nenhum arranhão e a única pessoa além do vilão que morre é o policial a dois dias da aposentadoria.