Dredd

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Pior do que uma cabine à tarde é uma cabine à tarde que atrasa mais de meia hora. Felizmente, esse é o tipo de coisa que você acaba deixando para lá quando o filme é legal. E quem diria? Dredd é maior legal!

Baseado no personagem das HQs, Dredd é um juiz, um policial de um futuro distópico, com o poder de julgar criminosos e executar suas sentenças. Você talvez o conheça daquele filmão clássico de 1995 com Sylvester Stallone ou, caso você seja um orgulhoso thrasher (manifeste-se nos comentários), daquela música clássica do Anthrax que tem um dos riffs mais legais do metal estadunidense.

JULGANDO O JUIZ

Admito, eu nunca li as HQs e meu contato com o personagem se deu na infância, quando assisti ao filme com Stallone (e, na época, gostei bastante) e joguei o jogo de Mega Drive baseado no filme (e também gostei bastante). Como isso já faz quase 20 anos, e eu nunca mais assisti nem joguei às obras em questão, minha memória delas é nebulosa.

Ainda assim, achava que tinha uma boa noção do personagem, e minha noção era de que ele era uma alegoria ao abuso de poder e autoridade. Uma crítica a uma sociedade que dava poder demais a uma única pessoa, permitindo que ela fosse juiz, júri e carrasco e assim manipulasse o sistema judicial. Se os gibis são assim ou não, você que conhece bem me diga nos comentários. Mas o filme está longe disso.

Os juízes do filme, ao contrário da ideia que eu tinha, não podem fazer o que quiserem com os criminosos. Eles têm que seguir as leis, e sofrem penas severas se não seguirem. E até achei isso bem interessante.

Na história de Dredd, o juiz-título fica a cargo de treinar uma aprendiz com poderes mediúnicos. Ao investigar um assassinato, ambos acabam presos em um prédio enorme. Algumas das pessoas do prédio são cidadãos decentes, mas a imensa maioria faz parte da gangue da vilã Ma-Ma (Lena Headey, da série Sarah Connor Chronicles) e estão caçando os que estão acostumados a serem os caçadores. Obviamente, lá pelas tantas, vão popar por ali alguns juízes corruptos, garantindo a ação “judge-on-judge” que todo mundo quer ver.

SENTENCIANDO O JUIZ

A primeira impressão que Dredd passa não poderia ser pior. A fotografia, ao tentar recriar a cara dos filmes de ação e ficção científica dos anos 80, acaba sendo apenas feia. Karl Urban no papel principal, então, chega a ser irritante, com sua boca tão forçadamente para baixo que ele fica parecendo um emoticon. Claro, ele basicamente só tem a boca para interpretar, já que todo o resto fica coberto, mas todos os outros juízes conseguem fazer um trabalho bem melhor com essas limitadas possibilidades. Além disso, o começo é bem lento e pouco interessante, com o agravante de que o filme se leva a sério. Muito a sério.

Felizmente, ele melhora muito. Quando o prédio foi lacrado e eu saquei o que ia acontecer, imediatamente já pensei “isso pode ser legal”. E foi! A partir daí, o timing é excelente, alternando cenas de ação bombásticas com momentos mais calmos de forma deveras habilidosa.

O grande destaque vai para a vilã, especialmente para a interpretação de Lena Headey, que mesmo sendo magra e relativamente pequena, consegue intimidar e parecer tão ameaçadora quanto a personagem exigia. Ela é uma produtora e traficante de uma nova droga, chamada slo-mo, que achei tão legal que até vou criar um parágrafo especialmente para falar dela.

Só que não será este parágrafo. Vou falar da droga no próximo, mas aposto que você já imagina o que ela causa pelo nome, não? Bom, vamos lá? Então vamos!

A droga faz com que o cérebro perceba a passagem do tempo com 1% da velocidade real. É praticamente um bullet-time particular. Pô, isso deve ser muito útil em tiroteios, você poderia se tornar um Neo da vida real. Aqui, no entanto, ela é usada para prolongar o sofrimento de pessoas torturadas. Irgh!

O mundo do filme também é muito legal. É o tipo de premissa que funcionaria perfeitamente em uma série de TV, pois pode ser estendida e explorada por muito tempo, desde que tenha roteiristas habilidosos. O filme é curto, com pouco mais de uma hora e meia, mas assim que a introdução termina e a história começa, ele fica bom até o fim.

Eu sinceramente esperava que Dredd fosse ser uma bomba. Surpreendi-me positivamente, e acredito que você também vai se surpreender. Temos aqui um filme de ação com cara e gosto do lado mais sério dos anos 80, e isso definitivamente não se vê todo dia.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
dreddPaís: EUA / Reino Unido / Índia<br> Ano: 2012<br> Duração: 95 minutos<br> Roteiro: Alex Garland<br> Elenco: Karl Urban, Olivia Thilby e Lena Headey.<br> Diretor: Pete Travis<br> Distribuidor: Paris<br>