On An Island, como já era óbvio, tende a seguir o mesmo caminho dos dois últimos e distantes álbuns de estúdio do Floyd, (A Momentary Lapse Of Reason e The Division Bell). A diferença é que, sem medo de exageros, este soa muito mais coeso do que os anteriores, seja pela maturidade que David ostenta hoje, seja pelo enorme período sem apresentar trabalho algum inédito, seja pela ausência da pressão que qualquer obra com a marca Pink Floyd sempre carregará consigo ou mesmo pela união de todos estes fatores.
O fato é que On An Island é um álbum apaziguador e solto. Gilmour, que sempre possuiu uma voz melhor qualificada que a de seu ex-companheiro Roger Waters, está cantando melhor do que nunca. Suas linhas vocais mostram-se despretensiosas e alcançam um resultado final quase surpreendente. O gosto refinado e o porte consciente de um músico experiente, com anos de estrada, fazem a diferença num trabalho equilibrado como esse.
Além disso, Gilmour soube escalar nomes acima de qualquer suspeita, como Graham Nash, David Crosby e Guy Pratt, além de outros que contribuíram para uma execução primorosa e enxuta.
O álbum abre, como já seria previsível, com a instrumental Castellorizon, onde a característica e limpa guitarra de David já se apresenta. Ela desemboca na faixa título, prima distante de Us And Them, do mais do que clássico Dark Side Of The Moon. Com arranjos vocais esplendorosos (Crosby e Nash batem ponto nesta canção), já mostra o caminho que o trabalho irá seguir.
The Blue é a próxima e seu clima tranqüilo contrasta com a excelente Take A Breath, onde Gilmour toca a sua guitarra de forma mais agressiva. Take A Breath, para quem gosta de analogias, é quase uma fusão concisa de Learning To Fly com Take It Back. É uma canção forte e vibrante ao mesmo tempo.
Seguindo, a climática Red Sky At Night nos leva de volta, mais uma vez, ao Dark Side Of The Moon, e introduz o irretocável blues This Heaven, onde o talento de Gilmour e de toda a banda fica evidente.
A bela acústica Smile apresenta um David mais introspectivo, que em certos momentos até nos lembra Paul McCartney, em seu momento mais sereno e, ao mesmo tempo, inquisidor. Encerrando o álbum, salta aos ouvidos a linda voz de Gilmour em The Pocketful Of Stones e a despretensiosa e sagaz Where We Start.
Selando o pacote, literalmente, o álbum vem em um belíssimo digibook com capa dura e um encarte de muito bom gosto. O trabalho é um conjunto tão sincronizado, a ponto de, num futuro não muito distante, poder vir a ser objeto de orgulho no acervo de um bom apreciador de música, como eu ou você.
On An Island não é o álbum que os fãs do Pink Floyd esperam há décadas, mas o nível de qualidade a que David Gilmour conseguiu chegar o coloca, sem dúvida alguma, entre os principais lançamentos de 2006.