Prepare sua franjinha e suas frases de efeito, caro delfonauta, pois está prestes a adentrar o estiloso Limbo de um game deveras polêmico: DmC, o reboot de Devil May Cry que a Capcom largou nas habilidosas mãos da Ninja Theory!
Como parciais que somos, vamos destrinchar o game em todos os seus aspectos, para que você saiba se a nova aventura do Dante é ou não um bom investimento. Mas antes de falar do jogo em si, devemos deixar uma coisa bem clara:
FANBOYS MAY CRY
Antes de começar, vamos a um breve esclarecimento: não estou aqui para falar do penteado novo do Dante, nem de sua pinta de galã de Malhação. Primeiro, porque o “velho” Dante não é referência de masculinidade nem aqui nem na China (talvez no Japão). Segundo, porque o visual dele é o que menos importa em um jogo tão legal!
Se você não gostou do novo visual dele, ok, respeito sua opinião. Mas por favor, não seja tão cabeça-dura a ponto de deixar de jogar este reboot simplesmente por conta de uma franjinha mais moderna, ou um cabelo que não é mais branco.
Pense comigo: estamos falando de um jogo da Capcom, produtora que tem o (questionável) dom de alterar drasticamente algumas de suas principais franquias (algumas para pior… cof, cof… Resident Evil). Então se desta vez só o que muda é o cabelo do personagem, estamos no lucro!
Desde já eu afirmo que gostei muito do novo DmC, e na sequência você vai saber os motivos. Por enquanto, saiba que, se você é um fanboy xiliquento, precisa abrir sua mente, e encarar este jogo pelo que ele é, não pelo que você gostaria que ele fosse.
DIABO CAPITALISTA
Como praticamente tudo no jogo, a trama do novo DmC está mais moderninha e antenada do que nunca. Nosso novo Dante tem noção de que ele não é um humano normal, mas ele não sabe bem o que é, e prefere ficar bancando o revoltadinho ao invés de descobrir.
Tudo muda, porém, quando ele deixa um “rastro” que permite que Mundus, o vilão do game, o encontre. Mundus é o rei demônio, mas não espere o capeta convencional, com chifres, tridente e rabo pontudo: Mundus é um demônio moderno em todos os aspectos: sempre de terno e gravata, ele não quer que o mundo acabe em fogo e trevas. Assim como o DELFOS, seus planos para dominação global são bem mais eficazes… e elegantes!
Vejamos: para manter a humanidade sob controle, ele se vale do capitalismo, da mídia e da propaganda. Virility, o energético mais popular no mundo do game, possui um “ingrediente secreto” diabólico, que mantém as pessoas em uma espécie de transe catatônico. A badalada boate Devil’s Dalliance é chefiada pela medonha Lilith, companheira de Mundus. Já a Raptor Network, emissora de TV líder de audiência, conta com seu parcial âncora Bob Barbas para fazer lavagem cerebral na humanidade, crucificando publicamente qualquer um que se oponha aos seus princípios.
Entre estes opositores temos os Anonymous integrantes da The Order, um grupo de revolucionários que sabe tudo o que rola “por debaixo dos panos” e tenta liberar a humanidade das garras de Mundus e sua trupe de demônios.
O vídeo abaixo mostra de maneira deveras estilosa um pouco desta mistura entre demônios e consumismo:
Já no início do game, Dante é abordado por Kat, uma jovem bruxa que é o braço direito do líder da The Order. Obviamente, este líder é ninguém menos que Vergil, o irmão gêmeo de Dante. Após ser apresentado ao irmão, não demora para nosso anti-herói rebelde descobrir a verdade sobre seu passado: ele é filho do lendário demônio Sparda, que traiu sua ordem ao se envolver afetivamente com um ser angelical – Eva, a mãe de Dante.
Por serem crias de um demônio com um anjo, Dante e Vergil são Nephilims, criaturas que possuem o poder de ambos os lados da Força e, justamente por isso, são mais fortes do que ambas. Isso torna nossos Zack e Cody infernais os únicos que podem deter Mundus e salvar a humanidade de seu domínio de consumismo demoníaco.
A trama do game não é nenhuma obra-prima, mas faz o que se propõe: reapresenta Dante, Vergil e outros personagens do universo de Devil May Cry (como Mundus e Sparda) de uma nova maneira. Se não fosse um reboot, este jogo poderia ser considerado praticamente um prelúdio da série oficial, visto que nos apresenta a um Dante mais jovem e inconsequente antes mesmo dele criar a famosa agência de casos sobrenaturais que dá nome ao game.
JOGABILIDADE SSSENSACIONAL
Como eu já disse no início do post, o assunto aqui é DmC como um todo, e não detalhes como o penteado novo do Dante. Devil May Cry praticamente inventou o gênero hack n’ slash mais de 10 atrás, e a missão da Ninja Theory era não só recomeçar uma série muito querida, mas também elevar o patamar de um gênero que se tornou muito popular graças a franquias pintudonas como God of War e Bayonetta.
E eu ouso dizer que a produtora foi extremamente feliz nesta missão, caro delfonauta! Se você já leu algumas resenhas de games de minha autoria por aqui, sabe que hack n’ slash é um dos meus gêneros favoritos.
Não me entenda mal: embora eu admita que jogos deste gênero são praticamente button mashers, eu aprecio jogos que contam com uma jogabilidade que pode até parecer simples, mas brinda o bom jogador com combinações insanamente profundas, que resultam em combos estilosos e devastadores. Muito mais que esmagar botões, um bom hack n’ slash deve ser um verdadeiro exercício de perícia e timing para o jogador.
Dito isto – e considerando a excelência da série Devil May Cry – eu esperava que o novo jogo teria uma boa jogabilidade. Porém, qual não foi minha surpresa ao perceber que este DmC é, sem dúvida, um dos melhores (senão o melhor) hack n’ slash desta geração!
Muitos jogos do gênero oferecem diversas opções de armas ao jogador, mas você precisa ficar acessando menus para alternar entre elas, o que quebra completamente a fluidez da pancadaria. Em DmC não: a Ninja Theory incorporou um excelente sistema de troca dinâmica de armas acopladas aos gatilhos do controle, e isso funciona MUITO bem!
O bagulho funciona da seguinte maneira: temos dois botões de ataque padrões, mais um para armas de fogo. Se você simplesmente apertar estes dois botões padrões, Dante vai realizar ataques com sua arma padrão, a clássica espada Rebellion.
Porém, se você mantiver o gatilho direito pressionado, sua espada some para dar lugar às suas armas demoníacas. Ao manter o gatilho esquerdo, suas armas angelicais é que dão as caras. Com um pouco de habilidade, você pode alternar entre todas estas armas durante um único combo, o que resulta em sequências incríveis, que fazem um estrago considerável na carcaça dos inimigos!
Como no decorrer do game você habilita duas armas demoníacas, duas armas angelicais e três tipos de armas de fogo, pense no absurdo número de possibilidades que temos! Considerando a rapidez frenética dos combates, você precisará se habituar com esta mecânica dos gatilhos, mas sem dúvida seu empenho será recompensado com os combos (e, especialmente, os air combos) mais estilosos dos últimos anos!
Para deixar tudo ainda mais fluido, as armas demoníacas/angelicais possuem propriedades bem peculiares: com suas armas demoníacas, Dante pode puxar seus inimigos para mais perto, no melhor estilo get over here! do Scorpion. Já com as armas angelicais, o personagem é içado para mais perto dos inimigos.
Só para você entender como esta mecânica de “laçar” os inimigos contribui com a fluidez dos combates, confira o vídeo abaixo, que mostra um pouquinho da dinâmica de combate do game. Repare em quantas vezes Dante laça seus inimigos para mantê-los no ar sem quebrar a contagem de hits, e alterna entre suas armas com muita rapidez:
(Nota: no vídeo abaixo, Dante está de cabelos brancos porque o jogador comprou um DLC de skins que traz o visual “clássico” do personagem).
Para completar a parte de jogabilidade, devemos lembrar que, como já é tradição na série, DmC conta com um sistema de pontos por desempenho que pode se tornar uma verdadeira obsessão para os mais afoitos: você ganha notas que vão do D até o SSS em cada combate e ao final de cada fase. Conseguir um duplo S já é duro, mas se quiser conseguir um SSS em todas as fases, prepare-se para um desafio pra lá de cabeludo. O que nos leva ao próximo tema que é…
DIFICULDADE
Este DmC é muito mais fácil que os anteriores. Isso é um fato. Porém, também é um fato que o jogo possui nada menos que 7 níveis de dificuldade diferentes, que vão do “jogo de olhos fechados” ao “mamãe, me tira daqui!”. São opções para todos os gostos e níveis de habilidade!
Inicialmente temos apenas três níveis de dificuldade: Human, Devil Hunter e Nephilim, que equivalem aos clássicos Fácil, Normal e Difícil. Até aí, tudo normal.
Porém, ao terminar o game em qualquer um destes modos, você habilita a dificuldade Son of Sparda, que já começa a deixar as coisas mais interessantes, pois mistura todos os adversários do jogo e os deixa mais fortes. Finalizado o game neste modo, você pode acessar a famosa dificuldade Dante Must Die!, um modo extremamente desafiador que deixa os inimigos mais fortes e coloca muito mais deles na sua cola.
Passou disso? Maravilha, então você está apto para encarar o modo Heaven or Hell: neste modo de jogo, qualquer inimigo morre com apenas uma porrada… mas você também! Achou pouco? Então se prepare para chorar sangue com o modo Hell or Hell, o desafio máximo do game, onde Dante ainda morre com apenas um golpe, mas todos os inimigos possuem energia normal (ou seja, precisam de vários golpes para serem derrubados), e estão mais agressivos do que nunca!
Confesso que não tive coragem tempo para ir além do modo Son of Sparda até o momento, mas já adianto que este modo oferece um excelente desafio. Inimigos que demoram a aparecer no modo Normal/Devil Hunter já dão as caras logo nos primeiros minutos de jogo, e a variedade (e quantidade) deles só aumenta conforme você progride, tornando cada nova batalha uma surpresa e um teste de habilidade.
Não sou um grande fã de jogos frustrantemente difíceis, mas acredito que terei colhões para encarar o novo DmC até pelo menos o modo Dante Must Die! sem ir chorar na barra da saia da mamãe. Se você é mais macho corajoso do que eu, divirta-se nos modos ainda mais difíceis. Eu pretendo manter minha sanidade em dia, meu controle inteiro, e meus cabelos na cabeça por mais um tempo. =D
VISUAL, SOM, PERSONALIDADE
Desde que joguei o excelente Enslaved: Odyssey to the West, me tornei um fã da Ninja Theory. Ela é uma daquelas empresas caprichosas, que realmente se empenha para fazer jogos bonitos e bons de se jogar.
E este capricho está nos pequenos detalhes: ao realizar o combo mais básico do Dante, por exemplo, é lindo reparar que o personagem se desequilibra com o peso de sua própria arma. Provavelmente pouca gente vai reparar nisso, mas para mim faz toda a diferença do mundo, pois mostra que houve um meticuloso trabalho de captura de movimentos que concedeu peso à espada e autenticidade ao movimento.
Em DmC, este cuidado está presente em cada frame. Embora por influência do DELFOS o game tenha persistentes tons de vermelho e alaranjado em praticamente todos os ambientes, o visual do game como um todo é excelente, os cenários são muito detalhados, e apresentam mudanças estruturais realmente incríveis.
Quando está no Limbo (que é tipo uma bizarra versão paralela do mundo real), tudo fica distorcido e bizarro, mas mantém os traços do cenário original. No Limbo, o próprio cenário se comunica com Dante, frases de efeito surgem em pisos e paredes, que ainda podem explodir do nada para dificultar o progresso do personagem. Elementos do cenário se contorcem quando você chega perto, e fragmentos de gosmas demoníacas pairam no ar no melhor estilo bullet time. Tudo isso forma belas composições, onde o visual urbano se une ao surreal de maneiras muito bacanas.
Um exemplo de criatividade dos cenários: em dado momento, você deve invadir a torre da emissora Raptor Networks. A torre fica imponentemente posicionada perto de um lago, mas a invasão em si rola no Limbo, onde o reflexo que a torre projeta na água é real. Ao chegar lá, nos deparamos com um bizarro mundo onde a chuva cai ao contrário e tudo está de cabeça para baixo.
Sei que já vimos este tipo de psicodelia em obras tipo Alice no País das Maravilhas, mas o capricho da Ninja Theory dá uma nova cara para este tipo de recurso.
No departamento sonoro, as dublagens do game se destacam, pois combinam bem com a personalidade de cada personagem. As cutscenes deixam isso especialmente claro. Confira abaixo um apanhado das cutscenes de uma missão do game (atenção: spoilers leves), e repare especialmente na qualidade do visual, nas expressões faciais e nas dublagens:
A trilha sonora também é bacana, misturando um rock industrial com batidas pesadas de música techno. Não conhecia o trabalho das bandas que assinam a trilha sonora do game – CombiChrist e Noisia – e este não é o tipo de som que eu queira botar no meu MP3, mas é fato que as bandas captaram a essência do game em suas músicas, o que fortalece a personalidade deste reboot.
Por falar nisso, a personalidade do jovem Dante é um ponto interessante: embora ele comece meio babaquinha e boçal, aos poucos ele evolui e, se a impressão inicial não é das melhores (a cutscene inicial, na boate, já força a barra, negativamente falando), no decorrer da trama a gente acaba simpatizando com ele. Seu elenco de apoio – em especial Vergil e Kat – também mandam bem, e a localização do game – 100% legendado em nossa língua nativa – vai facilitar a vida de muita gente, pois não poupa nem os (vários) palavrões presentes nos diálogos.
A QUEDA DE VERGIL
Demorei um pouco para terminar esta análise pois quis aproveitar para falar de Vergil’s Downfall, DLC que funciona como um epílogo para a campanha principal. Sem entregar spoilers, tudo o que você precisa saber é que aqui podemos controlar Vergil, o irmão gêmeo malvado de Dante.
E as coisas mudam MUITO com este novo personagem. Tive medo que ele fosse apenas uma nova skin para Dante, mas o que temos aqui é um personagem totalmente novo, com armas, upgrades e jogabilidade próprias.
Para melhorar, Vergil possui sua própria mini-campanha que, embora revisite alguns cenários da campanha principal, conta com novos ambientes e paisagens totalmente modificadas. A mecânica de jogo com Vergil é bem diferente: ele não é tão ágil quanto Dante, mas mesmo assim conta com combos e golpes especiais incríveis.
O único ponto negativo aqui é que a história se desenvolve por meio de storyboards animados, e não por cutscenes legalzudas, como na campanha principal. Acredito que fizeram isto para reduzir o tamanho do DLC (que mesmo assim tem quase 2GB), mas para mim isso acabou destoando um pouco do conteúdo original. Apesar disso, a qualidade gráfica de cenários e personagens permanece de alto nível durante a jogatina.
Vergil’s Downfall acrescenta umas boas três ou quatro horas de gameplay inédito ao jogo, o que por si só já faz valer a pena seu investimento (9 dólares/720 MS Points). Para completar, este modo aprofunda-se com maestria na personalidade perturbada de Vergil, e também conta com sete níveis de dificuldade e várias conquistas/troféus, o que agrega ainda mais fator replay ao conteúdo. Tudo isso fora do disco, para alegria dos haters!
O FIM DOS DEMÔNIOS CHORÕES
DmC é sem dúvida um excelente game, que merece a sua atenção. Portanto esqueça o visual moderninho do Dante. Ele continua sendo um anti-herói carismático, cheio de frases de efeito e sagacidade, e ainda chuta bundas demoníacas como ninguém.
Devil May Cry não se trata apenas de um personagem andrógino estiloso, mas de uma jogabilidade primorosa, um universo consistente e um desafio de alto nível. Tudo isso está aqui, melhor e mais bonito do que nunca. Deixe seus preconceitos de lado, e você vai encontrar muitas horas de diversão em um legítimo hack n’ slash que tem tudo para (re)defenir o gênero mais uma vez.
Difícil saber se este novo DmC vai se tornar uma próspera franquia (suas vendas não foram tão boas quanto a Capcom esperava), mas eu sinceramente adoraria fazer mais e mais demônios chorarem no caprichado e bizarro mundinho criado pela Ninja Theory.
Se você é fã do “velho” Dante e não concorda comigo, faça pipi na minha foto se quiser, mas, goste você disso ou não, eu hei de fechar este texto bradando em alto e bom som: vida longa ao novo Dante!
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