Todos conhecemos a história da Chapeuzinho Vermelho, certo? Um conto básico sobre um lobo que tem tara por garotas muito velhas ou muito novas e de um lenhador que por acaso está no lugar certo na hora certa. Pois o delfonauta mais inteligente também sabe que ver algo por outro ponto de vista muda completamente a história, certo? Certo. Pois você já se perguntou o que o Lobo realmente queria com a Chapeuzinho? E como o Lenhador apareceu do nada? Pois então, para todos aqueles que vivem questionando as histórias que nossas vovós contavam, surge Deu a Louca na Chapeuzinho (um dos nomes de filme mais cretinos desde S.O.S. Tem um Louco Solto no Espaço – queria saber o que as distribuidoras nacionais têm contra comédias).
Pois é, pois é, pois é, amigo delfonauta. Esta pode ser considerada uma verdadeira continuação do conto de fadas que aterrorizou nossas infâncias (aliás, poucas coisas são mais assustadoras do que os contos de fadas – quem nunca ficou noites sem dormir por medo da terrível bruxa canibal da história de João e Maria? Irgh!) e, graças a Tutatis, não é o sacrilégio que a Disney fez com alguns de seus clássicos, como o terrível Peter Pan 2. E antes que alguém mais fale: sim, essa atitude de tirar sarro de histórias clássicas lembra muito o Shrek, provável principal fonte de inspiração para este longa.
Tudo começa quando a polícia chega na casa da vovó. Existem acusações de todos os lados, indo de roubo a invasão de propriedade. Mas o que realmente aconteceu? Para resolver o crime, o inspetor Nick Pirueta (um sapo à Sherlock Holmes) vai ouvir a versão de cada um deles. A primeira é a da Chapeuzinho, que é também a mais chata, pois apenas recapitula os eventos do conto original com pouquíssimas coisas novas. Mas logo a seguir vem a do Lobo Mau e aí a coisa começa realmente a ficar legal. Ou alguma vez já passou pela sua cabeça que o Lobo era na verdade um jornalista tentando resolver um caso de roubo de receitas de doces? Ou mesmo que a inocente Vovó não é assim tão inocente e que na verdade trata-se de uma magnata que construiu um império de doces e que é apaixonada por esportes radicais? Eu, pelo menos, nunca tinha pensado nisso, e essas características inusitadas dos personagens são boa parte do trunfo do filme.
Isso sem falar nos novos bichinhos que aparecem na história, como o Ligeirinho (nada a ver com o ratinho mexicano), um esquilo que fala tão rápido que ninguém consegue entendê-lo (o que me lembra um cara que conheci há alguns anos) e o Bode, que tem uma pá de chifres para as mais diversas situações e que fala tudo cantando, ou seja, um grande candidato para substituir Rent nos pesadelos do Cyrino.
Para completar, boa parte dos diálogos são geniais. Repletos de referências a outros contos de fadas e com tiradas muito inteligentes. Só as conversas em si já valem o filme.
Defeitos? Bom, eu citaria o visual. Já não sou um grande fã de desenhos em computação gráfica, mas este está bem aquém do que costumamos ver por aí, lembrando até aqueles personagens “blocados” que costumamos ver em jogos de videogames. Isso, de forma alguma, tira a graça do longa. Pode assistir sem medo que a risada é garantida. Todo conto de fadas deveria ter uma continuação assim.